O porquê de nunca estarmos satisfeitos…

Você já deve ter notado que algumas pessoas nunca estão satisfeitas com o que têm, com o que conseguem obter durante suas vidas. Talvez você mesmo se veja nesta mesma situação, sempre correndo atrás de um objeto novo. Nunca está satisfeito com o que tem, a impressão ou a sensação é de que sempre está faltando alguma coisa para ser comprada, para ser conquistada. A psicologia tem um nome para isso: “satisfaction treadmill”. É como se você estivesse em uma esteira de academia e seu objeto de desejo parado à sua frente. Não importa o quanto você corra nessa esteira, nunca vai alcançar esse objeto de desejo.

Bom, você deve ter notado que eu usei o termo objeto ou objeto de desejo no parágrafo anterior. A razão de eu ter usado esse termo é a de que eu quero puxar essa discussão para o campo da psicanálise. De forma resumida e simplificada, para a psicanálise, todos nós somos movidos por uma força interna chamada libido. Essa libido que nasce com a gente e nos acompanha por toda a nossa vida tem uma origem pulsional, instintiva. Nosso primeiro instinto, assim que nascemos, é o da fome. Choramos e buscamos um objeto “externo” com o objetivo de resolver esse instinto fortíssimo. Descobrimos, muito rapidamente, que o seio da mãe é esse objeto. Desde esse momento muito incipiente das nossas vidas aprendemos a desejar um objeto para satisfazer a um instinto.

OK, vamos dar mais um passo. O processo libidinal que descrevi no parágrafo anterior evolui, passamos a sentir outras necessidades, sermos influenciados por outros instintos. Com o nosso desenvolvimento, passamos a dar contorno à nossa identidade, a um Eu. Um Eu que passa a enxergar que o que está fora da gente é o que satisfaz nossos desejos. Passamos a desejar então esses objetos externos que são a fonte de satisfação de nossos instintos, da nossa força pulsional. Mas daí algo muito louco acontece porque nesse processo de desenvolvimento do Eu e das pulsões, passamos a desejar objetos que a nossa sociedade e cultura não permitem que sejam desejados. Por exemplo, não podemos desejar o seio das nossas mães pelo resto de nossas vidas.

Essa é uma simplificação grotesca do processo com um todo porque várias outras coisas acontecem em paralelo. Nosso corpo evolui e passamos a sentir mais refinadamente áreas sensíveis que dão origem a outros instintos. Pessoas passam a fazer coisas com a gente que nos desagradam e queremos exterminar isso da nossa frente. Nossos pais começam a cortar, remover (a palavra na psicanálise é castrar) comportamentos e desejos que não são adequados. Isso tudo vai ocorrendo de forma muito rápida, desde muito cedo. Muitas dessas situações não podem ser devidamente elaboradas pelas crianças. Quando essas imagens que simbolizam os desejos são castradas e a criança não entende, se dá um processo traumático, sendo então esse desejo, esse instinto em relação ao objeto desejado, recalcado ou reprimido em nosso inconsciente.

Pois bem, diante desse preâmbulo, vamos ao ponto que quero chegar. Os instintos recalcados ou reprimidos não sumiram, eles continuam lá em nosso inconsciente. Eles estão lá batendo à porta da nossa consciência e pedindo passagem para sair. Nossa mente precisa fazer um esforço enorme para não deixar esse conteúdo relacionado a um instinto absurdo escapar. Mas a libido, que é a força relacionada ao instinto, continua lá. Essa energia flui em nosso corpo e precisamos dar vazão a ela, dado que ela segue sendo alimentada por esse instinto proibido. Qual a saída psíquica que damos? Colocamos essa libido em outros objetos. Colocamos na prática de esportes, nos estudos, no trabalho, nos bens materiais que compramos, nas viagens, etc…

Vejam como a razão de sermos eternos insatisfeitos é muito simples. Estamos sempre insatisfeitos porque não podemos dar vazão a um instinto proibido a muito tempo, esse instinto que fica alimentando a nossa libido durante nossa vida toda. O mais complexo disso tudo é que sequer sabemos o que é esse instinto proibido. Ele se encontra tão escondido nas profundezas de nosso inconsciente que não temos chance de o elaborar. Talvez, depois de um processo psicanalítico difícil e demorado tenhamos a chance de começar a entender. A partir daí começamos a controlar nossas vidas, a escolher onde colocar nossas energias. De repente, correr atrás de tudo deixa de fazer sentido. Saímos da esteira e andamos pela rua nos aproximando de forma clara dos nossos desejos verdadeiros.

Mas se você não conseguir chegar nesse ponto, desculpe, vai continuar olhando a grama do vizinho e achando mais bonita que a sua, vai desejar a vida dos outros nas mídias sociais, vai comprar bolsas, sapatos, roupas e carros que não precisa, vai trabalhar e se deixar escravizar por um sistema que enxergou isso muito melhor que você. Você cego, você comandado por um inconsciente cruel e um superego tirânico que deixa passar só a libido que reforça sua energia para correr atrás do rabo.

Uma visão Psicanalítica sobre o desempenho e desenvolvimento humano

Você já se pegou agindo por impulso, sem fazer a menor ideia do motivo? De repente, explode, perde a linha, joga tudo pro alto—só depois, perplexo, balbucia: “não sei por quê, mas perdi a paciência”. E aquela tarefa que precisa ser feita? Você empurra, inventa mil desculpas, deixa rolar… até o desconforto virar tortura. Procrastina sem saber explicar direito. Verdade seja dita: você não está no comando. Quem dirige o show é alguém (ou algo) que você nem faz ideia de que existe.

Carl Jung tem uma frase sensacional que recordei recentemente em um dos episódios do podcast do Lex Friedman: “Até que você torne o inconsciente consciente,ele direcionará sua vida e você o chamará de destino”. Trocando em miúdos, essa frase quer dizer o seguinte: se você não tiver consciência de seus pensamentos, sentimentos e motivações subconscientes, eles influenciarão suas decisões e ações, levando-o a acreditar que sua vida é predeterminada ou controlada por forças externas. Essencialmente, ele destaca a importância da autoconsciência e da compreensão da própria psique para assumir o controle da própria vida.

“Assumir o controle da própria vida” – é muito mais fácil falar do que fazer. Isso ocorre porque normalmente desconhecemos o conteúdo inconsciente que temos em nossas mentes, conteúdos que direcionam nossas vidas sem que sequer possamos notar. São tais conteúdos inconscientes que justificam certos comportamentos inadequados ou procrastinação. São eles que também influenciam a realização de tarefas em nossos estudos, trabalho e vida pessoal. São o que acabam por prejudicar nosso desenvolvimento e desempenho.

Aqui vai uma pequena história que ocorreu comigo na esgrima. Tenho um grande amigo com quem treino e compito. Por muito tempo eu não conseguia jogar bem contra ele em competições. Nos treinos, eu conseguia jogar melhor que ele, já nas competições não havia o que me fizesse jogar bem contra ele. Foi apenas depois de várias sessões de terapia Psicanalítica com análise de sonho e outras questões que consegui elaborar o conteúdo inconsciente que bloqueava meu jogo contra ele em competições. Descobri uma ligação inconsciente entre o meu amigo e meu falecido Pai que me impedia de ganhar dele em competições. Depois de elaborar o conteúdo inconsciente, meu jogo contra ele em competições mudou e não perdi novas partidas contra ele.

Eu demorei para iniciar um processo de terapia Psicanalítica. Possuía uma visão preconceituosa da Psicanálise. Minha estrutura de personalidade predominantemente neurótica obsessiva me impedia de aceitar visões de mundo que não fossem estruturadas ou, como costumo dizer, quadradas. Não bastasse isso, toda a minha formação de muitos anos em engenharia contribuiu ainda mais para tal visão. Hoje, depois de quase um ano de terapia (não pretendo parar nunca mais), vejo o mundo de forma diferente, especialmente depois de ter acompanhado em clínica vários casos de pessoas enfrentando o mesmo desafio, sendo bloqueadas de viver melhor e de forma mais plena por questões inconscientes. 

Todos nós estamos sujeitos a estes conteúdos inconscientes que influenciam significativamente nossos comportamentos. A história de constituição que temos de nosso Eu cria os mais diversos tipos de conteúdos em nossas mentes. Os conteúdos manifestos podem ser bem trabalhados pela parte racional do nosso cérebro e, nestas situações, podemos refletir e ajustar nossos comportamentos de acordo com o melhor para o desenvolvimento de cada um de nós. Já o conteúdo inconsciente, por ser desconhecido, não pode ser trabalhado. Ele simplesmente aparece nos momentos mais inapropriados.

Como falei anteriormente, os conteúdos inconscientes são construídos conforme a nossa história de vida. Questões de apego, traumáticas, afetos, edípicas, narcísicas, desejos reprimidos, etc. todas constituem estes conteúdos inconscientes. Somente ao passar por um processo terapêutico Psicanalítico é possível trazer tais conteúdos a tona, os elaborar e daí para frente os tratar como parte integrante de nossas personalidades, de nosso Eu.

Quer crescer, atingir seu máximo, sentir-se vivo por inteiro? Mexa nesse vespeiro. Tenha coragem. Entre para a análise, olhe de frente o que te governa. Só assim você deixa de ser passageiro do próprio destino e assume, finalmente, o volante da sua vida.

Freud e as fantasias das áreas de vendas

Faz algum tempo que trabalho na área de vendas, passei por algumas posições e responsabilidades em empresas distintas e acompanhei outras empresas na área de tecnologia. Uma coisa que sempre me chamou a atenção foi como os números para os objetivos de vendas são estabelecidos e, posteriormente, gerenciados. Desde a minha primeira reunião de forecast, ou funil de vendas, me chamou a atenção a lógica pela qual o gestão sênior das empresas construía o objetivo da empresa e como isso ia decantando ao longo da estrutura de vendas.

No Inglês existe um termo muito bom e que acho que se enquadra bem no ponto que quero fazer aqui nesse texto: wishful thinking. Esse termo significa acreditar que algo é verdadeiro e vai acontecer simplesmente porque você quer, mesmo que haja pouca ou nenhuma evidência de que vá acontecer. Esse termo sempre passava pela minha cabeça nas reuniões executivas e de forecast de vendas. Para mim, as ideias de market share e todos os percentuais que as empresas aplicam para chegar em um objetivo de vendas sempre pareceu um exercício de alucinação. Usando uma terminologia Psicanalítica, poderia dizer que todos ali estão em um surto Psicótico.

Mas essa alucinação coletiva não acaba na definição dos objetivos anuais e trimestrais, ele se estende ao longo dos trimestres e na forma como os números são gerenciados. No nível mais baixo, o do vendedor, o coitado precisa dar seu jeito para entregar um número que normalmente é forçado a aceitar por semestre frente ao que foi alucinado pelos níveis superiores nas fases anteriores do processo. O vendedor, então, começa a atuar correndo atrás das oportunidades de negócio tentando ao máximo fechar o que seja possível para se aproximar do seu objetivo a cada trimestre.

Mas aí algo mágico acontece com todos os envolvidos, e é justo aí que entra Freud. Freud argumenta que nós não vivemos uma realidade objetiva. Ao invés disso, nós fantasiamos e vivemos nossas realidades individuais para poder suportar as pressões e desconfortos da vida que vivemos. É neste ponto em que há a quebra do que o vendedor realmente pode fazer para fechar o negócio e as fantasias que ele cria para poder suportar as pressões. É neste momento que começamos a escutar frases como: eu acredito que vamos fechar! Nesta fantasia, o vendedor realmente vive aquela crença na oportunidade e passa essa fantasia estrutura acima. Ao longo do trimestre, todos dentro da organização de vendas vivem uma fantasia coletiva.

Não é à toa que muitas empresas falham em entregar seus objetivos de vendas. Não se trata de falta de processo, de ferramentas ou de técnicas de vendas. Não é que os vendedores são pessoas ruins ou péssimos profissionais. Trata-se de um comportamento inconsciente das pessoas que estão ali envolvidas em um contexto conturbado e sob pressão para sobreviver. Pessoas que acabam recorrendo a defesas psicológicas imaturas para lidar com o sofrimento psíquico sob a qual estão inseridas.

Verdade

O que é a verdade? Em um dos episódios da série A Fundação do Isaac Asimov tem uma passagem que diz mais ou menos assim: a história que fica é a aquela que dentre todas as versões, prevalece. Mas essa versão que prevalece é realmente a verdade? Não, muitas vezes não é.

O mundo de hoje está cheio de versões falsas em sua história. Acompanhamos todos os dias notícias em que já não deveríamos mais confiar porque não carregam a verdade, ao invés disso elas trazem uma visão de mundo distorcida baseada em falsos moralismos e cheia de hipocrisia.

A arma que nós, como sociedade, deveríamos utilizar para combater as versões falsas vem sendo esquecida em diversas culturas. O senso crítico não é mais ensinado nas escolas. Pelo contrário, modelos rígidos de educação formam pessoas cada vez mais robotizadas, automáticas e apressadas em julgar algo que não entendem.

O resultado disso tudo é uma fratura social cada vez maior. As pessoas que detém certo poder para impor suas verdades, prevalecem, exatamente como Le Bon descrevia em 1895. Os tolos sem senso crítico aceitam tais verdades e o mundo passa a girar dessa forma como uma enorme caverna de Platão azul, ou agora cinza por conta da atmosfera poluída pelas queimadas planeta afora.

Mas o que fazer? Àqueles que podem, e tem um mínimo de consciência e sobriedade lêem, estudam, oxigenam seu cérebro e questionam as muitas versões. Questionam sem julgamentos apresados, questionam de forma racional, dentro do que a Psicanálise chama de Ego Integrado, sinal de maturidade na constituição do caráter de cada pessoa.

Pessoas de caráter maduro entendem que bem e mal fazem parte da nossa natureza, sabem que somos, como seres humanos, uma miríade de comportamentos, sentimentos, desejos e impulsos. Pessoas de caráter maduro sabem identificar os interesses ocultos na manipulação de construtos e abstrações feita de forma consciente ou não.

Mas e a verdade? A verdade então é a maior das mentiras. A verdade não existe senão na cabeça preconceituosa de cada um de nós. No mundo de hoje com as várias versões de verdade disponíveis vivemos e as escolhemos como fazemos com as séries da Netflix. Essa verdade combina 98% com você! A verdade é aquela que queremos acreditar, que nem bunda, cada um com a sua!

A força da realidade

Em 1911 Freud criou o conceito de princípio de prazer e princípio de realidade como um mecanismo que permite explicar nosso funcionamento psíquico. É um conceito bastante simples que, embora tenha mais de 100 anos, segue muito forte como explicação de nossos comportamentos conscientes e inconscientes.

O princípio de prazer tem uma relação bastante estreita com os nossos desejos. Nossos desejos, que em última instância estão relacionados com demandas internas, nos proporcionam, quando satisfeitos, grande satisfação, ou em outras palavras, nos entregam prazer. Por exemplo, acabei de comprar um tênis. O desejo de comprar o tênis veio de uma demanda interna (normalmente inconsciente) e que poderia ser explicada como necessidade de me mostrar mais novo, o que representa vigor, poder, energia e força. Ao realizar o desejo de comprar e calçar o tênis, em última instância, cumpro a essa demanda de vitalidade.

Nosso funcionamento psíquico opera normalmente dessa maneira, com um pequeno porém, o princípio da realidade. O princípio da realidade pode ser entendido como um regulador social do princípio de prazer. No exemplo do tênis, o princípio de realidade, normalmente operado pelo nosso consciente, não se opôs à demanda de jovialidade apresentada pela realização do desejo de compra. Hoje é cada vez mais comum e aceito que pessoas mais velhas se vistam de forma mais “moderna”, até, claro, um determinado limite. Limite este que é definido pelo princípio da realidade, o qual é formado por nossas crenças, cultura, educação, etc.

Nossos desejos (prazeres) e conjunto de crenças (realidade) estão operando em constante dinamismo de forma a definir o que faremos, ou não. Esse é justamente o sistema que opera quando uma mulher bonita passa perto de um homem acompanhado e ele evita olhar porque sua mulher está ao lado. A besta inconsciente está louca para se libertar e fazer ele olhar para o lado, mas sua consciência o impede porque sabe perfeitamente das consequências caso ele se entregue a este prazer.

Brincadeiras à parte, essa é, de fato, a descrição do funcionamento do sistema. Entretanto, nem sempre esse sistema opera de forma eficiente. Em algumas situações o desejo inconsciente é tão forte que as reclusas do consciente, que impedem que tais desejos saiam, se rompem causando certos atos falhos por parte das pessoas. Nós estamos sempre desejando alguma coisa. Preste muita atenção em suas conversas com outras pessoas e vai notar que elas estão sempre carregadas de desejos latentes, e algumas vezes, manifestos. A grande maioria das vezes tais desejos carregam grandes frustrações impostas pelo princípio da realidade.

Mas existe um segredo, algo que podemos fazer para estar conforme ao sistema e sem carregar frustrações. Podemos mover a realidade. Mover a realidade significa trabalhar, atuar para que possamos realizar nossos desejos. Algumas vezes, a realidade vai requerer que estudemos mais, trabalhemos mais, ou coloquemos mais esforço em nossas realizações. Outras vezes vai significar se organizar em grupos para mudar o contexto social, cultural ou político de onde vivemos. Sem mover a realidade vai ocorrer como vi um dia desses numa frase: ou você aumenta o sacrifício, ou diminui o desejo!

Liberação de Energia

Faz algum tempo eu comecei a perceber que certas pessoas mudam seus comportamentos e personalidade quando estão realizando certas atividades. É algo como se elas estivessem recebendo uma carga de energia muito grande fazendo aquilo. Elas ficam mais felizes, mais falantes, se movimentam mais, em resumo, se soltam.

Uma dessas atividades que fazem com que as pessoas se soltem é o esporte. Por natureza, a prática do esporte demanda explosão através da geração de uma energia muito forte. Normalmente, após a prática intensiva de algum esporte, nós nos sentimos bem, como se uma descarga de felicidade corresse em nossos corpos.

Outra atividade semelhante é a dança. Note quando você está em um show ou num bar onde as pessoas estão dançando, como elas mudam de comportamento. Naquele ato da dança, elas estão liberando uma energia importante. Se você conversar com elas, vai notar que após a dança elas vão descrever uma descarga de felicidade correndo pelo corpo (semelhante à prática de esporte).

Quem já se pegou cantando uma música enlouquecidamente alta dirigindo o carro? Poisé, assim como a dança e o esporte, cantar músicas de forma livre provoca a mesma liberação de energia que gera a descarga de felicidade correndo pelo corpo.

Bom, tem várias coisas que fazemos que geram a mesma sensação de liberação de energia. Mas, se você notou, eu estou usando muito o termo liberação de energia. Se estamos falando em liberação é porque essa energia estava reprimida de algum outro lugar, certo? Alguma ideia de onde ela foi reprimida?

Pensou?
Pense mais um pouco…
Um pouco mais…
E aí?
Vamos lá então…

Bom, para a Psicanálise, a energia que a gente investe vem dos nossos instintos ou pulsões. E se você respondeu que essa energia tem, ao menos em parte, um fundo sexual, você acertou. Para a Psicanálise, Freud em específico, nossos desejos têm origem no que ele chama de Pulsão Sexual e como, pelo princípio da realidade, nós não podemos executar todos esses desejos, a energia originada por eles acabam por ser gasta por nós em outras atividades.

Note aqui uma coisa muito interessante. Compare a sensação que a gente tem ao liberar nossa energia com a dança, música ou esporte com a sensação da liberação de energia na prática de sexo. É algo muito parecido, com a exceção do orgasmo. Isso porque a fonte de energia é a mesma.

Mas, o que ocorre com as pessoas que não podem liberar essa energia através dessas atividades? A repressão dos desejos vindo das pulsões sexuais sem a liberação da energia gera sintomas sentidos pelo nosso corpo. Depressão, ansiedade, problemas musculares, alérgicos, etc… Não é à toa que a prática de exercício físico é posto por várias pessoas da área da saúde como o grande remédio do nosso século.

Então, meus amigos, a moral da história aqui é: libere sua energia! Se é através da música, dança, exercício, ou o bom e velho sexo, não importa… o que importa mesmo é que você libere geral!

Ato e potência

Minha paixão pela matemática e física limitou minha visão de mundo por muitos anos. Embora seja eternamente grato pela construção do meu raciocínio lógico, minha formação em engenharia ajudou que eu entendesse potência como algo apenas físico, como força. Até alguns anos atrás, potência para mim era a força de um carro ou energia gerada por uma usina elétrica.

Faz alguns anos, ao estudar um pouco de filosofia, meu entendimento de potência mudou. Ao aplicar em nós, seres humanos, Aristoteles define potência como “as possibilidades do ser”. Essa definição rearranjou o significado da palavra em minha cabeça e sempre que vejo ou escuto uma referência a esse significado, vejo como estamos longe de realizar nossa potência.

Realizar a potência, esse termo foi usado ontem pelo James Blake no discurso de premiação do Miami Open. Ao se referir ao Sinner, ele disse: acompanho o esforço que ele faz nos bastidores para realizar sua potência. Sinner tem a potência, é dele, inato, mas para realizar a potência, como bem disse o Blake, ele precisa colocar esforço na sua realização.

Muitos de nós realizamos nossa potência em diversas fases de nossas vidas. Acredito que é na fase escolar, mais ou menos na adolescência, o momento em que mais realizamos nossa potência. Potência intelectual e potência física. A grande maioria para por aí. Ao se formar na faculdade, se dedicam ao trabalho e praticamente colocam um fim na realização da sua potência. Nesse momento, passa a realizar o que Aristoteles chama de Ato, a manifestação atual do ser.

Vendo o jogo de tênis ontem, e ouvindo todas as reflexões feitas pelos jogadores e comentaristas (em particular o Fino), me convenço cada vez mais de que nossa potência é infinita. Notem, Aristoteles diz que potência são as possibilidades do ser. Por mais que cheguemos a um limite em uma área, podemos seguir tendo potência em outras.

Sou Esgrimista, adoro esporte, me encanta ver a transformação das pessoas pela realização de sua potência no esporte. Essa resolução não é apenas técnica ou física, é também (ou principalmente) mental e espiritual. Quando acabou o jogo o Sinner disse: não importa o que aconteça, no dia seguinte eu volto para treinar. Áron Szilágyi fala algo parecido em seu documentário, que após as competições ele volta para treinar o básico.

Para finalizar, a realização da potência mental das pessoas que estão no topo é incrível. Eles pensam diferente. O Sinner falou que estava simplesmente curtindo aquele momento. Que não sabia se seria o último ou um de muitos. Isso me lembra o conceito de Flow do Psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi. No fundo, não importa onde realizamos nossa potência, desde que a realizemos. O Flow está nessa realização, é o que nos dirige.

Dostoiévski estava certo quando disse que o homem ama o processo de atingir o objetivo, não o objetivo.

Até onde?

Até onde você está disposto a ir pelas coisas nas quais acredita? Qual o momento em que você deve dizer: chega, cansei, vou pra outra? Aposto que você já deve ter se feito essa pergunta algumas centenas ou milhares de vezes em sua vida 🙂

O interessante é que esse tipo de pergunta se aplica a diversas áreas de nossa vida. Será que vale a pena seguir passando por isso no meu trabalho? Será que eu não posso ser feliz em um relacionamento com outra pessoa? Será que não está na hora de trocar meu carro? Enfim, a questão é aplicável em várias áreas, mas naquelas em que há uma conexão íntima a escolha é muito mais difícil.

Na semana que passou uma das minhas amigas do curso de Psicologia me perguntou: você já pensou em desistir do curso? A minha resposta para ela foi: não, desde que comecei a estudar Psicologia eu me apaixonei, criei uma conexão íntima com o que estava aprendendo e nunca sequer passou pela minha cabeça desistir. Não é fácil acomodar tudo o que eu faço, mas estudar esse negócio acabou se tornando para mim algo em que verdadeiramente acredito.

Tenho acompanhado diversas mudanças no mercado de trabalho, pessoas indo e voltando em várias empresas. Quando eu vejo tais movimentações me pergunto: o que leva as pessoas a fazerem isso? Acho que tem duas explicações: 1) é quando elas deixam de acreditar no que faziam naquele momento. Perdeu o significado, se tornou tão vazio que uma simples proposta econômica igual, ou às vezes menor, faz com que elas tomem a decisão de sair. 2) é uma decisão transacional e passageira, por dinheiro, prazer, vício ou para se sentir segura.

Para mim é quase que impossível não associar uma decisão de sair (de qualquer coisa, lugar ou relacionamento) ao meu dia a dia no esporte. Eu perdi a conta de quantas vezes passou na minha cabeça desistir de alguma das minhas atividades esportivas. Tiveram sempre duas razões pelas quais eu decido ficar a cada vez que essa idéia me vem. A primeira é que eu tenho uma crença inabalável nos benefícios do esporte para minha saúde física e mental. A segunda é que a cada dia eu vejo que me torno uma pessoa melhor. Melhoro meu movimento, minha capacidade aeróbica, minha técnica, meu sono, etc.

Mas, onde eu quero chegar com isso? De quem realmente depende a sua decisão de sair de um trabalho, de uma relação ou atividade? É da empresa, da pessoa que você se relaciona ou da atividade em si ou depende de você? Eu acho que depende da gente, depende de mim transformar meu trabalho em algo bom para mim e em que eu me construa. Depende de mim transformar a atividade que realizo (esporte ou estudo) em algo que me torne um ser humano bem acima da média. Depende de mim cultivar os relacionamentos interpessoais que tenho em momentos agradáveis e seguros.

Mas vamos ficar eternamente investindo nessas coisas? Não precisamos mudar? Não, não precisamos mudar desde que essas coisas tenham um significado para a gente e que elas sigam nos transformando em pessoas melhores. Se tornar a cada dia uma pessoa melhor já é por si só uma mudança. Uma decisão que fuja dessa lógica se torna transacional, meramente econômica (seja financeira, seja em esforço físico ou cognitivo). Uma decisão meramente transacional coloca em risco seu significado e construção.

Agora, o trabalho perdeu o sentido e sem contribuições para o seu crescimento, o relacionamento não está lhe ajudando (ao contrário, está lhe colocando para baixo, lhe diminuindo), a atividade lhe causando estresses e não gerando satisfação ou benefícios, enfim, o carro está dando muita manutenção e lhe deixando na mão, mude! Pula fora, busque algo melhor! Busque algo com significado e que permita a você seguir seu processo de crescimento pessoal.

Na linguagem matemática: até onde = f (significado, crescimento pessoal).

Momentos difíceis

Momentos difíceis nos constroem! Como diz o ditado: o que não nos mata nos deixa mais fortes. Pessoas que passam por momentos difíceis são mais fortes, são mais resilientes, podem carregar cruzes cada vez mais pesadas. Hoje em dia a vida é muito mais fácil para todos, começa pelo fato de que não precisamos sair de nossas cavernas para caçar um animal bem maior que a gente para ter o que comer.

A humanidade evoluiu e tornou a vida das pessoas muito mais fácil, mas com isso perdemos a chance de nos construir pessoas mais fortes, pessoas que pudessem seguir mudando o mundo. Claro que existem exceções a essa regra, mas a grande maioria de nós não está muito à vontade com a ideia de sair da caverna para buscar o que comer. O fato é, quem não passa por momentos difíceis, não cresce!

Existem basicamente duas formas de passar por momentos difíceis. A primeira é quando não temos alternativa, a vida nos coloca em situações que nos forçam a nos construir. Pessoas que nascem em famílias com alguma disfunção são um exemplo (filho com um pai viciado em álcool). Quando a vida nos impõe certas circunstâncias nós precisamos achar formas para sair e com isso vamos crescendo.

A segunda é quando buscamos por momentos difíceis. Sobrepor as fases escolares, iniciar um curso superior, seguir estudando a vida inteira, iniciar um novo esporte, se propor a competir, mudar de cidade, entrar em novos ciclos de amizade, se arriscar em um novo negócio, etc. Esses são todos exemplos de situações complexas que ESCOLHEMOS nos meter e o fazemos porque estamos buscando crescimento. Estes são os momentos difíceis que decidimos ter para gente, formando experiências de vida que ninguém pode nos tirar.

O corpo humano é a máquina mais perfeita que existe na face da terra. Se pararmos um pouquinho para entender nosso corpo podemos entender como ele se constrói. Desde o início é uma briga, é um esforço que cada célula, ou melhor, átomo do corpo faz para ir se formando e se tornando um ser completo. Depois de formados, o corpo passa a operar de forma otimizada. Nesse momento, por exemplo, para que nossos músculos cresçam nós precisamos fazer força (literalmente). Para que o nosso cérebro se desenvolva, precisamos fazer com que ele forme mais sinapses, etc.

O desenvolvimento humano é maravilhoso! Fazer o difícil não é o mais prazeroso no curto prazo. Fazer o difícil dói, incomoda. Mas depois que o difícil é feito, vem a recompensa de longo prazo. Depois que o animal está morto, podemos sentar para nos alimentar, alimentar nossa família. Escolher se aventurar por momentos difíceis é a chave para o crescimento!

A massa submissa

Na série da Netflix O Alienista há uma passagem onde o personagem JP Morgan fala do potencial de crescimento da Nova Iorque do século 19. Nessa passagem ele diz que para que a cidade alcance a esse potencial é necessário uma força de trabalho submissa. Ele demonstra mais preocupação com a agitação social em decorrência dos assassinatos que os assassinatos propriamente ditos.

Essa fala representa de forma clara a lógica capitalista onde cada um de nós estamos inseridos. Nós estamos submissos a uma lógica, a uma ideologia, que nos faz levantar todos os dias e sair para fazer nossos trabalhos de formiguinhas sem nos dar ao trabalho de refletir sobre o que realmente está por trás de tudo. Em grande parte, sujeitamos nossa liberdade e escolhas à necessidade do trabalho para a manutenção de um padrão de vida imposto.

Bom, mas meu intuito aqui não é criticar o capitalismo. Não vou ser hipócrita aqui porque sou um capitalista ferrenho. O que quero discutir aqui vai mais ao encontro da ideia do livre arbítrio, ou melhor dizendo, perguntar se realmente somos livres para fazer nossas escolhas. Os dois primeiros parágrafos serviram para ilustrar que não, não somos. Assim como o capitalismo limita nossas escolhas, outras forças fazem o mesmo.

Ontem assisti novamente, possivelmente pela nonagésima vez, o filme Pink Floyd The Wall. A diferença dessa vez foi que o Pedro esteve comigo em uma parte do filme. Estivemos falando um pouco das mensagens que o filme trás. Falamos da educação e de como ela nos impõe um conjunto de idéias de como viver. Desde cedo somos dirigidos e limitados pela educação que recebemos. Quanto mais rígida, menos criativos e mais submissos nos tornamos.

Existem também outras forças que fazem o mesmo: Religião, Normas Sociais, Governo, etc. Via de regra, as ideias apresentadas por estes grupos seguem sempre a mesma lógica, impor submissão, controle de massas. Nós mesmo, formiguinhas, nos incomodamos ao ver alguém saindo do padrão. A norma, o padrão é tão forte em nossas formações que nos incomodamos quando vemos alguém fora delas.

Então a pergunta é a seguinte: sou livre para fazer o que quero ou estou na massa submissa? Sempre lembro de Freud ao rever essa pergunta: parte do nosso sofrimento vem das imposições que precisamos nos submeter.

Mas podemos ser totalmente livres para fazer o que quisermos? Hoje em dia, provavelmente não! Mas reconhecer isso nos dá uma vantagem em relação aos que estão totalmente dentro da Matrix. É algo do tipo: eu sei que me submeto, mas as vezes, poucas vezes, eu ligo o foda-se e faço o que quero da minha vida, o resto goste, ou não!