
Na série da Netflix O Alienista há uma passagem onde o personagem JP Morgan fala do potencial de crescimento da Nova Iorque do século 19. Nessa passagem ele diz que para que a cidade alcance a esse potencial é necessário uma força de trabalho submissa. Ele demonstra mais preocupação com a agitação social em decorrência dos assassinatos que os assassinatos propriamente ditos.
Essa fala representa de forma clara a lógica capitalista onde cada um de nós estamos inseridos. Nós estamos submissos a uma lógica, a uma ideologia, que nos faz levantar todos os dias e sair para fazer nossos trabalhos de formiguinhas sem nos dar ao trabalho de refletir sobre o que realmente está por trás de tudo. Em grande parte, sujeitamos nossa liberdade e escolhas à necessidade do trabalho para a manutenção de um padrão de vida imposto.
Bom, mas meu intuito aqui não é criticar o capitalismo. Não vou ser hipócrita aqui porque sou um capitalista ferrenho. O que quero discutir aqui vai mais ao encontro da ideia do livre arbítrio, ou melhor dizendo, perguntar se realmente somos livres para fazer nossas escolhas. Os dois primeiros parágrafos serviram para ilustrar que não, não somos. Assim como o capitalismo limita nossas escolhas, outras forças fazem o mesmo.
Ontem assisti novamente, possivelmente pela nonagésima vez, o filme Pink Floyd The Wall. A diferença dessa vez foi que o Pedro esteve comigo em uma parte do filme. Estivemos falando um pouco das mensagens que o filme trás. Falamos da educação e de como ela nos impõe um conjunto de idéias de como viver. Desde cedo somos dirigidos e limitados pela educação que recebemos. Quanto mais rígida, menos criativos e mais submissos nos tornamos.
Existem também outras forças que fazem o mesmo: Religião, Normas Sociais, Governo, etc. Via de regra, as ideias apresentadas por estes grupos seguem sempre a mesma lógica, impor submissão, controle de massas. Nós mesmo, formiguinhas, nos incomodamos ao ver alguém saindo do padrão. A norma, o padrão é tão forte em nossas formações que nos incomodamos quando vemos alguém fora delas.
Então a pergunta é a seguinte: sou livre para fazer o que quero ou estou na massa submissa? Sempre lembro de Freud ao rever essa pergunta: parte do nosso sofrimento vem das imposições que precisamos nos submeter.
Mas podemos ser totalmente livres para fazer o que quisermos? Hoje em dia, provavelmente não! Mas reconhecer isso nos dá uma vantagem em relação aos que estão totalmente dentro da Matrix. É algo do tipo: eu sei que me submeto, mas as vezes, poucas vezes, eu ligo o foda-se e faço o que quero da minha vida, o resto goste, ou não!