25a edição, 6 meses…

É impressionante como o tempo passa rápido, especialmente quando estamos fazendo algo agradável. Essa semana estamos escrevendo a 25a edição do Pílula Vermelha, seis meses depois de termos iniciado no dia 19 de Junho de 2022. Devo confessar que quando comecei a escrever os textos eu tinha um objetivo egoísta, estava pensando apenas em mim. Queria botar para fora algumas idéias que me incomodavam, me faziam ver o mundo diferente e as quais, queria que chegassem à outras pessoas para que elas pudessem também enxergar o mundo através dos meus olhos, com a minha visão de mundo, ou, de acordo com a minha realidade (guarde isso).

No início, a lógica que estava por trás de toda a motivação para escrever os textos era parecida com o que o Morpheus apresentou para o Neo no filme Matrix. Tudo começou com a idéia simples e pura da Pílula Vermelha. Com o passar do tempo a motivação foi mudando. Algumas semanas após começar a escrever encontrei amigos que foram comentando como estavam gostando dos textos, de como as provocações estavam ajudando eles, de que, de alguma maneira, os textos estavam fazendo com que refletissem sobre os diversos assuntos que eram tratados.

Certo dia um grande e velho (força de expressão) amigo me ligou dizendo o seguinte: “caboco, fico muito feliz por te ver feliz, parece que tu encontrastes mais uma paixão”. É isso, o tempo e o prazer de escrever os textos foram mudando, ou complementando o formato daquilo que eu sentia. O que começou como um desejo egoísta passou a ser algo prazeroso e que fazia sentido para várias pessoas. Passei a entender que, aparentemente, estava ajudando outras pessoas…

Ja trabalhei com várias coisas na vida. O mais incrível de tudo é que quase nunca desempenhei um trabalho formal dentro das minhas formações acadêmicas. Passei anos estudando Engenharia e entretanto nunca tive CREA. Comecei a trabalhar em vendas sem nunca de tido uma formação acadêmica na área. Mas talvez essa maneira maluca de como as coisas foram se construído na minha vida profissional tenham me dado uma visão de mundo particular, que eventualmente me ajudou em algo que fui desenvolvendo aos poucos, um certo entendimento das relações interpessoais.

Outra coisa que muito provavelmente influenciou o início do Pílula Vermelha foram os estudos em Psicologia. No inicio da pandemia li muito e vários textos passavam por Psicologia. Acabei tomando a decisão de iniciar uma faculdade nessa área por tudo que li naquela época. As aulas e estudos de algumas áreas da Psicologia foram aguçando aquele incômodo que comentei anteriormente. Mas foi um conceito em específico que me chamou muito a atenção e que influencia muitos dos textos do Pílula Vermelha, o CONTEXTO.

Contexto é o ambiente e as pessoas que nos cercam, nossa história de vida, isso tudo faz com que construamos nossa visão de mundo, definem muito da forma com que encaramos nossas realidades, como tratamos tudo ao nosso redor. Meu contexto é a minha realidade. Então sim, a realidade de cada um de nós é relativa, pois depende do contexto individual das pessoas. Uma coisa muito legal do contexto é que ele seta a base do que fazemos. Logo, o que passamos a fazer em função do nossa realidade individual, por consequência, define um novo contexto. É dinâmico, é evolutivo…

Hoje, 6 meses depois de ter começado, o Pílula Vermelha definiu meu novo contexto, uma nova realidade para mim. Um contexto que mexeu tanto comigo que me senti motivado a comemorar colocando no meu escritório um quadro que representa como tudo começou. Espero que o Pílula Vermelha esteja também ajudando a definir um novo contexto para seus leitores. Lembrem, nossa realidade depende do ambiente que nos cerca, das pessoas com quem convivemos. Se lemos algo novo, se uma nova pessoa entra em nosso ciclo de amizade, nosso contexto muda, nossa realidade muda.

Na 50a edição, daqui a mais 6 meses, quem sabe se desenha um novo contexto para todos nós… um contexto sempre melhor, mais saudável e feliz! Novas realidades!

Nossas explicações pós-fato…

Amanhã faz uma semana da eliminação da Seleção Brasileira de Futebol da Copa do Mundo do Qatar. Desde o apito indicando o final da partida começamos a ler, ou escutar em cada local que paramos, uma enxurrada de críticas, especialmente ao agora ex-técnico do time. Embora eu tenha também minhas considerações sobre o que aconteceu, quero usar a oportunidade para falar um pouco sobre o que se conhece como explicações pós-fato na Psicologia.

Bom, se pegarmos o fato, nós todos que analisamos a situação não possuímos as informações ao detalhe do contexto em que os jogadores e o técnico estavam inseridos. Sem saber das informações, fazemos alusões e construímos uma explicação em nossa cabeça baseada em uma série de fragmentos guardados em nossa memória ou, até mesmo, sentimentos que experimentados durante a partida. Esse processo é muito comum e geralmente nos faz julgar e concluir sobre aspectos que fogem da realidade.

Veja um outro exemplo, por diversas situações eu ouvi pessoas entrarem em um determinado ambiente e dizerem: “nossa, esse ambiente está carregado”. Aqui, estas pessoas estão querendo dizer que o ambiente está cheio de uma espécie de carga negativa. De novo, é o nosso cérebro montando uma explicação para uma reação inconsciente. Ao entrar nesses ambientes essas pessoas recebem as imagens dos rostos com expressões de preocupação dos indivíduos que se encontram lá. Essas imagens não são interpretadas da forma correta e passam a ser utilizadas pelo cérebro como algo que precisa ser explicado de algum jeito. Para essas pessoas, a maneira de explicar os rostos preocupados é dizendo que o ambiente está carregado.

Existem uma infinidade de exemplos do nosso cérebro agindo de forma inconsciente em relação a suas crenças para gerar explicações. Quando escutamos um barulho estranho e estamos sozinhos em nossas casas, racionalizamos que há um “espírito”, quando achamos que vemos uma imagem que cremos seja uma “alguém que veio do além”, etc. Essa racionalização vem muitas vezes do nosso contexto, da nossa criação, formação religiosa ou desejos guardados em algum lugar do cérebro. Segundo Michael Gazzaniga, isso normalmente é feito pelo lado esquerdo do cérebro, o qual tenta racionalizar o que está acontecendo em algo que faça sentido.

Mas não para aí, para complicar a situação, nossas memórias não são exatamente fieis em relação ao que achamos que conhecemos. A cada vez que recorremos à nossa memória para lembrar de algo, reinterpretamos fragmentos de imagens, conversas, textos, etc. Ou seja, a cada vez que lembramos de algo, a história muda. Muda de tal forma que, em muitas vezes, vamos reforçando nossas crenças e convicções. No final, a explicação pós-fato acaba por reforçar aquilo que carregamos de contexto, de visão de mundo ou história de vida.

Então é assim, na próxima vez que você ver uma pessoa pela primeira vez, procure duvidar daquela primeira impressão. Procure ter mais detalhes dela, de sua personalidade, de sua história. Evite aquelas situações de: “não fui com a cara desse fulano aí”. O Tite virou as costas e foi embora, foi feio, mas o que será que aconteceu para ele fazer isso? De repente um dia a gente saiba e mude nossa explicação do que aconteceu na sexta passada.

Qual o verdadeiro significado da vitória?

Vencer, estar no pódio em uma competição é bom, muito bom, mas não é o melhor. Melhor que estar no pódio é tudo que aconteceu ao longo do caminho. A forma com que fomos e somos criados nos faz colocar toda a ênfase do nosso esforço na vitória, no objetivo final. Com isso, esquecemos por completo de aproveitar tudo que ocorre no caminho até o objetivo. Sofremos com esse processo. O verdadeiro significado da vitória está no seu caminho.

Faz algumas semanas eu conversei muito com um grande amigo sobre o que sentimos após uma competição de esgrima. Até a chegada da competição passamos por um turbilhão de sensações. O maior pico dessas sensações está na hora da festa, da realização da competição, onde estamos com todos os hormônios e neurotransmissores circulando a todo vapor dentro dos nossos organismos. Mas uma vez que a competição termina e chegamos no nosso objetivo, vem um grande vazio. Nos sentimos como uma grande caixa vazia, oca, sem mais nada dentro.

Por que isso acontece? Acho que uma das razões está no fato de que estamos sempre olhando para o objetivo final. Estamos tão preocupados em chegar lá que não percebemos o que ocorre durante a jornada que estamos percorrendo. A melhor analogia para mim é a de uma pessoa andando numa bicicleta dentro de um túnel escuro, olhando só a luz da saída do túnel. Ao seu redor só tem escuridão, ela não consegue ver nada, só vê a luz do fim do túnel.

Veja o que acontece. Talvez a primeira vez em que somos ensinados a olhar os objetivos é na escola. E o que nos “forçam” a fazer na escola? Tirar notas altas o suficiente para passar. É o objetivo… Será que não deveriam nos ensinar algo diferente? Será que não deveriam nos ensinar a construir amizades, cultivar uma relação com pessoas? Será que não deveriam nos ensinar a nos organizarmos a manter um ambiente sempre limpo e preparado para o coletivo? Não deveriam nos ensinar a aplicar os conceitos ou a entender e  criticar aquilo que nos é ensinado?

Esse ciclo que nos é ensinado nas escolas vai se repetindo em cada uma das fases das nossas vidas até chegarmos à vida adulta, quando começamos a trabalhar. Nos trabalhos, mais objetivos… Mas, e o que acontece ao longo do caminho do trabalho? Nada, é um túnel escuro, só vemos a luz do objetivo que estamos buscando no fim. Na Psicologia esse tipo de motivação é chamada de Extrínseca, ou seja, dirigida por algo externo ao indivíduo. Por exemplo, um salário, uma comissão, etc.

Essa semana participei de uma competição veterana de esgrima super legal, o Esgrimaster. Consegui jogar bem e cheguei ao pódio. Fiquei feliz, mas aproveitei a oportunidade para fazer uma reflexão frente a conversas que tive com pessoas que conheci lá no torneio. Nessa reflexão, cheguei à conclusão de que o que acontece comigo é a chamada Motivação Intrínseca. Essa motivação é aquela que está dentro do indivíduo, que é feita por simples prazer, na busca de experimentar boas sensações.

Ao rever essas sensações que ia experimentando na jornada, lembrei dos pequenos passos que foram me fazendo seguir em frente. Passos como: as alegrias que tive com o grupo da Baldin Esgrima, os exercícios funcionais e malucos que fiz com o Daniel Puglisi, os pesos levantados e conversas sobre futebol com a galera da academia do CMSP, todas as pessoas com suas histórias maravilhosas que conheci ao longo da caminhada e que agora ficam como grandes amigos, as risadas, choros, medos e alívios que senti com a Thásia e o Pedro, etc. Eu fui aproveitando cada uma dessas etapas. Eu não estava olhando a vitória em um torneio, estava brincando, conhecendo, observando, sentindo. A cada dia eu estava me sentindo vivo!

Estar no pódio é como fazer uma venda importante no trabalho, como conseguir um diploma no estudo, entre diversos outros exemplos de conquistas. Mas melhor que cada uma dessas coisas é curtir o caminho! A analogia aqui é como estar andando de bicicleta em um campo aberto, com uma natureza incrível. Olhando, sentindo os aromas, a temperatura, sem uma luz no fim. Não tem fim, não precisa ter fim, porque o legal está no que é experimentado diariamente.

Curtir a caminhada, observar os arredores, sentir, VIVER… o destino é simplesmente a consequência de tudo que passamos!

Nunca é tarde para…

Essa é uma das maiores mentiras que nos é contada desde cedo e que segue sendo dita ao longo de nossas vidas. Uma verdadeira apologia a procrastinação. Ao sermos “ensinados” a ver a vida dessa forma, nos acomodamos, deixamos para resolver as melhorias que precisamos fazer no nosso comportamento quando for mais conveniente, se é que faremos alguma mudança.

Não entenda errado! Ficamos felizes em ver exemplos de pessoas que mudaram suas vidas no meio de uma situação complicada. Pessoas que começaram a fazer atividade física com o avançar da idade, pessoas que começaram a estudar mais tarde, etc… Nessas situações sempre dizemos: “antes tarde do que nunca” ou “nunca é tarde para…”. Aí é que está o erro! Deveríamos dizer: por que começou agora? Demorar para mudar deveria nos incomodar, não nos confortar.

Estamos trazendo essa discussão no formato da Pílula Vermelha porque vemos vários exemplos todos os dias de mudanças que demoraram muito para serem iniciadas. Pessoas que ficaram muito velhas ou debilitadas para mudar o estilo de vida e serem mais ativas, pessoas que demoraram muito para buscar ajuda quando problemas psicológicos começaram, pessoas que perderam a amizade de outras pessoas porque demoraram para se pôr em uma posição mais humilde e pedir desculpas (mesmo estando certas), etc.

A vida não espera, o tempo passa, passa muito rápido! Seria muito bom esquecer a confortável ideia de que nunca vai ser tarde para mudar, porque se demorar muito, sim, vai ser muito tarde! O que a crise da COVID nos mostrou em termos de prioridade para as nossas vidas já foi na maior parte esquecido. Cuidado com a nossa própria saúde já ficou para trás frente a toda a correria do nosso dia a dia.

Diante disso, vamos mudar o estilo reflexivo do artigo para um propositivo. Aqui três pequenos e humildes passos para um ponta pé inicial na mudança sem mais delongas:

Olhe para dentro: Faça uma pausa e tente se conhecer melhor. Busque em você os dois ou três pontos que estão lhe incomodando mais, que estão gerando sensações ruins de ansiedade ou desconforto. Duas ou três coisas que você diga: puxa, queria mudar isso…

Procure ajuda: Sempre que queremos mudar algo achamos que podemos fazer sozinhos. Não que seja impossível mudar sem a ajuda de ninguém, mas é muito mais fácil e durador quando temos apoio. Muitos de nós não valorizam profissionais como educadores físicos, nutricionistas, psicólogos, etc. Esses profissionais têm um papel fundamental na mudança.

Seja consistente: Um dos maiores erros quando queremos mudar é tentar fazer a mudança de uma só vez. Quer correr 10Km? Comece andando. Quer emagrecer 15Kg? Comece reduzindo uma fatia de pão. Começar a mudança aos poucos e ir obtendo os ganhos de forma cumulativa vai manter a motivação para seguir em frente com o processo.

Então diz o que você pensa depois de ter lido esse artigo… Vai seguir achando que não é tarde e empurrar a mudança para frente, ou começar um exercício de introspecção para entender o que é preciso mudar hoje? Se ainda não estiver convencido, aqui uma proposta: olhe ao seu redor, busque exemplos e veja se não vai encontrar muito mais exemplos de pessoas que estão atrasadas na mudança do que pessoas que já iniciaram o processo. Pense também sobre estes exemplos. Depois se pergunta: qual o grupo em que quero estar?

Saindo de si…

Sabe aquela sensação de: já acabou? Normalmente sentimos isso quando estamos fazendo coisas que gostamos muito. Ficamos tão inseridos na atividade que perdemos a consciência do tempo e de tudo que está ao nosso redor. Consciência, essa é a palavra-chave nesse artigo. E sobre isso que vamos conversar aqui.

Pare para pensar um pouco nas conversas que você tem com outras pessoas e tente ver em quantas dessas conversas as pessoas estão reclamando da vida. Tente pegar aquelas situações extremas em que elas dizem: queria sumir por um tempo! Vamos olhar estas situações nos próximos parágrafos.

As pessoas que se encontram em situações de estresse recorrente, que passam por momentos de pressão em suas vidas profissionais e pessoais podem, com certa frequência, se encontrar na situação de que gostaria de se afastar de tudo por um tempo como um mecanismo de defesa, de fuga do contexto em que ela se encontra. Estas pessoas pensam dessa forma porque estão muito conscientes do mundo que vivem. Estão atentas a tudo ao seu redor e em um estado de atenção que permita responder imediatamente a qualquer situação que represente um risco para sua segurança, pessoal ou profissional. A inserção nesse contexto por grandes períodos de tempo é que gera esse desejo de fuga.

Mas como resolver esse tipo de situação? Você pode estar se dizendo: não tenho como mudar de emprego ou de contexto familiar. Sim, a maioria de nós não pode mudar de tal sorte a se afastar em definitivo de tais situações estressantes. Mas existem alguns mecanismos que podemos lançar mão para nos ajudar a atenuar tal pressão. Uma das respostas para isso está no título do artigo: saindo de si.

Quando estudei sobre consciência, percebi que consciência é um estado mental proposital. Optamos por estar conscientes de várias coisas ao nosso redor. Existem várias engrenagens em nossos cérebros que ativam esse estado mental de consciência. Uma vez que ativamos esse estado, desligá-lo fica difícil. Difícil, mas longe de ser impossível  Algumas pessoas recorrem a certas drogas nessa busca. O uso do álcool, por exemplo, é uma ferramenta para desligar a consciência, pelo menos por um tempo. Mas aqui queremos falar de outras abordagens muito melhores e, certamente, mais saudáveis.

Em alguns artigos passados falamos de um psicólogo chamado Mihaly Csikszentmihalyi e de um negócio que ele chama de Flow. Aquela sensação que descrevemos no início do artigo é característico de um estado de Flow. Em Flow nós conseguimos desligar a nossa consciência, deixamos de perceber os estímulos ao nosso redor e esquecemos dos problemas porque ficamos imersos em uma determinada atividade. Existem várias formas para entrarmos em Flow: fazer uma atividade física prazeirosa; ler um livro ou assistir um filme interessante; conhecer e conversar com uma pessoa interessante; etc.

Então, da próxima vez que conhecer alguém que queira sumir por um tempo (isso se aplica a você também), converse com ele sobre a ideia de, ao invés de sumir, inserir atividades que permitam a ele entrar em Flow de forma recorrente. Sumir não vai resolver os problemas. Problemas são parte natural da nossa vida cotidiana, vamos precisar conviver com eles. Mas não precisamos pensar neles 24 x 7, podemos desligar nossas consciências duas, três, cinco vezes por semana. Podemos sair de si, re-energizar e voltar fortes para enfrentar os problemas de frente.

Sensações…

Hoje joguei meu primeiro Campeonato Brasileiro de Esgrima Veterano. Nesse campeonato eu procurei observar as sensações que experimentei antes, durante e depois do campeonato. Sendo o meu terceiro campeonato, queria entender como estas sensações afetam meu desempenho no esporte e, principalmente, na vida.

Bom, vamos lá, antes do jogo, especialmente na noite anterior, experimentei muito frio na barriga, aquele frio de ansiedade que é típico de uma situação desconfortável que estamos próximos a passar. Por conta desse nervosismo, demorei muito para dormir. Rodei de um lado para outro na cama por mais de 30 minutos. O sono foi leve, despertei várias vezes durante a noite. Acordei mais cedo que o esperado. Normalmente em situações de nervosismo eu não consigo comer, mas durante a manhã consegui tomar um bom café. Fui para o ginásio e comecei a aquecer mais cedo para tentar baixar o nervosismo. O aquecimento rolou super bem, coração chegou a 140 bpm sem problemas como em exercícios cotidianos aeróbicos.

Durante a prova foi interessante. No primeiro jogo o nervosismo estava muito alto, muita ansiedade e coração palpitando forte. Um pouco de tremedeira nas pernas e nas mãos. Notava que essa tremedeira atrapalhava meu jogo. Me sentia travado, sem que pudesse executar os movimentos da forma correta. Percebi claramente que perdi pontos por conta dessa instabilidade, o que me fez pensar mais na limitação e ficar ainda mais nervoso. Esse padrão se manteve nos dois primeiros jogos de grupo. No jogo eliminatório, meu primeiro tempo foi ainda mais nervoso. A sensação de ansiedade era muito forte. Alguns pontos eu sequer me lembro dos movimentos realizados. Ao sentar no intervalo, ouvi as instruções do Baldin. Algumas entraram na minha cabeça, mas acho que a maioria não. Comecei o segundo tempo mais lento, tentando observar melhor o jogo. Fui bem melhor. Os pontos foram saindo e fui me acalmando mais. Notei bem mais as jogadas e pude inclusive questionar o árbitro em alguns pontos. Parei em alguns momentos para respirar, isso me ajudou muito. No último ponto um movimento incorreto, finalmente sentia que o movimento era consciente. Um pouco tarde para obter consciência de tudo, fim de campeonato 😬

Após o fim um grande vazio. Nesse momento a amígdala deve ter reduzido a atividade e as glândulas responsáveis pela produção de noradrenalina e cortisol finalmente relaxaram. As conexões neurais possivelmente entraram em inibição, sistema simpático foi dando espaço ao parassimpático e o córtex frontal foi tomando controle de tudo. Ainda não conseguia relaxar, mas ia tentando entender um pouco melhor tudo que tinha acontecido. Aos poucos ia lembrando do que conseguia. De qualquer forma, a dopamina gerada pelos bons pontos que fiz no final do último jogo começava a esvaziar e parecia dar uma sensação de leve depressão. Já acabou? Sim, tudo muito intenso, mas muito produtivo. De novo me senti vivo, muito vivo. Com muita reflexão vou aprendendo e entendendo aos poucos as maravilhas desse esporte. Aos poucos vou conhecendo meu corpo melhor, como reajo as situações. Aos poucos vou tentando resolver os desafios que minha mente me coloca. E a cada experiência desse tipo, agradeço à Deus pela minha passagem aqui.

O saldo, além de me aprofundar no autoconhecimento, a qual considero uma das maiores ferramentas que temos para nos tornarmos melhores, foi ter conhecido pessoas novas. Pessoas incríveis, divertidas e interessantes. Espero ter feito novos amigos, amigos que completem a minha vida como os amigos da Baldin Esgrima.

Obrigado Pedro por ter me apresentado à Esgrima e ao Sabre como arma de jogo. Obrigado Thásia por sempre estar do meu lado e me aguentar nos meus momentos mais estressados! Amo vocês!

A vida que não controlamos e suas consequências: o loop da realidade

Temos o péssimo hábito de achar que podemos controlar tudo em nossas vidas. Fico tentando identificar de onde vem essa forma de encarar o nosso dia a dia. Talvez seja algo relacionado a nossa criação, a nossa educação. Somos ensinados a pensar que se estudamos, sempre tiramos notas boas; se praticamos, sempre fazemos melhor; se somos boas crianças, sempre ganharemos presentes; se somos bons, vamos para o céu  Desde cedo aprendemos uma certa relação de consequência positiva para as coisas “boas” que fazemos. Bom, isso está errado!

Ao crescermos vamos sentindo na pele que o que aprendemos estava totalmente errado. Que o que acontece com a gente não depende SÓ da gente. Fazer o que precisamos fazer para sermos melhores aumentam nossas chances de sucesso significativamente, mas não garantem que vamos ter sempre sucesso em tudo. Mesmo fazendo de tudo para ser os melhores, precisamos estar em paz com os nossos fracassos, com as nossas derrotas. Se não conseguirmos entender que não temos o controle de tudo ao nosso redor, corremos o risco de travar no que chamo de loop da realidade.

Meu filho me deu uma lição sobre isso na semana passada.  Ele participou do campeonato Sul-Americano de Esgrima na Bolívia. Ele não fez um bom campeonato, mas em duas partidas ele acabou perdendo porque os árbitros inverteram alguns pontos. Essa inversão de pontos disparou nele o loop da realidade. Basicamente, por ter perdido as partidas por erro dos árbitros ele travou na mente que seu campeonato estava acabado, que aquilo acabaria com o restante do torneio e que o colocaria em chaves mais difíceis. Após perder, passou a questionar se valia realmente a pena seguir treinando e jogando, que não merecia estar na seleção Brasileira, etc…

Passar por isso foi ótimo para ele porque finalmente pode aprender que ele não possui o controle de tudo na vida dele. Mesmo fazendo tudo certo, ele vai encontrar frustrações na vida pela ação de outra pessoa que tem o poder (naquele momento) de criar tal situação de derrota. Ele começou a entender isso. Mas Eu, que fiz questão de deixar claro para ele a situação e que o que ele estava experimentando é a mais pura realidade do nosso dia a dia, não aprendi…

No mesmo dia eu fiz uma prova. Tinha certeza absoluta de duas questões. Com o suporte da teoria descrita no livro, marquei as alternativas que, posteriormente descobri que estavam erradas. Sob a perspectiva do avaliador, eu errei as questões. Assim como aconteceu com o meu filho na competição, o avaliador da minha prova tinha o poder para determinar que o que fiz estava errado e não me deu a questão. Mesmo tendo conversado com o meu filho um pouco mais cedo sobre o mesmo problema eu também caí no loop da realidade naquele dia, junto com alguns amigos da turma.

O loop da realidade é, provavelmente, algo em que nos pegamos enfrentando todos os dias. Por melhor que sejamos, sempre vão ter situações fora do nosso controle. É importante termos a maturidade de aceitar que não controlamos todos os aspectos das nossas vidas. Deveríamos ser ensinados sobre isso desde cedo, nos faria pessoas melhores. Sou adepto da ideia de que precisamos sempre nos construir pessoas melhores pelo estudo e prática de tudo o que nos propomos a fazer. Vamos sempre conseguir coisas boas com estudo e prática, mas também precisamos ter MUITO claro que nem tudo vai dar certo. Isso significa que erramos, que devemos parar? Não, pelo contrário! Significa que a vida possui uma zona fora do nosso controle. Ter a maturidade para aceitar isso nos coloca em uma posição melhor, evita que caiamos no loop da realidade e nos faz levantar mais rapidamente para seguir avançando.

Ser grato por tudo, será mesmo?

Ultimamente eu tenho visto muita postagem de textos e vídeos curtos com essa ideia da gratidão, de ser sempre grato pelas coisas boas que acontecem em nossas vidas. As pessoas que colocam isso defendem que a gratidão nos traz mais felicidade. Eu não estou convencido disso e talvez você que está lendo esse artigo também não esteja. Vamos conversar um pouco sobre isso…

Nós temos um mecanismo em nosso cérebro que chamamos de percepção. Sendo muito objetivo em relação à percepção, basicamente notamos as coisas que estamos focando a nossa atenção. Existem vários estudos sobre isso e se trata de algo consolidado na Psicologia. Vocês podem conhecer mais sobre isso procurando sobre o experimento do Gorila Invisível. Esse experimento demonstra bem essa simplificação que acabei de colocar.

Bom, acontece que quando estamos focados em agradecer por tudo, deixamos de perceber as outras coisas ao nosso redor. É por esse mecanismo que a gratidão vai gerar boas sensações na gente, sensações estas que chamamos de felicidade. Mas ao impor esse foco na gratidão das coisas boas, deixamos de olhar para coisas igualmente importantes que nos fazem crescer. São situações duras da vida que despertam sensações ruins associadas à infelicidade, mas que nos servem de motor para melhorar. Ao focar na gratidão, de forma constante, criamos um movimento de “cegueira”, que me parece perigoso a longo prazo, porque não trabalha a causa raiz do problema.

Um parêntese, essa lógica da gratidão é a mesma usada por diversas religiões. A gratidão faz parte das ideias centrais de religiões como o Cristianismo. O interessante disso tudo é que provavelmente parte das pessoas que defendem a gratidão como forma de chegar à felicidade não são religiosas e até mesmo criticam de forma dura as religiões que usam da mesma argumentação.

OK, mas se não devo ser grato por tudo, o que devo fazer? Qual a causa raiz das minhas angústias? Infelizmente não há resposta simples para isso. Ser grato é o jeito simples e o que vai lhe deixar cedo no longo prazo. Entender a causa raiz dos problemas que geram sensações ruins passa por várias coisas. Uma destas coisas, e que acho bem interessante, é o que alguns Psicólogos chamam de Satisfaction Treadmill (Esteira da Satisfação). A analogia aqui é a seguinte: você vai na academia se exercitar na esteira. Começa caminhando e vai acelerando até estar correndo. Não importa a velocidade, você nunca sai do lugar.

Veja, estamos sempre na busca da satisfação com algo que vemos na frente, mas sempre que chegamos a esse ponto rapidamente ficamos insatisfeitos e buscamos mais. Se estamos sempre nessa busca ficar agradecendo resolve? Claro que não, o problema é a busca desenfreada por algo novo, sempre. A gente realmente precisa ficar nessa busca por algo novo, temos sempre que estar na esteira da satisfação? Olhe para si próprio e responda a essa pergunta. Não temos que agradecer, temos que estar em paz com o que conseguimos. Aproveitar as sensações boas do que já “tocamos”.  Especialmente das pessoas que nos cercam e momentos que vivemos. Carpe Diem!

Qual seu maior medo?

É interessante quando paramos para analisar os desafios que a vida nos coloca. Sempre que nos é colocado algo novo ficamos com aquela sensação de frio na barriga, de ansiedade, de dúvida sobre o que vai acontecer. Estas sensações estão provavelmente associadas ao que conhecemos com o medo. O medo é um construto que nós humanos criamos. Ele ajuda a dar sentido às nossas vidas, mas ao mesmo tempo é tão abstrato que muitas vezes não sabemos por que sentimos medo.

Refletindo um pouco sobre isso, na tentativa de reduzir a abstração desse sentimento, cheguei à conclusão de que existem três tipos de medo: o de fracassar; o de que outros vão pensar e; o medo da perda. Vamos falar de cada um deles e entender um pouco como eles nos afetam, movimentam as nossas vidas ou, de certa forma, nos dão propósito.

Medo de fracassar: quantas vezes você já quis fazer uma coisa na sua vida, mas congelou e se disse “deixa pra lá, não vou conseguir”? A sensação de fracasso é muito pesada para várias pessoas, tão pesada que faz com o que deixemos de seguir em frente com parte de nossos sonhos e desejos. A origem desse sentimento está no fato de que normalmente quando fracassamos, fracassamos para alguém. Exemplo: tentei um emprego novo mas não deu certo, fracassei com o meu filho, vou ter que tirar ele da escola agora.

Medo de o que os outros vão pensar: essa forma de medo vem das nossas criações de origem Europeia. Quando lá atrás a sociedade começou a impor costumes, normas sociais, etc. ficamos presos a determinadas maneiras de agir e nos comportarmos. Este formato de comportamento social está mais preocupado com o outro do que conosco e a consequência disso é que passamos a fazer muito em função do que os outros vão pensar da gente. Exemplo: estou com algo me incomodando no nariz, mas não vou meter meu dedo porque vão pensar que não tenho educação.

Medo da perda: esse talvez seja o pai de todos os medos, a perda. Existem muitos estudos na área da Psicologia que mostram que uma vez que temos algo, nos apegamos a essa coisa, não queremos perder. Não queremos perder o que conquistamos na vida, principalmente as pessoas que apareceram e nos são mais próximas. Quem nunca chorou com medo de perder um dos pais, um namorado ou um amigo. O medo da perda é muito forte, especialmente a da perda de uma pessoa. O bacana é que com esse medo, temos o incentivo que precisamos para aproveitar a passagem dessas pessoas nas nossas vidas o máximo possível.

Mas, por que entender os medos que sentimos? Não devemos nos sentir paralisados pelo medo. Normalmente, travamos quando sentimos medo, buscamos algum mecanismo contra ele para nos proteger das sensações desconfortáveis que ele gera. E se olharmos para o medo de uma forma diferente, como algo bom? E se pensarmos que o medo pode nos ajudar a melhorar, a buscar o aperfeiçoamento para evitar o fracasso, a conversar e entender as outras pessoas ao invés de imaginar o que passa na cabeça delas sobre a gente, a curtir tudo e as pessoas ao nosso redor entendendo que tudo é passageiro mas que aproveitamos sempre ao máximo os que estiveram ao nosso redor?

O medo pode nos tornar melhores. Se nos aproveitamos do medo para melhorar, podemos olhar pra trás e dizer: eu fiz tudo que podia, aproveitei o quanto podia. Quando eu sinto medo eu simplesmente faço o que precisa ser feito, não há outra alternativa. Desistir não faz o medo ir embora. Ao invés de desistir, se agarrar ao medo e perguntar o que ele quer de você pode ser sua melhor escolha.

OK, vamos jogar… Mas vai ser nos meus termos!

Tenho refletido muito sobre isso ultimamente. Embora tenha lido muito sobre isso em diversos livros de Vendas e Negociação, acho que esse estalo disparou mesmo depois que comecei a jogar Sabre, na Esgrima. No Sabre, toda a movimentação do jogo se dá por conta da prioridade. Quem ganha a prioridade pode atacar e marcar o ponto. E quem se defende está buscando uma forma de retornar a prioridade para poder marcar o ponto. Essa busca de prioridade é, em última instância, a definição dos termos. Eu jogo, mas vamos jogar nos meus termos, ou seja, comigo definindo quem vai ter a prioridade.

Embora a esse processo de ganho de prioridade no Sabre seja difícil, na vida real a complexidade é muito maior. Definir como você vai jogar o jogo da vida, se vai ser feito dentro dos seus termos, é mais demorado e, na grande maioria das vezes, não o fazemos de forma intencional. Não definir os termos do jogo na vida real de forma deliberada talvez seja um dos nossos grandes erros quando tocamos nossas atividades. Isso significa que estamos sempre agindo de maneira reativa, instintiva, não estamos pensando nas condições de contorno e não favorecemos as nossas possibilidades de vitória.

Vamos analisar juntos o exemplo de um arquiteto. Um cliente chega até ele e pede um projeto para reformar a casa dele. Normalmente um arquiteto procura entender o que o cliente gostaria de ter dentro do projeto, ou seja, procura entender os requisitos necessários para que ele possa fazer o trabalho dele que é o projeto. Entender estes requisitos é super necessário, mas falta algo. Para trazer essa conversa para os seus termos é preciso entender o PORQUÊ da reforma. O que está por trás do desejo do cliente: o cliente quer reformar para vender; quer reformar para receber amigos nos fins de semana; etc. Ao entender o PORQUÊ, você começa a trazer para os seus termos e toda a conversa vai girar ao redor disso. Algo do tipo: essa parte da sala fica assim porque você vai ter mais conforto e possibilitar conversas mais agradáveis quando receber seus amigos.

Um outro exemplo que acho super legal aconteceu com a minha esposa. Na retomada pós pandemia os aeroportos ficaram um caos, tudo muito difícil de conseguir. No nosso voo, eu, ela e nosso filho estávamos em locais totalmente separados. Ela precisava colocar todo mundo junto, era o objetivo dela. Os funcionários da empresa estavam loucos com tanta gente reclamando. Se ela fosse até eles da mesma maneira que as outras pessoas, seria mais uma reclamando de forma estúpida. Ao invés disso ela trouxe a conversa para os termos dela. Primeiro ela olhou o nome da pessoa no crachá dela e disse: “fulana, sinto muito por essa confusão toda, imagino pelo que você esteja passando e não gostaria de estar trazendo mais um problema para você”. A funcionária parou, olhou para a minha esposa e disse: “puxa, como posso lhe ajudar?”. 

Todos nós ficamos particularmente atraídos por algo quando entramos em um terreno em que temos um envolvimento sentimental. Passamos a jogar no terreno do adversário quando abrimos esses sentimentos para eles. Da mesma forma, atraímos para o nosso terreno quando entendemos o que tem valor sentimental para o outro. Eu sempre digo para time de vendas com que trabalho o seguinte: procure saber qual o interesse pessoal das pessoas envolvidas na decisão. É mais forte que qualquer outro motivo.

Ganhar a prioridade na vida, jogar dentro dos seus termos, passa então por se interessar legitimamente pelo que importa para as pessoas. O legal disso é que você não está somente maximizando suas chances de sucesso, você está contribuindo para as pessoas da forma mais valiosa possível. Jogar nos seus termos não precisa ser algo ruim para as outras pessoas, pelo contrário. Eu arrisco a dizer que isso se aplica a quase tudo na vida, principalmente se considerarmos que estamos sempre envolvidos em relações pessoais quando buscamos algo para a gente.

Você pode estar se perguntando, na Esgrima sempre ganhamos prioridade. Não, muitas vezes não ganhamos prioridade. Mas toda a vez que o arbitro fala: “em guarda, prontos, combate”, na minha cabeça tem um movimento para tentar ganhar essa prioridade, trazer o jogo para os meus termos. Essa é a lógica para a vida. Se eu quero algo, preciso ser intencional em trazer o jogo para os meus termos.