Cachorros Pavlovianos

Ivan Pavlov foi um fisiologista Russo que é mais conhecido por suas contribuições à psicologia e à compreensão do comportamento animal. Ele é especialmente famoso por ter descoberto o reflexo condicionado, um processo pelo qual um estímulo inicialmente neutro se torna associado a um estímulo incondicionado e, eventualmente, começa a evocar uma resposta automática por si só. Pavlov realizou uma série de experimentos com cães, nos quais apresentava um estímulo condicionado (como um sino) antes de oferecer comida aos cães (estímulo incondicionado). Com o tempo, os cães passaram a salivar em resposta ao sino sozinho, mesmo quando não havia comida presente (resposta automática). Essa descoberta revolucionou a compreensão da psicologia comportamental, e a ideia de que os comportamentos podem ser aprendidos e modificados por meio de estímulos condicionados tornou-se uma pedra angular da área da Psicologia chamada de Análise do Comportamento.

Essa introdução escrita pelo ChatGPT com alguns pequenos ajustes feitos por mim dá o contexto para a provocação deste artigo, que somos todos cachorros Pavlovianos. Tivemos diversos de nossos comportamentos condicionados de forma que ao recebermos determinados estímulos acabamos por realizar tarefas ou atividades de forma automática. A mais clara e latente em nosso dia-a-dia hoje são as notificações em nossos celulares. Sempre que ouvimos, vemos e até sentimos a vibração de uma notificação em nossos celulares paramos o que estamos fazendo para irmos, como um bom cachorrinho, até eles salivando por um biscoito. Muitas vezes a salivação é a toa porque não vemos nada o que nos interessa nas notificações, gerando frustrações.

Mas ser um cachorro Pavloviano é apenas o início da nossa jornada nos diversos tipos de condicionamentos que somos submetidos nos dias de hoje. Deixa eu lhes contar de um experimento feitos com ratos, sim, você agora vai ser um rato. Esses ratos eram colocados com fome em uma caixa. Nessa caixa, inicialmente, havia uma pequena alavanca. Após explorar o ambiente, o rato pressiona a alavanca e eis que cai uma pequena quantidade de comida. Com um tempo, o rato aprende que ao apertar a alavanca, ele recebe comida. Mas o experimento não para aí, agora o rato com fome é colocado em uma caixa com duas alavancas. Uma delas, ao ser pressionada, entrega comida e a outra gera um choque elétrico no piso da caixa. Com um tempo o rato aprende qual alavanca que dá comida e qual a que gera o choque.

Até aqui, tudo bem, certo? Esse experimento, realizado pelo psicólogo Americano B.F. Skinner demonstra o processo de condicionamento do comportamento por reforço e punição. O experimento realizado em ratos, dentro da chamada caixa de Skinner, funciona para ratos e humanos. A descrição do comportamento do rato pode ser equivalente a nossa quando aprendemos a nos relacionar com certas pessoas, por exemplo. Com um tempo, sabemos que apertar certos botões em algumas pessoas geram alegria na gente. Da mesma forma, aprendemos que mexer com outros botões fazem com que as mesmas pessoas dêem choque. Logo, condicionamos o nosso comportamento, ou melhor, estas pessoas condicionam o nosso comportamento na presença delas.

Para finalizar, vamos deixar o papo mais interessante. Vamos imaginar que o nosso rato foi colocado numa caixa de Skinner com duas alavancas. Se ele apertar a alavanca 1, acende uma luz. Se ele apertar a alavanca 2, gera um choque. Mas se ele apertar a alavanca 1 e depois a 2, acende a luz, é liberado comida mas em seguida é dado um choque. Adivinhem o que vai acontecer com você, ratinho? Sim, você vai aprender a pressionar as alavanca 1 e depois a 2. Você não faz idéia do porque acende a luz, quer a comida. Vai ficar sim incomodado com o choque, mas depois de um tempo, vai realizar a sequencia tantas vezes que corre o risco de morrer pelo choque para receber a comida, sem saber para que diabo serve a luz.

Meus amigos, na década de 30, quando estes experimentos foram realizados, Skinner estava demonstrando o ambiente de trabalho da maior parte das pessoas hoje no mundo. Fomos condicionados desde muito tempo a pressionar diversas barras, não fazemos a mais louca idéia do porque algumas luzes se acendem, queremos a comida, mesmo que o choque nos incomode. Com um tempo, passamos a pressionar as barras tantas vezes seguidas para obter mais comida sem levar em conta que o choque pode nos matar (algumas vezes, sim, acaba matado).

A conclusão é óbvia: somos cachorros Pavlovianos, somos ratos Skinnerianos.

“Prometo olhar primeiro dentro …”

Faz algumas semanas eu tive a feliz oportunidade de participar de um casamento muito interessante. A noiva e o noivo eram de culturas super diferentes, com personalidades distintas. A dinâmica do casamento foi incrível, não havia Padre nem religiões envolvidas. Tudo foi ao redor dos noivos. Foram lidos textos belíssimos sobre a relação entre duas pessoas, valores que são a base para a construção de um alicerce sólido na relação entre casais. A história deles foi também recontada por um dos primos do noivo e todos os envolvidos puderam conhecê-los um pouquinho melhor.

Após a leitura desses textos, foram feitos os votos entre os noivos. Foram votos incríveis, lindos. Reflexões que fazem muito sentido, de respeito e amor entre um casal que aparentam ter uma alma iluminada. Mas de tudo o que foi lido e falado durante a cerimônia, algo me chamou muita atenção. Uma frase dita pela noiva ao noivo. Foi algo mais ou menos assim: “em nossas discussões, prometo olhar primeiro para dentro de mim”. Eu interpretei aquela frase como se ela estivesse propondo que em qualquer desavença entre o casal, ela iria buscar primeiro internamente se o erro não estava do lado dela.

Achei aquela frase, aquele voto, algo de uma grandeza sem tamanho. Em uma sociedade em que normalmente apontamos dedos uns para os outros buscando culpados por todas as situações em que nos encontramos nas diversas esferas de nossas vidas, ver alguém que se proponha a olhar primeiramente para dentro de si, avaliando seu comportamento antes de apontar culpados, é sem dúvida algo muito incomum. Eu mesmo vou me observar mais a este respeito para entender qual o meu comportamento padrão, por assim dizer.

Depois de ter presenciado falas tão belas e a proposição da noiva por olhar para si mesma antes discutir o comportamento dos outros, me dediquei a estudar um pouco mais sobre algumas teorias da personalidade para ter um mínimo de entendimento sobre as diferenças entre as pessoas quanto ao comportamento de normalmente apontar culpados. Vi na teoria de Carl Rogers alguns componentes que podem nos ajudar a entender melhor e, até mesmo, nos ajudar a refletir para entender se não podemos nos aproximar mais do comportamento da noiva.

Existem dois conceitos na teoria do Rogers que podem nos ajudar nessa discussão. Primeiro é o conceito de Autoatualização, que se caracteriza pela formação do Eu de cada um de nós diante das experiências de vida que vamos obtendo durante nossas jornadas. Esse conceito é muito forte porque estabelece que cada um de nós somos, em essência, diferentes, dado que é impossível que tenhamos experiências de vida absolutamente iguais uns aos outros. Logo, o Eu de cada um de nós é mutável e vai se adaptando de acordo com o nosso processo de envelhecimento.

O segundo é o conceito de Consciência. Para o Rogers, basicamente, a consciência nada mais é do que o processo de confrontamento da experiência que estamos vivenciando hoje com o nosso Eu construído (ou Autoatualizado). Isso significa que, dependendo do contexto em que estamos vivenciando uma experiência, podemos interpretá-la de formas diferentes de acordo com o Eu construído. Sei, é complicado, tive que ler isso várias vezes para ter uma interpretação. Então deixa eu dar um exemplo.

Vamos supor que você tenha vivido em dois ambientes. Sua casa, muito segura, onde sempre ouve diálogo e compreensão com as pessoas que vivem ali. E seus distintos ambientes de trabalho, sempre hostis onde você sempre ficou inseguro e nunca conseguiu discutir abertamente um assunto. Seu Eu foi Autoatualizando e sendo retroalimentado por estes dois contextos. Tendo sido formado nestes contextos você pode desenvolver dois comportamentos diferentes quando há uma situação de confrontamento.

No seu trabalho, neste tipo de situação, você vai sempre ficar na defensiva. Vai normalmente buscar se proteger e não vai se apresentar de forma aberta para discutir o problema. Vai, possivelmente, reagir apontando dedos, buscando culpados. Já em casa, você vai se abrir, ali você conhece as pessoas, sabe que está seguro e pode ter uma conversa franca, pode inclusive olhar para dentro e dizer: “tenho culpa, meu comportamento foi inadequado”.

Então é assim, se olharmos a fala da noiva sob o olhar do Carl Rogers, podemos inferir que ela foi criada em um ambiente seguro, onde teve a chance de se manifestar e ser escutada. Foi, possivelmente, muito compreendida durante sua vida toda. Isso explicaria sua tranquilidade em buscar primeiramente avaliar seu próprio comportamento. Mas, e nós? E nossos filhos? Qual será o contexto de vida que estamos proporcionando a Autoatualização do Eu deles?

“Tenho minhas porcelanas”

Faz mais de 20 anos eu me mudei de Belém para São Paulo. Alguns anos depois, um dos meus irmão também foi para outra cidade. Nesse período, perdemos o nosso Pai, nossa Mãe ficou viúva. Hoje ela segue vivendo em Belém com nosso irmão mais novo. Quis dar esse preambulo para que possam entender o contexto da história que vem a seguir.

Hoje minha Mãe me mandou uma mensagem dizendo que estava com muita saudade da gente e que queria falar conosco. Liguei para ela e na nossa conversa tentei entender melhor o que ela estava sentindo. Lá pelas tantas eu perguntei: “Por que você não vem morar aqui em São Paulo? Largue tudo aí, pegue o Tico (nosso irmão mais novo) e venha! Você não tem nada que lhe prenda aí!”. Ela me disse que já havia pensado nisso mas que não era tão simples sair e deixar tudo. Ela me disse: “Tenho minhas porcelanas”.

Depois que escutei isso a minha cabeça travou… “como é que é?”, pensei! Conversamos um bocado sobre essa sensação dela de estar presa as suas porcelanas e outras coisas mais. Resolvi então perguntar qual havia sido a última vez que ela tinha usado essas tais porcelanas. “Na sua primeira comunhão”, me disse ela. Eu tenho 46 anos, isso significa que ela usou as tais porcelanas pela última vez faz mais ou menos 30 anos…

Bom, conversamos muito sobre isso. Vamos seguir conversando e tentar chegar a uma conclusão na vinda dela aqui em Abril para a competição Nacional do Pedro. Falei isso tudo para refletir com vocês um pouco sobre essa coisa que temos de nos prender ao material, de nos prendermos de tal forma que deixamos de viver e de fazer coisas que queremos pelas tais “porcelanas” que cada um de nós carregamos, mesmo que não usadas a muito tempo.

Essa história com minha mãe me lembrou de muitas outras. De pessoas que carregam coisas inacabadas. O material sempre aparece. Por exemplo, conheço outra família que tem uma casa fechada que está literalmente apodrecendo com tudo dentro. A casa fechada deixa de gerar riqueza para essa família, riqueza essa que poderia ser transformada em um bem maior para outras pessoas necessitadas. Assim como acontece com a porcelana da minha mãe, o que se encontra na casa dessa família também não tem uso. Está lá fechado a tanto tempo que ninguém dá mais falta.

Assim como acontece na casa dessa família, também ocorre dentro dos nossos armários, dentro de nossas casas, etc… somos acumuladores de coisas que nos seguram, que nos impedem de viver o nosso potencial, nossa felicidade total! Minha cabeça começou a mudar em relação a isso na época da pandemia, quando li o livro Essencialismo do Greg McKeown.

Mas, se o material que guardamos sem sentido aparece, não ocorre o mesmo com o espiritual, com o emocional. Guardamos com a gente sentimentos e emoções que carregamos todos os dias, coisas que nos fazem mal sempre que pensamos nelas. Dentro da gente, também temos “porcelanas” empoeiradas que ficam nos remoendo e impedindo que nos mudemos para o lado das pessoas quem queremos conviver, das sensações boas que queremos aproveitar.

Esse exercício de viver com o essencial, do material até os sentimentos, é algo que tento exercitar diariamente. Faz três anos, quando mudei de trabalho, prometi a mim mesmo que nunca mais me apegaria à empresa, ao produto ou trabalho. Isso deu certo porque me permitiu focar no que era essencial para o meu sucesso profissional. Nesse caso, se tratava de focar nos objetivos, fazendo o que precisava ser feito e liberando meu tempo para coisas mais importantes em minha vida: saúde (física e emocional), família e amigos.

Tenho várias histórias de “porcelanas” empoeiradas em prateleiras que deixei de lado, são ilustrativas para algo importante que é refletir sobre o que queremos e o que nos segura: Eu preciso mesmo disso? Isso está me atrapalhando de fazer o que realmente quero? Eu preciso carregar esse sentimento comigo? Por que não deixo essa “porcelana” de lado e vou lá abraçar quem eu gosto?

Uma parte importante da ansiedade que sentimos em nosso dia a dia está nas “porcelanas” desnecessárias que carregamos com a gente!

Ladrão de almas…

Início de Janeiro de 2023, retomamos os treinos de Esgrima, Pedro e Eu. Estávamos todos bem relaxados depois de um largo período de férias. Jogamos algumas partidas iniciais e, na última partida, o Pedro entra em pista com outro aluno da academia. Os dois são grandes amigos dentro e fora da academia, mas quando estão em pista, as vezes as coisas não saem bem.

A partida era de 15 pontos, o jogo estava bem equilibrado. Após alguns toques, o oponente do Pedro começou a gritar comemorando os pontos que fazia. Aquele comportamento foi entrando na cabeça do Pedro, fazendo com que ele perdesse controle total do que fazia. Em um dos pontos, o Pedro atacou com força. Embora tivesse perdido o ponto, no final da pista, deu uma batida de ombro no adversário. A partida foi assim até o final, quando o Pedro perdeu. Frustrado, ele caiu no chão chorando a derrota e sentindo dores no pescoço.

Uma das coisas que mais gosto nos esportes, e aqui falo de Esgrima porque jogo com certa frequência, são os ensinamentos que eles nos trazem para a vida. A situação que o Pedro enfrentou em pista é muito, muito comum em nosso dia a dia. No trabalho quando estamos de frente a situações difíceis com clientes, parceiros ou até mesmo companheiros em nossas empresas. Com amigos e família quando temos discussões em função de idéias divergentes ou brincadeiras de mal gosto. Enfim, é comum que outras pessoas nos tirem do trilho, nos façam agir com nossos instintos mais primitivos. O esporte nos dá a possibilidade de nos prepararmos para essas situações.

Esses instintos são controlados pela parte primitiva do nosso cérebro, o sistema límbico. Dentro dele está uma parte pequena, do tamanho de uma noz, chamada amígdala. Em situações de estresse e descontrole, como a enfrentada pelo Pedro, ocorre o que os neuro-psicólogos chamam de sequestro emocional (amygdala hijack). Essa parte pequena do tamanho de uma noz toma o controle de tudo, inclusive da parte mais evoluída do nosso cérebro chamada neocortex, que é responsável pelos nossos comportamentos mais educados, por assim dizer.

O que o oponente do Pedro fez com ele certamente não foi função do conhecimento dele sobre como cérebro do Pedro funcionava. Ele provocou, ele entrou na cabeça do Pedro. Aqui um pequeno parêntese, nós aprendemos também um pouco disso também nos treinos de esgrima, de forma sutil. Nós aprendemos, como dito pelo David Goggins (um exemplo de resistência, não apenas fisicamente mas também mentalmente), a roubar almas (taking souls).

Como diz o ditado popular: pau que dá em Chico dá também em Francisco. O importante de conhecer e passar pelo processo de ter sua alma roubada é que adquirimos calo mental. Sim, calo, aquele mesmo que ganhamos quando usamos um sapato ruim que faz com que nosso pé se adapte e não sofra mais com o sapato. Ao desenvolver o calo mental, passamos a encarar as situações do nosso dia a dia de forma diferente. Passamos a entender como se comportar nessa situação, pegar nossa alma de volta e até conseguimos, às vezes, roubar a do oponente.

Não julgo o Pedro pelo seu comportamento explosivo no jogo. Eu mesmo jogando com o mesmo oponente já tive vontade de quebrar meu sabre na cabeça dele. Por isso, depois que chegamos em casa aproveitei para conversar com ele sobre o que aconteceu. A mensagem principal foi que o que acontece com ele deve ser escolha dele, não de outra pessoa. Ele não pode se comportar de uma determinada maneira porque outra pessoa escolheu que ele se comporte assim. Dentro da cabeça dele, manda ele, o controle é dele e ele precisa praticar esse controle todo o dia.

Nós estamos fazendo vários exercícios mentais para melhorar nosso auto-controle, eu e ele. Respiramos, caminhamos, enfim, tudo que nos ajuda a controlar as emoções. Mas aqui o importante é o que isso representa para você! Quando você tiver a sensação de que está perdendo o controle e se ferindo por causa do que outra pessoa está fazendo, pense se ela não está tentando roubar sua alma. Não deixe outros controlarem suas sensações! Lembre do Pedro, na sua cabeça, manda você!

Será que devemos sempre ajudar? Conheça o Paradoxo da Ajuda…

Essa é uma pergunta que eu sempre me faço: ajudo com isso, ou não? Eu tendo a acreditar que na maioria das vezes a gente NÃO deveria ajudar quando uma pessoa nos pede ajuda. E por que deveríamos ajudar em poucas situações? Acredito que a ajuda deveria ser dada apenas em momentos ou situações em que há um certo risco para a integridade física e emocional da pessoa. Em todas as outras, não deveríamos ajudar.

Deixa eu explicar essa forma de pensar antes que gere alguma polêmica. Vou usar como exemplo algumas situações que ocorrem na minha casa, com meu filho. Muitas vezes ele me chama para pedir ajuda com coisas que ele quer fazer, por exemplo, no computador. Papai, me ajuda aqui? Seria muito mais fácil para mim chegar lá, sentar na frente do computador e fazer para ele, mas ao invés disso, pergunto: o que você quer fazer? já pesquisou na Internet sobre o problema? já viu se alguém descreveu como resolver o problema? já buscou vídeos sobre o problema?

Eu faço isso por duas razões: a primeira é que não posso criar uma pessoa que seja dependente de mim, não vai ser saudável para ele no futuro. A segunda é que é preciso que ele desenvolva sua capacidade de entendimento, análise e resolução do problema.

Via de regra, a nossa primeira reação quando alguém nos pede ajuda para resolver um problema é apresentar a solução e sair, meio que sem pensar, resolvendo a situação. É meio que instintivo e muito mais rápido e simples de ser feito. Agir dessa forma faz com que possamos voltar mais rapidamente para a atividade que estávamos fazendo antes de sermos “atrapalhados” pela pessoa que precisa de ajuda. Podemos ver até mesmo com um pouco de egoísmo, ego e conveniência do nosso lado fazer dessa forma.

Ao invés, se realmente queremos ajudar as pessoas, não deveríamos ajudar. Sim, é paradoxal, inclusive, isso é chamado de Paradoxo da Ajuda. Ao invés de sair resolvendo o problema, deveríamos fazer perguntas que obriguem as pessoas pensarem, refletirem sobre a situação. Fazer com que elas tentem aprender por si próprias formas de resolver o problema elas mesmas.

A maioria das situações do nosso dia a dia, de ajuda que nos pedem, se enquadra nessa categoria. Seja em casa, seja no trabalho ou em nossas relações interpessoais, os pedidos de ajuda que recebemos não precisam realmente da nossa ajuda. Quando alguém nos põe um problema e saímos falando como resolver, entramos muitas vezes no chamado: conselho não solicitado. Ao receberem conselhos não solicitados, as pessoas não aprendem, incorrem nos mesmos erros e ficam presas aos mesmos problemas.

A melhor forma de aprendizado e de resolução de problemas passa, em primeiro lugar, pelo entendimento do verdadeiro problema. A pessoa que pede ajuda precisa ser obrigada a refletir bem para entender e concluir qual a causa do seu problema. Posteriormente, passa pela criação e implementação da solução. Ao realizar este processo, a pessoa tende aprender de forma mais profunda, desenvolvendo um mecanismo que pode ser repetido para todos os problemas futuros.

Então é assim, na próxima vez que alguém lhe pedir ajuda, salvo se esta pessoa estiver correndo risco físico ou psicológico, tente ajudar não ajudando. Deixe seu ego e preguiça de lado, dê o apoio fazendo perguntas de maneira que a pessoa saia sozinha do problema. No início nem ela nem você vão gostar, mas no futuro ela vai lhe agradecer!

Distrações como fuga para o sofrimento…

Interessante observar a quantidade de textos em revistas e mídia social que aborda a questão do sofrimento, principalmente quando voltado para o contexto psicológico das pessoas. A busca da felicidade ou as discussões sobre segurança psicológica no trabalho estão relacionadas a questão do sofrimento psicológico.

Uma parte da teoria Freudiana também se apoia na questão do sofrimento psicológico. Para Freud, muito do que projetamos em nosso inconsciente vem de um certo sofrimento que vivemos em nossas vidas. Desde que passamos a ser, de certa forma, obrigados a cumprir com padrões sociais impostos pelas culturas Européias, desenvolvemos essa sensação de sofrimento.

Nos dias atuais o sofrimento psicológico pode assumir diversas formas e ter como gatilho conjuntos de fatores internos em nós mesmos e externos que estão associados ao ambiente em que vivemos. Existe uma hipótese de que desenvolvemos mecanismos de defesa para esse sofrimento. Uma ação de fuga que cria uma espécie de proteção, inconsciente, sobre o sofrimento que nos cerca.

No livro Indistraível o autor Neil Eyal defende a idéia de que nos sujeitamos as mais distintas distrações como mecanismo de fuga do sofrimento psicológico. Ele apresenta vários exemplos que vão desde as distrações que nos tiram de reuniões chatas (quem aí já participou de uma reunião em que nenhuma pessoa esteve ao celular ou computador respondendo mensagens?) ou trabalhos que não queremos executar, até encontros pessoais onde as pessoas não engajam entre si e ficam em seus celulares (pense na idéia de que as pessoas preferem ficar ao celular do que conversando com você).

Mas, de todos os exemplos que o autor colocou o que mais me incomodou foi o das crianças. Se as distrações por uso de dispositivos eletrônicos são uma fuga de sofrimento experimentado por crianças, então significa que elas estão preferindo ficar ao celular por uma razão. Esta razão está, possivelmente, relacionada a falta de atenção (e alguns outros fatores) que você deixa de prover como pai/mãe. A criança, para não sofrer com essa falta de atenção, recorre ao celular ou outro dispositivo eletrônico.

Eu tinha na cabeça que o uso exacerbado de dispositivos eletrônicos passava por uma espécie de vicio, como uma droga. Até então, eu não conseguia ter uma idéia do que serviria de origem para esse vício. Se o Neil estiver realmente certo sobre a distração colocada pelo uso dos dispositivos estar associada a uma fuga de uma eventual sensação de sofrimento, isso abre o caminho para uma outra forma de enxergar o problema. Estamos de frente com mais uma pílula vermelha!

Os opostos se atraem! Não, não se atraem…

Antes de começar, vamos deixar claro que não estamos falando aqui de física ou química, ou seja, não estamos falando de atração de opostos magnéticos nem de cargas positivas e negativas em moléculas 😜 Estamos querendo discutir nesse post os opostos do ponto de vista de temperamento ou personalidade. Queremos falar de opostos como: tímido x expansivo; falador x calado; organizado x desorganizado; etc…

É muito comum quando estamos conversando entre amigos a gente escutar coisas do tipo: nossa, eles só dão certo porque são muito diferentes, ou, fulano é muito falador mas sua esposa é muito calada, por isso que dão certo, etc. Poderíamos dar vários exemplos aqui de casais ou de relações interpessoais em que as personalidades das duas pessoas são muito diferentes, chegando ao extremo oposto em cada um deles.

Acontece que, como em muitas outras coisas em nossas vidas, só enxergamos o que queremos ver. Quando fazemos esse tipo de análise em certos casais, por exemplo, só queremos ver essas diferenças e usamos essa visão limitada para explicar o porque do sucesso da relação destas pessoas. Mas a verdade sobre o que funciona na relação entre as pessoas passa por questões muito mais complexas.

Em primeiro lugar, o fato derradeiro é que gostamos mesmo, de cara, de pessoas que são parecidas com a gente! Quando temos a oportunidade de conhecer a personalidade das pessoas (algo que é extremamente difícil nos dias de hoje) vemos que nos aproximamos e mantemos o contato com as pessoas parecidas, que tem as mesmas afinidades que as nossas. Por exemplo, pessoas introvertidas que gostam de discutir temas mais profundos e complexos vão se aproximar e manter relação com outras pessoas também introvertidas e que gostam de se aprofundar em temas complexos.

Esse processo de aproximação com pessoas parecidas com a gente é tão natural que raramente percebemos. Quando nos damos por conta, já construímos aquela relação. Nestes casos, normalmente sentimos, sem perceber, que é legal estar na presença daquela pessoa que é parecida com a gente. Pare para prestar atenção nisso e depois me diga se não é verdade 😎

Mas, por que vemos vários casais ou relações entre pessoas com temperamentos e personalidades tão diferentes? Uma resposta para isso pode estar no nosso processo evolutivo. Nosso cérebro passou por um processo de amadurecimento e evolução muito grande, que fez com que nossa espécie pudesse se organizar e chegar onde chegou. Existe uma área específica no nosso cérebro que é responsável pelo sentimento de empatia, cuidado e preocupação com outras pessoas. É por causa dessa área (o cortex pré-frontal) que aprendemos a respeitar as diferenças e aceitar as pessoas com quem convivemos.

As relações entre pessoas diferentes se mantém porque desenvolvemos um cuidado com quem passamos a conhecer melhor, mesmo que ele seja diferente. Passamos a pensar da seguinte forma: “eu sei que ele não gosta de sair muito, então não vou pedir para sairmos todo o dia”. A pessoa do outro lado pensa: “sei que ela gosta de sair, vou me ajustar e sair algumas vezes com ela”. Esse processo de acomodação e respeito vai se desenvolvendo a ponto de vermos pessoas com gostos e hábitos muito diferentes juntas por longos tempos.

Então é assim… a verdade nua e crua é que gostamos de quem é parecido com a gente. Por outro lado, quando desenvolvemos carinho e preocupação por uma pessoa diferente, nos ajustamos para aturar ela (desculpem a franqueza). Mas aqui entre nós, o fato de termos essa capacidade de preocupação com o outro, de nos ajustarmos para agradar a uma pessoa diferente da gente é lindo demais. Quando conhecer ou encontrar um casal diferente, não pensem: “como eles dão certo sendo tão diferentes?” Ao invés disso, olhem para eles e digam: “o que um faz pelo outro é lindo!”

Planos e mudanças em 2023?

Com a chegada do novo ano muitos de nós fazemos planos frente a desejos de mudanças, de melhoria. Em nossas cabeças, momentos como a virada do ano servem para definir o fim de um ciclo e o início de outro, sempre melhor. Isso é absolutamente normal, dado que buscamos esses momentos como uma forma de fronteira entre o velho e o novo EU. Esses momentos são ótimos para iniciar novos comportamentos, mas, de forma isolada, eles não funcionam a médio e longo prazo.

Se pararmos para pensar, em vários anos prometemos a nós mesmos mudanças. Começamos a mudar mas logo após algumas semanas ou poucos meses voltamos aos comportamentos anteriores. Isso vale em várias áreas, desde as nossas relações interpessoais, passando pelo trabalho e hábitos de saúde como exercício e alimentação. Mas, por que as mudanças de comportamento não se sustentam após a virada do ano?

Bom, isso acontece porque, quando mudamos, não nos sentimos bem com o novo EU. Na maioria das vezes as mudanças são muito bruscas, tão pesadas que nos sentimos mal ao tentar executar os novos comportamentos. Vamos pegar um exemplo. Um dos desejos de mudança mais comuns é o de criar hábitos mais saudáveis e se exercitar. É provável que muitos tenham tentado mudar e se exercitar mais com a virada do ano mas falharam miseravelmente. Estas mudanças normalmente são feitas procurando exercícios pesados. Corridas longas, musculação com muito peso, enfim, exercícios fortes. A reação do corpo quando se depara com isso no dia 1 de Janeiro é, DOR, MUITA DOR. Quem em sã consciência volta para o exercício depois de sentir muita dor?

Outro exemplo é a alimentação. Ano que vem vou começar com um regime pesado, vou cortar carboidratos, dizemos a nós mesmos. Novamente, a reação do nosso corpo ao se deparar com tal mudança abrupta é, IRRITAÇÃO e FRAQUEZA, das piores que se pode imaginar. Quem em sã consciência continua em uma dieta ao se sentir irritado e fraco?

Os exemplo são muitos… Então precisamos entender por que, quando buscamos mudar e construir um novo hábito, sempre queremos começar com força? Eu acredito que isso está relacionado a forma como vivemos hoje em dia. Somos bombardeados por estímulos que nos geram rápidas recompensas. Nossos cérebros estão acostumados a se satisfazer rapidamente e a mudança de um hábito, um novo comportamento, não gera recompensas imediatas. Ao contrário, para que um novo hábito de saúde ou estudo gere resultados pode levar anos.

Então estamos fadados a nunca mais mudar os hábitos ruins? Não, acho que podemos enganar nosso cérebro. Para isso, eu gosto da idéia de começar devagar, com pequenos passos. Quer correr, comece caminhando, acompanhe sou evolução em pequenas progressões. Quer comer melhor, comece mudando uma pequena parte da sua alimentação, retirando algo que lhe prejudique e acompanhe a pequena progressão. Quer dormir melhor, vai ajustando a hora de se deitar aos poucos e vá acompanhando ela ficar cada vez mais consistente.

Aos poucos, é possível ter pequenas recompensas relacionadas a pequenas mudanças de comportamento. Esse processo gera um benefício acumulado porque o comportamento vai, aos poucos se moldando naquilo que você está buscando como o seu ideal. Com essas pequenas mudanças você tem mais chances de se sentir motivado, porque as recompensas vão chegando. Com o tempo, você vai adquirindo a disciplina e, a partir daí, vai dando passos cada vez maiores. Tudo sem sofrimento, tudo com prazer.

Sinta as boas sensações das pequenas mudanças e dos ganhos cumulativos e Feliz Ano Novo!

Notificações e ansiedade…

Faz alguns meses eu comecei a remover as notificações de alguns dos aplicativos no meu celular. Comecei pelas notificações do Facebook e do Instagram. Fiz isso porque tinha a sensação de que estavam me sugando para dentro dos aplicativos com notificações que me “motivavam” a acessar e ver o conteúdo. O problema era que eu não ficava vendo apenas o conteúdo que a notificação se referia, acabava entrando no loop dos reals e vídeos curtos.

Depois de retirar as notificações desses aplicativos eu percebi que me sobrou mais tempo para outras atividades como leitura e tempo com meu filho e esposa. Dentro do tempo de uso do iPhone notei uma redução de 15% na média diária de utilização, o que é bastante. Diante disso, faz algumas semanas resolvi dar um passo ainda mais ousado, removi as notificações do WhatsApp. Impacto enorme…

Sem as notificações de mensagens recebidas no WhatsApp o tempo de uso diário do celular baixou ainda mais. No total, entre uso de Instagram, Facebook e WhatsApp, reduzi o tempo de uso do celular em 50%. Isso é muito tempo! Mas, mesmo sendo este um grande impacto, notei outras situações que não conseguia notar estando sempre ocupado ao acompanhar as notificações e realizar todos os comportamentos que elas nos causam.

Uma das coisas mais interessantes que notei foi que eu não preciso estar informado de tudo que acontece nos diversos grupos do WhatsApp. Muito do que está lá não muda a minha vida em nada. No verdade, me atrapalha porque consome um tempo que poderia estar usando em outra coisa. Uma consequência disso é que não precisamos responder a todas as mensagens que chegam. Quando vemos as mensagens imediatamente, temos o impulso de responder logo. Se deixamos para ver tudo depois, muitas vezes não precisamos responder porque os assuntos já mudaram na conversa.

Mas não para por ai… ao observar esse impacto todo que a remoção das notificações no meu celular trouxe, resolvi entender melhor o que se passava. Esse mecanismo de Notificação + Leitura/Resposta + Conteúdos Curtos + Etc é o mecanismo usado pelas empresas que desenvolvem esses e outros aplicativos para nos manter Hooked. Hooked (ou Engajado) é o termo usado pelas empresas nos desenhos destes produtos. Existe uma psicologia por trás disso. Para saber mais, recomendo a leitura do livro Hooked do Nir Eyal.

Bom, quando se começou a desenvolver aplicativos com o intuito de manter os usuários engajados não era conhecido os impactos que isso poderia causar. Hoje se sabe um pouco mais. Alguns estudos demonstram atividades nas áreas do cérebro relacionadas a depressão, comportamento violento e ansiedade. Esta última, a ansiedade, é a condição que aparece mais rapidamente. Basta monitorarmos o nosso comportamento para percebermos que sempre olhamos para o nosso celular quando uma notificação aparece (tente não olhar para ver se consegue).

Enfim, a notificação é o gatilho. É a notificação que dispara todos os comportamentos que nos mantém “presos” ao celular. Muitas vezes precisamos nos proteger dos gatilhos para evitar situações que não são saudáveis para a gente. Evitar o gatilho é, provavelmente, mais fácil do que parar a execução do comportamento ruim.

De repente vale a pena fazer um teste… remova as notificações, veja como se comporta. Veja se você fica menos distraídos com as “motivações externas” trazidas pelas notificações. Veja se você não fica mais presente no que está fazendo como realmente estar com a família e amigos.

Qual a importância de Cristo?

Se perguntarmos qual a importância de Cristo para várias pessoas, vamos certamente ter respostas diferentes. As respostas vão, provavelmente, variar de acordo com o contexto, a criação e realidade de cada pessoa. Mas, se fizermos essa pergunta aqui no Brasil, possivelmente vai haver uma resposta predominante, uma resposta que esteja relacionada ao padrão cultural e de formação da nossa população. Creio que essa resposta vai estar ligada à Igreja, a construção das religiões que giram ao redor Dele.

Eu já pensei dessa forma, digo, de que a importância de Cristo estava relacionada a construção da minha religião Católica. Nos meus anos de vida eu vivi diversos momentos religiosos, vivo um verdadeiro dualismo, principalmente em relação à Igreja e seus dogmas. Mas uma coisa interessante nessa minha briga religiosa interna é que nunca questionei Cristo. Sempre O admirei!

Conheci Sua história um pouco melhor quando estudei Teologia por um determinado período, mas passei a O admirar muito mais depois que passei a ler e estudar a história evolucionista da nossa espécie e ao passar pelas disciplinas do último módulo do curso de Psicologia. Hoje eu estou muito inclinado à ideia de que Cristo teve importância única na evolução da nossa espécie. Muito do que conseguimos como espécie pode (uso pode porque não tenho dados empíricos sobre isso), estar relacionado aos seus “ensinamentos”. Deixa eu explicar…

Nós, como espécie, somos animais instintivos. Somos movidos por instintos que hoje controlamos através de mecanismos evolutivos de nossos cérebros. Se tirarmos esses mecanismos, vamos ver muita promiscuidade e violência pelas ruas. O fato é que esses mecanismos de controle, de boa convivência, comunicação e preocupação com outros seres da nossa espécie se desenvolveu faz muito tempo. Mas foram as religiões que nos deram um norte, serviram como uma bússola moral.

Em nossa cultura Ocidental, Cristo foi a principal bússola. Desde o seu nascimento, Ele nos ensinou de tal maneira que grande parte da nossa cultura, no que diz respeito a forma de conviver com outras pessoas, se estabeleceu nestas bases. Se hoje não matamos, roubamos ou fazemos outras coisas que consideramos ruins, é, em grande parte, função do que Cristo pregou em sua breve história. Sem Cristo ter passado, será que nossa espécie estaria onde está do ponto de vista evolutivo? Creio que não…

Cristo não foi o único. Maomé no Islamismo, Abraão no Judaísmo, Buda no Budismo, etc, todos possuem um papel semelhante. Fora das religiões, outras pessoas também nos apresentam exemplos que nos servem de bússola. Servem como bússolas morais para a nossa espécie em diversos cantos do mundo. Com a evolução dos nossos cérebros, em particular o Cortex Pré-Frontal, estes ensinamentos se consolidaram e nos colocaram em outro patamar evolutivo.

Hoje eu penso no dia de Natal de uma forma diferente. Celebro sim o nascimento de Cristo. Não pelos dogmas da Igreja, mas pelo que Cristo representou para a nossa espécie. Foi um verdadeiro Deus fora do seu tempo. Ele nos ensinou muito, e devemos ser gratos por isso, daí a celebração. Ele nos colocou onde estamos hoje com tudo que nos ensinou.

Feliz Natal à Todos!