
Minha paixão pela matemática e física limitou minha visão de mundo por muitos anos. Embora seja eternamente grato pela construção do meu raciocínio lógico, minha formação em engenharia ajudou que eu entendesse potência como algo apenas físico, como força. Até alguns anos atrás, potência para mim era a força de um carro ou energia gerada por uma usina elétrica.
Faz alguns anos, ao estudar um pouco de filosofia, meu entendimento de potência mudou. Ao aplicar em nós, seres humanos, Aristoteles define potência como “as possibilidades do ser”. Essa definição rearranjou o significado da palavra em minha cabeça e sempre que vejo ou escuto uma referência a esse significado, vejo como estamos longe de realizar nossa potência.
Realizar a potência, esse termo foi usado ontem pelo James Blake no discurso de premiação do Miami Open. Ao se referir ao Sinner, ele disse: acompanho o esforço que ele faz nos bastidores para realizar sua potência. Sinner tem a potência, é dele, inato, mas para realizar a potência, como bem disse o Blake, ele precisa colocar esforço na sua realização.
Muitos de nós realizamos nossa potência em diversas fases de nossas vidas. Acredito que é na fase escolar, mais ou menos na adolescência, o momento em que mais realizamos nossa potência. Potência intelectual e potência física. A grande maioria para por aí. Ao se formar na faculdade, se dedicam ao trabalho e praticamente colocam um fim na realização da sua potência. Nesse momento, passa a realizar o que Aristoteles chama de Ato, a manifestação atual do ser.
Vendo o jogo de tênis ontem, e ouvindo todas as reflexões feitas pelos jogadores e comentaristas (em particular o Fino), me convenço cada vez mais de que nossa potência é infinita. Notem, Aristoteles diz que potência são as possibilidades do ser. Por mais que cheguemos a um limite em uma área, podemos seguir tendo potência em outras.
Sou Esgrimista, adoro esporte, me encanta ver a transformação das pessoas pela realização de sua potência no esporte. Essa resolução não é apenas técnica ou física, é também (ou principalmente) mental e espiritual. Quando acabou o jogo o Sinner disse: não importa o que aconteça, no dia seguinte eu volto para treinar. Áron Szilágyi fala algo parecido em seu documentário, que após as competições ele volta para treinar o básico.
Para finalizar, a realização da potência mental das pessoas que estão no topo é incrível. Eles pensam diferente. O Sinner falou que estava simplesmente curtindo aquele momento. Que não sabia se seria o último ou um de muitos. Isso me lembra o conceito de Flow do Psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi. No fundo, não importa onde realizamos nossa potência, desde que a realizemos. O Flow está nessa realização, é o que nos dirige.
Dostoiévski estava certo quando disse que o homem ama o processo de atingir o objetivo, não o objetivo.