Resultado versus realização

É interessante notar como a nossa sociedade e cultura são voltadas para os resultados. Essa forma de pensar está tão arraigada em nosso pensamento que cobramos as pessoas pelos seus resultados de forma inconsciente. Vou começar esse texto falando da experiencia esportiva desse fim de semana e concluir com um paralelo para outras áreas da vida.

Nesse fim de semana eu levei o Pedro para mais um torneio Nacional de esgrima. Depois que passei a estudar Psicologia, comecei a notar comportamentos que antes pareciam normais. Me refiro a perceber como os pais cobram os filhos por resultados. Muitos pais estão tão focados nos resultados que não conseguem observar tudo que seus filhos estão realizando ao participar de algo tão importante e difícil como uma competição nacional.

Mais interessante ainda é observar que, ao se focarem nos resultados, esses pais passam a culpar terceiros pelas “derrotas” dos filhos no torneio. As pressões sobre os árbitros são pesadas em função disso. Árbitros que são nossos amigos no dia a dia e que estão fazendo seu melhor no torneio. Essas pessoas NUNCA prejudicariam as crianças que estão competindo. Mas a cegueira dos pais é tanta que não veem que o filho perdeu por outros tantos motivos que não a arbitragem. Ao culpar quem não tem culpa, os pais perdem a maior chance de todas de construir seus filhos como pessoas melhores.

Na Psicologia Esportiva pode se dizer que existem dois tipos de motivação para os atletas: a motivação por resultado e a motivação para a realização. Não há modelo certo ou errado, cada tipo tem sua importância dependendo do estágio do atleta. Entretanto, para crianças, a motivação para a realização ou construção é normalmente a que funciona melhor.

Depois que comecei a estudar Psicologia Esportiva passei a fazer um trabalho diferente com o Pedro. Este trabalho está voltado para a realização e não para o resultado. Combinei com ele que o resultado não interessa, que vamos começar a nos preocupar com o crescimento e aperfeiçoamento do nosso jogo. A cada torneio paramos e refletimos: minhas ações nesse torneio foram melhores que no torneio passado? Estamos nos concentrando na construção.

O torneio desse fim de semana foi o segundo com essa lógica. O Pedro tem ido competir mais solto, relaxado (embora tenha tido alguns comportamentos que reprovo muito). Na chegada aqui em São Paulo estava mais claro para ele o que precisa ser feito para dar o próximo passo. Ele está começando a enxergar que é um processo, uma construção. Que ele vai se tornar melhor olhando para dentro, para o seu jogo, sem se preocupar com fatores externos.

Acho que vale a pena também fazer um paralelo disso tudo com o que ocorrem em nossas vidas. Desde cedo somos educados para fazer as coisas em função do resultado, e não pela satisfação da realização, do crescimento. Quem nunca escutou: vai estudar para a prova! Essa frase deveria ser: vai estudar para aprender! O resultado da prova vai ser consequência do aprendizado. Quando deixo o Pedro na escola eu sempre digo: aproveite os estudos!

No trabalho a lógica é também a mesma. Faz algumas semanas lembro que vi um post de alguém criticando a forma de medir o desempenho dos funcionários no LinkedIn. Nossas medições são sempre voltadas para os resultados. Essas métricas não se preocupam com as pessoas, mas sim com os resultados das empresas. Novamente, não estamos trabalhando a construção da pessoa profissional. Novamente temos a influência pesada da cultura, da regras sociais.

A Psicologia Esportiva descreve muitos impactos psicológicos sobre a escolha do foco motivacional para um atleta. Tais impactos afetam diretamente o desempenho, a força e determinação diária nos treinos e, automaticamente, os resultados finais. O paralelo com outras áreas da vida é muito forte. Ao nos preocuparmos com a construção dos profissionais os resultados virão.

Tenho a impressão de que há muito que aprender em relação a motivação para a realização e como ela influencia outras áreas de nossas vidas. Assim que descobrir mais eu conto aqui…

A fonte…

Estou lendo um livro super interessante escrito por uma Neurologista chamada Tara Swart. Neste livro, A Fonte, ela explica em detalhes o funcionamento do nosso cérebro e como esse funcionamento está ligado a determinados comportamentos que adotamos em nosso dia a dia. Lá, ela discute sobre um conceito que acho lindo chamado de Neuroplasticidade.

Basicamente, Neuroplasticidade é a capacidade que o nosso cérebro possui de se adaptar a determinadas tarefas. De acordo com as circunstâncias, podemos reforçar ou diminuir conexões neurais que fazem com que consolidemos ou esqueçamos de algo. Este algo pode ser um pensamento, um conhecimento ou um movimento executado pelo nosso corpo.

Mas o que Neuroplasticidade tem a ver com Psicologia? Simplesmente, TUDO! É através dessa tal Neuroplasticidade que podemos ajustar nossos comportamentos, nossas ações independente da idade que tenhamos. A ideia de que estamos velhos para aprender algo novo ou mudar o comportamento é a maior balela de todas (voltaremos nisso logo abaixo).

Bem, a Dra. Tara fala no livro sobre seis áreas em que o nosso cérebro se especializa para desenvolver comportamentos, são elas: emoções e relações; movimentos físicos; intuição; motivação; lógica e criatividade. Via de regra, possuímos caminhos neurais em nossos cérebros que habilitam a realização de cada um destes grupos de tarefas. Ao longo de nossas vidas, através da Neuroplasticidade, reforçamos ou enfraquecemos as conexões neurais relativas a cada uma delas. Fazemos isso por mera escolha nossa ao longo de nossas vidas…

Mas o ponto crítico aqui é o seguinte, esse reforço ou enfraquecimento das conexões neurais não é permanente. Por exemplo, imaginem o caso do Catatau, que trabalhou a vida inteira em um ambiente em que precisou contar com sua intuição, lógica e criatividade para a tomada de decisões e executar seu trabalho. Nesse período ele reforçou as conexões neurais relativas a esses comportamentos e enfraqueceu os outros. Mas aos 40 anos, ele resolveu mudar a sua vida e passou a trabalhar suas emoções e relações, o movimento do seu corpo e sua motivação. Após alguns meses ele reforçou as conexões neurais relativas a essas três novas áreas. As outras que já estavam fortes vão perdendo intensidade, mas em um determinado ponto, ele está no ápice das seis áreas com conexões super reforçadas e pensando claramente cada passo que dá em sua vida.

Agora vamos voltar a balela de que estamos velhos para fazer algo novo ou mudar de vida. Se você se sente assim, não é por limitação do seu corpo ou do seu cérebro, é uma escolha que você está fazendo. Como diria Alfred Adler, você está usando a velhice como uma desculpa para fazer algo que quer, que está preso. Preso em vícios que geram cadeias de dopamina em seu corpo ou com preguiça de levantar o rabo da cadeira e se arriscar em algo novo. Você se convence de que está velho, com dor ou qualquer outra desculpa para não mudar de vida… O nome técnico para isso é Teleologia.

Uma das coisas que mais gosto da abordagem Adleriana é que nós definimos quem queremos ser. Não depende do nosso passado, depende apenas do que queremos no presente. E quando leio estudos de Neurociência que mostram que a nossa potência (no sentido mais filosófico e Aristotélico de todos) já está dentro da gente, eu me convenço cada vez mais de que Adler tinha razão!

Sobre a Páscoa…

Uma das coisas mais interessantes que aprendi quando estudei sobre Teologia foi que o Novo Testamento é uma espécie de re-leitura do Antigo Testamento. Nesse contexto, vale lembrar que o Antigo Testamento é, na verdade, um recorte da Torá, livro sagrado do Judaísmo ou Bíblia Hebráica.

Bom, a Páscoa tem um significado muito importante no Antigo Testamento da Bíblia, onde é celebrada como uma das principais festas religiosas judaicas. A palavra “Páscoa” vem da palavra hebraica “Pesach”, que significa “passagem”. No Antigo Testamento, a Páscoa era uma celebração que comemorava a libertação do povo de Israel da escravidão no Egito. Deus enviou Moisés para liderar os israelitas em sua fuga do Egito, e a Páscoa era o momento em que Deus libertou seu povo da opressão egípcia.

No Novo Testamento a Páscoa é o ápice do Ano Litúrgico, representa a consolidação da salvação do povo Cristão iniciado pela Paixão de Cristo, quando Ele deu sua vida na Cruz. A Ressurreição de Cristo pode ter diversas leituras diante desse contexto. Na visão mais tradicional a Páscoa representa a salvação das nossas almas. Quando morremos, fazemos a passagem para o lado de Cristo. Ressuscitamos em uma “nova” vida ao lado de Deus no céu. Nessa leitura a nossa passagem pela terra é uma preparação para o que vem depois com a nossa morte e ressurreição. Tudo o que fazemos aqui serve de referência para o que acontecerá depois.

Nessa visão mais tradicional, dura e punitiva a Igreja, ou a religião, usa a ressurreição como uma forma de controle. Algo do tipo: “cuide do que você faz aqui, caso contrário você não vai para o lado do Pai quando ressuscitar”. Por muito tempo essa abordagem punitiva foi utilizada de forma ampla pela Igreja Católica. Isso de certa forma se reflete em nossos comportamentos e na forma como criamos nossos filhos. Quem nunca disse ou ouviu: “Papai do Céu está vendo a tolice que está fazendo”. Toda essa visão e enfoque punitivo tem origem na Páscoa, porque enfoca nossas vidas no pós morte. Fazemos e nos comportamos agora para o que vem depois.

Mas essa visão mais dura da Religião Católica Cristã vem mudando faz algum tempo. Diversas releituras da Bíblia vêm mostrando uma visão mais focada no agora, em aproveitar a vida neste momento. A verdade é que não sabemos o que vem depois, precisamos mesmo é nos concentrar em viver uma vida plena agora. Cuidar de si mesmo, amar o próximo e viver intensamente é a maior consideração de gratidão que podemos dar pela maior dádiva que recebemos de Deus, nossas vidas!

Em minhas aulas de Teologia aprendi sobre uma releitura muito interessante da passagem da Serpente e da Maçã. Nessa releitura a Serpente era Deus e a Maça o conhecimento. Quando Deus ofereceu a Eva a possibilidade de conhecer tudo ao seu redor estava perguntado algo como: “aqui está o mundo ao seu redor, se você o conhecer pode aproveitar e viver intensamente a vida que lhe dei, quer experimentar?”. A Páscoa pode também ser relida de uma forma diferente. Algo do tipo: “talvez muita coisa que você tenha feito até agora não tenha dado certo, mas que tal começar tudo de novo, que tal seguir tentando?”. A Páscoa é mais uma tentativa para você aproveitar sua vida ao máximo, aproveite!

Cuidar de si mesmo…

Uma das coisas que tenho percebido nas pessoas é como elas são relapsas com elas mesmo, como elas não têm cuidado com sua saúde física e mental. E eu não sou o único a perceber isso. Tenho visto algumas propagandas de governos de países mais desenvolvidos destacando a importância do cuidado consigo mesmo. Claramente estes governos o fazem com a intenção de diminuir os gastos com a saúde de pessoas quando elas chegam a idades avançadas.

Acho que hoje em dia é senso comum a idéia de que se começamos a nos cuidar cedo, podemos viver uma vida mais feliz, saudável e longeva. Especialmente, quando chegarmos a uma idade mais avançada, poderemos aproveitar melhor a vida, sem depender de outras pessoas. Não é justo com nenhum ser humano ter que passar por uma vida dura de esforço, preocupação, estresse e trabalho e depois viver em cima de uma cama ou com pouca locomoção porque não conseguiu cuidar do seu corpo quando era o momento para isso.

Fico então me perguntando por que as pessoas não se cuidam? O que leva a maioria das pessoas a não tirar uma parte do seu tempo para se cuidar? Por que as pessoas não podem tirar uma parte do seu dia para fazer algo prazeiroso? Por que as pessoas não cuidam de sua própria saúde? Minha hipótese é que as pessoas sofrem de dois problemas: estão muito ocupadas com o que não é prioritário e estão muito cansadas e sem energia para começar algo novo.

Esse fim de semana eu comecei a praticar uma técnica da Psicologia Esportiva com o meu filho e com alguns alunos da Baldin Esgrima, a técnica se chama Plano de (Re) Focalização. A técnica consiste em se preparar para uma competição de Esgrima planejando as ações de jogo antes do torneio. Ela passa por uma série de passos incluindo mentalização das ações, entre outras coisas, mas o ponto crítico da técnica é ensinar, ou construir o hábito, de se focar no que realmente importa para o atleta, suas ações de jogo.

Ontem conversei com o Pedro sobre a técnica e perguntei para ele o que realmente importava na técnica. Ele me disse: me ajuda a ter foco! Para um adolescente da idade dele a resposta me surpreendeu. Esses adolescentes não conseguem fazer uma única coisa, estão sempre fazendo duas ou três coisas ao mesmo tempo. Então quando ele chegou a essa conclusão sozinho, comecei a ver uma luz no fim do túnel. Temos um longo caminho pela frente, mas se repetirmos esse processo várias vezes, ele pode conseguir incorporar o conceito e aplicar para várias áreas de sua vida.

Bom, com adultos a lógica de estar muito ocupado não é diferente. A demanda de trabalho está sempre muito latente. As pessoas começam a trabalhar cedo e chegam em casa tarde para assumir outras tarefas domésticas. Isso quando não tem mais de um emprego ou ainda estão estudando junto com o trabalho. Não bastasse isso tudo, acabamos por nos atirar por horas nos nossos dispositivos eletrônicos, mídias sociais e canais de streaming. Agora, olhando esse monte de coisas a pergunta que fica é, na lógica do plano de (re) focalização, o que disso tudo é realmente importante? Algo do que faço é mais importante que minha saúde?

Daí vem então o segundo ponto, mesmo que o nosso Cortex Pré Frontal nos mostre o que logicamente é mais importante, cadê a energia para mudar? Com o tanto de atividades que são feitas, normalmente chegamos em casa cansados e queremos nos atirar no sofá e ficar rolando o dedo no feed do Instagram. Eu lembro de quando cheguei em São Paulo faz mais de 20 anos atrás. Chegava em casa sempre depois das 19:00 e a primeira coisa que fazia era me atirar no sofá para assistir o jornal. Acabava cochilando de tão cansado para ir jantar depois das 22:00. Não preciso dizer que foi o pior momento da minha vida onde cheguei a pesar quase 100 quilos.

O lance desse cansaço, por incrível que pareça, não é a quantidade de coisas que fazemos, mas o estilo de vida que vivemos. Poucas horas de sono de qualidade no dia e uma alimentação ruim nos drenam para o nosso pior. A medida que engordamos e reduzimos nossa massa muscular, reduzimos também nossa taxa de consumo calórico basal. O resultado é um corpo mais lento e preguiçoso. Isso vira uma bola de neve e depois dos 50, se nada for feito, é ladeira abaixo tendo como consequência principal a redução significativa de massa muscular, obesidade, diabetes, etc. As propagandas dos governos mencionadas acima não são à toa!

Tenho conversado com pessoas mais velhas que estão tentando correr atrás do prejuízo e recuperar seu corpo. O que elas sempre me dizem é: deveria ter começado a me exercitar mais cedo! Muitas dessas pessoas esperaram se aposentar para começar a cuidar de si mesma, mas acho que esse é o tipo de coisa que não dá para esperar. Cuidar de si próprio deveria ser uma prioridade de todos. Por causa do que eu vivi na vida eu me cuido pensando no seguinte: não quero que o meu filho tenha que se preocupar em cuidar da minha saúde.

Mudar, por que?

Nosso corpo odeia mudanças! Quando me refiro a corpo aqui, falo do corpo físico e de nossa mente. Sempre que nos adaptamos a uma determinada situação nosso corpo (físico e mente) quer se manter nesse estado, tem preguiça de mudar, e vai fazer de tudo para que a mudança não ocorra.

Essa é uma das razões de engordarmos, por exemplo. Uma vez que nosso corpo acomoda o gasto calórico ele tende a gastar menos fazendo com que haja uma sobra e consequentemente acumulo dessa energia em forma de gordura. Quando fazemos musculação, outro exemplo, temos que ficar sempre mudando de exercícios, de outra forma, a musculatura acostuma e o tecido muscular deixa de se fortalecer.

O mesmo ocorre com o nosso cérebro, com nossa mente. Aqui, especificamente, tem dois aspectos interessantes que vale a pena conversar. A primeira é relacionada a uma tarefa. Sempre que realizamos uma tarefa repetidas vezes tendemos a executá-la de forma automática. Dirigir, por exemplo, depois de que se aprende a dirigir, o fazemos de forma automática, não ficamos mudando o jeito de dirigir. Quando aprendemos um caminho para algum lugar, ficamos repetindo o caminho, não buscamos um novo sempre. Existem vários exemplos nesse sentido.

O outro aspecto é em relação a idéias. Quando aprendemos uma idéia nova, desde cedo quando pequenos, nos apegamos a idéia e temos dificuldade de mudar. Religião, formato da educação, aspectos culturais, etc. Uma vez que nos apegamos a essas idéias, qualquer coisa diferente que apareça tendemos a negar, não queremos mudar. O mesmo serve para relações interpessoais. Quando nos acostumamos a um contexto, família, amigos e trabalho, nos apegamos e temos dificuldade de mudar, nos abrir a outros contextos.

A razão por trás desse comportamento mental de evitar mudanças em tarefas e idéias é a mesma por trás do nosso metabolismo, dos nossos músculos. A razão é otimizar o consumo de energia, otimizar a operação do corpo. A natureza do corpo humano é formidável, mas algumas vezes cruel. Ao nos deixar mais preguiçosos para a mudança para economizar energia, nosso corpo gera problemas de médio e longo prazo. Aumento de gordura, diminuição de massa muscular, atrofiamento cerebral, etc…

Mas, se fisiologicamente nosso corpo tende a ser preguiçoso, nossa espécie ganhou de presente do processo evolutivo pelo qual passamos o Neo Cortex. Essa parte em nosso cérebro é a responsável pelo pensamento lógico e controle. É através dele que podemos tomar uma decisão muito simples, a de desafiar a preguiça que a fisiologia do nosso corpo nos impõe.

Se decidirmos criticar o automatismo que nos encontramos para economizar energia podemos nos tornar mais fortes fisicamente, mais inteligentes e hábeis mentalmente e aproveitar as nossas vidas de maneira mais intensa e longeva.

A imagem do post mostra uma pessoa andando em círculos em uma cidade, significa que ela fica repetindo de forma automática seu dia a dia, sem questionar e experimentar novidades físicas e mentais.

Reflita um pouco e pergunte a si mesmo: o que fiz de novo de um tempo pra cá?

Está tudo bem se sentir triste!

Passamos por algumas situações em nossas vidas que despertam nossos sentimentos mais humanos. Nessas situações, a melhor coisa que podemos fazer é viver o sentimento e passar pela situação.

No Domingo saí para resolver algo e quando voltei para casa fui correndo no quarto do Pedro para assistir uma série que estamos acompanhando juntos. Abri a porta e encontrei ele com a cabeça baixa e chorando. Eu já imaginava o que havia acontecido, mas insisti que ele me contasse, se abrisse. Ele me disse: “eu gostava do Renato”. O Renato foi professor dele de Português por alguns anos. Ele combinava muito com o Pedro. Mas o Renato conseguiu algo melhor e precisou largar as aulas particulares. Ficamos muito felizes pelo Renato, mas sabíamos o que o Pedro sentia.

Depois, sentados no sofá, o Pedro me disse: “eu estava revisando nossos planos de estudo e vi que estávamos juntos faz dois anos. Fazia tempo que alguém não saía da minha vida”. Isso que o Pedro sentiu é um dos sentimentos mais humanos que podemos experimentar. A preocupação e a saudade da presença de uma pessoa é algo que carregamos a muitas gerações em nossos genes. São sentimentos que criam conexões entre pessoas e que nos ajudaram a cooperar e persistir como espécie. Evoluímos por causa de sentimentos como esse.

Essa foi uma situação que me tocou bastante. Conversei muito com o Pedro em função disso, acho que ele cresceu experimentando essa situação e entendendo que a vida nos coloca sempre de frente com esses momentos. Eu costumo dizer que esses são os momentos da verdade de uma amizade. São nesses momentos que realmente podemos fazer a diferença na vida das pessoas.

Não quero ver meu filho sofrer, ninguém quer. Mas ao mesmo tempo, fiquei feliz de ver como ele reagiu frente a situação. De ver como ele está se preparando para a vida. Gosto da ideia de que tentamos ajudar o Pedro a se construir como uma boa pessoa. Queremos que ele faça diferença na vida dos outros, assim como o Renato fez na dele. Obrigado, Renato!

Uma linda personalidade

Alguém já lhe disse que você tem uma personalidade linda? Aposto que não!

Aqui as características na personalidade das pessoas que mais me chamam atenção:

Simplicidade: talvez essa seja uma das mais difíceis porque requer que seja natural da pessoa. Não é algo que seja construído, é algo que nasce com a pessoa. Ser simples passa por não complicar os eventos da vida, significa aproveitar toda a beleza da vida, sem que seja necessário complexidade ou luxo.

Autocuidado: cuidar de si próprio representa todo o respeito que se tem pela vida. Se cuidar pode ter vários significados, mas normalmente passa pelo cuidado com o corpo. No físico significa cuidar da aparência, ser vaidosa, querer ser bonita aos olhos dos outros. No mental significa olhar o mundo de forma positiva, aproveitar as oportunidades que a vida nos dá.

Organização: por que a organização é importante? Especialmente nos dias de hoje, com tantas demandas em nosso dia a dia, precisamos ter a consciência de onde vamos investir nosso bem mais precioso: nosso tempo. Através da organização desenvolvemos a melhor maneira de tomar essa decisão. Organizando nossos espaços, nossas vidas.

Cuidar dos outros: isso pode parecer clichê, mas quando conseguimos nos elevar a tal ponto em que conseguimos nos preocupar com os outros, significa que estamos fazendo algo certo. Essa preocupação não passa pelo que os outros pensam da gente mas sim pelo cuidado com o bem estar de quem nos cerca, daqueles que nos amam e que cuidam da gente.

Tranquilidade: como é bom conviver com alguém que transmite paz, que sabe escutar e falar nos momentos certos. Quem mantém a compostura em situações difíceis e, até para chorar, o faz de maneira amorosa e delicada. Estar sentado conversando com uma pessoa tranquila, tomando um café (ou vinho), é como lavar a alma.

Sorrir: sim, o sorriso é contagiante. Além de trazer paz, o sorriso aumenta a conexão entre as pessoas. Um sorriso sincero, aberto e lindo transmite todo o amor que sentimos para quem estamos sorrindo. Pessoas que abrem seu sorriso estão abrindo sua alma para quem os recebe.

Quando lhe dizem: você é lindo por dentro! Isso significa que possui uma ou mais desses atributos em sua personalidade.

Cortina digital…

Acho interessante notar a nossa capacidade de desenvolver múltiplas personalidades. Em função dessas personalidades distintas, acabamos desenvolvendo comportamentos que buscam nos “beneficiar” de acordo com o contexto em que estamos vivendo. Eu ainda preciso entender se há algum estudo na Psicologia Evolucionista que mostra onde exatamente começamos a desenvolver tal habilidade, mas o fato é que hoje, no contexto de ambientes virtuais digitais, tenho a impressão de que estamos ficando ainda mais elaborados nesse processo de desenvolvimento de personalidades.

Essa Cortina Digital, sob a qual ficamos “protegidos” nos permite criar uma espécie de entidade, ou para usar o termo correto nesse mundo: Avatares, com personalidades completamente diferentes das nossas e comportamentos que não ousaríamos desempenhar em um ambiente físico normal, se é que o ambiente físico em que vivemos hoje em dia pode ser chamado de normal.

Eu trabalho em modelo de Home Office faz muito tempo, já fui chamado inclusive de Matusalém do Home Office. Então durante esse tempo todo, de certa forma, pude observar muitos comportamentos diferentes no ambiente de trabalho. Uma coisa eu tenho certeza, as pessoas tendem a ser mais frias umas com as outras em uma relação por mensagem assíncrona do que quando desenvolvem uma comunicação por voz síncrona, sendo ainda mais empáticas quando ativamos imagens mesmo em interações digitais. Quando vamos para o face a face, essa relação assume o ápice da conexão e da empatia.

Essa semana eu passei por um exemplo muito interessante no trabalho. Já não bastasse o uso excessivo da comunicação assíncrona por mensagem, agora precisamos conviver com as comunicações através de emails impessoais. Impessoais no sentido de que não sabemos quem está por trás do email. Me refiro aos emails do tipo cobranca@, faturamento@, suporte@, vendas@, etc… Muitas vezes quando recebemos respostas desses emails não sabemos quem está escrevendo. Algo do tipo: Assinado, Suporte! Agora falamos com entidades, hahahaha.

No exemplo desta semana, quando notei que a pessoa estava pouco se importando para o meu problema, não tive dúvidas, escrevi assim: “Imagino que não esteja falando com a entidade Cobrança! Por favor, quem é a pessoa que está por trás desse email?” Não é de se surpreender que a conversa mudou daí para frente. A resposta que recebi foi mais ou menos assim: “Olá, André. Como posso lhe ajudar. Aqui é Fulano de Tal.” Bom, resolvemos o que precisava ser resolvido sem maiores problemas daí para frente.

Mas o que me preocupa mesmo não é o uso abusivo da cortina digital no trabalho. Podemos nos adaptar de tal forma a buscar assertividade na comunicação para resolução de problemas práticos nesses meios. O que me preocupa é quando esse “hábito” do trabalho se estende para as nossas relações interpessoais do círculo mais próximo, me refiro a amigos e família.

Estas cortinas digitais possuem dois problemas: o primeiro é que desenvolvemos comportamentos atrás das teclas de nossos dispositivos que não faríamos pessoalmente. Somos, às vezes, mais agressivos e indiferentes nessas situações. O segundo é um problema de comunicação, de codificação e decodificação da informação. Podemos incorrer em erros de expressão quando escrevemos, assim como podemos entender incorretamente quando lemos. É muito ruim colocar relações do círculo próximo sob este risco. Um dia vai dar ruim!

Imagina você tentar resolver um problema sobre o inventário da sua família com seu irmão por mensagem? Não vai acabar bem… Ou se você teve um imprevisto e precisa desmarcar uma pizza com o seu melhor amigo e decide fazer friamente por mensagem? É provável que seu amigo se sinta desconsiderado.

Infelizmente, não sou otimista sobre o futuro em relação a isso. Me parece que o hábito está se tornando tão enraizado no nosso comportamento que acabamos por desaprender a falar por telefone ou sair para tomar um café com um familiar, um amigo, ou um colega de trabalho. Preferimos digitar ou gravar audios que são normalmente escutados na velocidade 2x. É triste! Isso sem contar nos Avatares que criamos no Instragam para representar uma vida que não existe na verdade. Mas isso é papo para outro post…

Criamos nossos próprios monstros!

Depois que comecei a estudar Psicologia passei a notar como nossa mente é terreno fértil para imaginar coisas que não acontecem de verdade. Cheguei a essa conclusão após algum estudo mas, principalmente, depois de observar o comportamento de algumas pessoas, incluindo o meu próprio comportamento, o meu próprio pensamento.

A Terapia Cognitivo Comportamental (TCC), uma das primeiras áreas da Psicologia na qual tive contato, dá especial ênfase na influência do pensamento distorcido e da avaliação cognitiva irrealista de eventos sobre os sentimentos e comportamentos do indivíduo. A partir do estudo da TCC, comecei a aplicar em mim mesmo alguns testes e passei a notar que me deparava de forma frequente com o comportamento de imaginar coisas que quase nunca se tornavam realidade.

Por exemplo, em meu penúltimo emprego eu costumava pensar muito, especialmente antes de dormir, em situações nas quais eu seria demitido ou passaria por frustrações grandes. Esses pensamentos normalmente se apresentavam no dia anterior a uma chamada importante com o chefe ou um cliente. Era recorrente e me gerava muita ansiedade. Depois de estudar a TCC eu passei a anotar esses pensamentos de forma a confrontá-los com a realidade. Foi interessante descobrir que 99,99% das vezes tudo de mal que eu pensava que ocorreria, não ocorreu. Sofri sem necessidade…

Depois de ter passado por esta experiência pessoal, passei a observar o comportamento das outras pessoas, tentando entender, comigo mesmo, o que estava passando na cabeça delas. Costumava fazer algumas perguntas para entender o pensamento delas e, posteriormente, concluir se o que elas haviam pensado ocorreu de verdade ou foi mero fruto de sua imaginação. De certa forma, não foi surpresa descobrir que o que ocorreu com elas foi muito parecido com o que aconteceu comigo. Assim como eu, estas pessoas sofreram sem necessidade…

Criamos nossos próprios monstros! Monstros que vivem apenas em nossa rica imaginação. Monstros que nos fazem sofrer por alguns dias, semanas ou meses. Monstros que afetam negativamente nossas relações com as pessoas, nossa produtividade em nossos estudos e trabalhos. Monstros que de feio só têm o nome porque não podem nos fazer mal na vida real.

Existem várias explicações para este tipo de comportamento. Talvez cada área da Psicologia tenha sua própria maneira de explicar por que insistimos em ficar criando em nossas cabeças situações que normalmente não são verdadeiras e que, possivelmente, nunca vão ocorrer. Aqui, para o contexto do Pílula Vermelha, talvez mais importante que entender a razão pela qual fazemos isso é aceitar que fazemos e que, na grande e esmagadora maioria das vezes, isso só nos gera um sofrimento desnecessário.

Nossos sonhos vêm sem as dores

Eu me interesso em observar como as pessoas descrevem seus sonhos, seus desejos para a vida e como elas acabam falhando nas suas tentativas para alcançar seus objetivos. Esse tipo de comportamento me desperta grande interesse porque acredito que esteja bastante relacionado as sensações de felicidade que experimentamos ao longo de nossas vidas.

É natural da nossa espécie buscar justificativas para tudo que acontece em nossas vidas. Temos uma enorme necessidade em encontrar motivos para tudo. Talvez a grande pergunta que nos fazemos e que ficamos buscando resposta por toda a vida é: por que estamos aqui? Ou melhor: qual o meu propósito neste mundo?

Muitas das vezes respondemos a estas perguntas com nossos sonhos, nossos desejos e objetivos. Talvez até mesmo de forma inconsciente, corremos atrás dos nossos sonhos como uma maneira de justificar as nossas vidas. O efeito colateral desse movimento é que estamos sempre buscando algo novo, sempre correndo atrás de saciar um desejo que nunca termina.

Mas essa busca toda pela realização de nossos sonhos vem com um problema. Nossos sonhos não acompanham as suas dores. Ao sonhar, ao querer algo, não temos a noção clara do que significa correr atrás deste objetivo. Sentimos a dor da realização desse sonho apenas quando partimos para a execução do que é preciso para chegar ao nosso ponto final.

É no momento em que sentimos a dor do sonho que paramos para refletir se isso é realmente o que queremos. Começamos a misturar o sonho com sofrimento e, muitas vezes, abandonamos o sonho. O abandono vem normalmente com mais uma justificativa e as frustrações vão se acumulando em nossas vidas de maneira a construir um muro que vai evitando cada vez mais realizar algo novo.

Note que as frustrações se acumulam dos dois lados: queremos alcançar coisas melhores para a gente porque estamos frustrados com o que temos, mas, ao mesmo tempo, nos frustramos quando sonhamos com algo que não “conseguimos” alcançar. Quero destacar as muitas aspas nesse conseguimos da frase anterior. Não conseguimos, muitas vezes, porque desistimos.

Porque desistimos me deixa curioso. Por que não buscamos alcançar o nosso potencial máximo, e, ao invés, desistimos no meio do caminho? Certamente a resposta para essa pergunta é muito complexa e vai depender do contexto de cada pessoa, mas acredito que a forma como o nosso mundo está se moldando vem piorando a nossa relação com os desafios. Nossa vida, de certa forma, ficou fácil e quebrar o conforto para buscar algo melhor nos faz pensar: por que sair deste sofá confortável?

Para as novas gerações eu acredito que este problema vai ser ainda mais difícil de ser resolvido. Em uma determinada proporção, a dor da realização de um sonho para eles vai ser maior que para gerações passadas. Todos nós ficamos muito acostumados as recompensas rápidas que nossos dispositivos eletrônicos nos dão diariamente. A Inteligência Artificial, ao contrário do que muitos pensam, já é pervasiva em nossas vidas nos ajudando com diversas tarefas que geram certo fardo para a gente. Isso vai escalar cada vez mais…

Esse conforto do sofá, que podem ser as nossas relações interpessoais, a segurança do trabalho atual, etc., nos faz ficar presos a situações que eventualmente nos criam muitas frustrações. Acaba que a nossa escolha final é: fico sofrendo minhas frustrações no conforto do sofá, ou vou sofrer as dificuldades e desafios de correr atrás dos meus sonhos? Eu escolho sempre o segundo, prefiro sofrer de pé tentando que sentado no conforto. E você?