
Você já se pegou agindo por impulso, sem fazer a menor ideia do motivo? De repente, explode, perde a linha, joga tudo pro alto—só depois, perplexo, balbucia: “não sei por quê, mas perdi a paciência”. E aquela tarefa que precisa ser feita? Você empurra, inventa mil desculpas, deixa rolar… até o desconforto virar tortura. Procrastina sem saber explicar direito. Verdade seja dita: você não está no comando. Quem dirige o show é alguém (ou algo) que você nem faz ideia de que existe.
Carl Jung tem uma frase sensacional que recordei recentemente em um dos episódios do podcast do Lex Friedman: “Até que você torne o inconsciente consciente,ele direcionará sua vida e você o chamará de destino”. Trocando em miúdos, essa frase quer dizer o seguinte: se você não tiver consciência de seus pensamentos, sentimentos e motivações subconscientes, eles influenciarão suas decisões e ações, levando-o a acreditar que sua vida é predeterminada ou controlada por forças externas. Essencialmente, ele destaca a importância da autoconsciência e da compreensão da própria psique para assumir o controle da própria vida.
“Assumir o controle da própria vida” – é muito mais fácil falar do que fazer. Isso ocorre porque normalmente desconhecemos o conteúdo inconsciente que temos em nossas mentes, conteúdos que direcionam nossas vidas sem que sequer possamos notar. São tais conteúdos inconscientes que justificam certos comportamentos inadequados ou procrastinação. São eles que também influenciam a realização de tarefas em nossos estudos, trabalho e vida pessoal. São o que acabam por prejudicar nosso desenvolvimento e desempenho.
Aqui vai uma pequena história que ocorreu comigo na esgrima. Tenho um grande amigo com quem treino e compito. Por muito tempo eu não conseguia jogar bem contra ele em competições. Nos treinos, eu conseguia jogar melhor que ele, já nas competições não havia o que me fizesse jogar bem contra ele. Foi apenas depois de várias sessões de terapia Psicanalítica com análise de sonho e outras questões que consegui elaborar o conteúdo inconsciente que bloqueava meu jogo contra ele em competições. Descobri uma ligação inconsciente entre o meu amigo e meu falecido Pai que me impedia de ganhar dele em competições. Depois de elaborar o conteúdo inconsciente, meu jogo contra ele em competições mudou e não perdi novas partidas contra ele.
Eu demorei para iniciar um processo de terapia Psicanalítica. Possuía uma visão preconceituosa da Psicanálise. Minha estrutura de personalidade predominantemente neurótica obsessiva me impedia de aceitar visões de mundo que não fossem estruturadas ou, como costumo dizer, quadradas. Não bastasse isso, toda a minha formação de muitos anos em engenharia contribuiu ainda mais para tal visão. Hoje, depois de quase um ano de terapia (não pretendo parar nunca mais), vejo o mundo de forma diferente, especialmente depois de ter acompanhado em clínica vários casos de pessoas enfrentando o mesmo desafio, sendo bloqueadas de viver melhor e de forma mais plena por questões inconscientes.
Todos nós estamos sujeitos a estes conteúdos inconscientes que influenciam significativamente nossos comportamentos. A história de constituição que temos de nosso Eu cria os mais diversos tipos de conteúdos em nossas mentes. Os conteúdos manifestos podem ser bem trabalhados pela parte racional do nosso cérebro e, nestas situações, podemos refletir e ajustar nossos comportamentos de acordo com o melhor para o desenvolvimento de cada um de nós. Já o conteúdo inconsciente, por ser desconhecido, não pode ser trabalhado. Ele simplesmente aparece nos momentos mais inapropriados.
Como falei anteriormente, os conteúdos inconscientes são construídos conforme a nossa história de vida. Questões de apego, traumáticas, afetos, edípicas, narcísicas, desejos reprimidos, etc. todas constituem estes conteúdos inconscientes. Somente ao passar por um processo terapêutico Psicanalítico é possível trazer tais conteúdos a tona, os elaborar e daí para frente os tratar como parte integrante de nossas personalidades, de nosso Eu.
Quer crescer, atingir seu máximo, sentir-se vivo por inteiro? Mexa nesse vespeiro. Tenha coragem. Entre para a análise, olhe de frente o que te governa. Só assim você deixa de ser passageiro do próprio destino e assume, finalmente, o volante da sua vida.