
É interessante notar como a nossa sociedade e cultura são voltadas para os resultados. Essa forma de pensar está tão arraigada em nosso pensamento que cobramos as pessoas pelos seus resultados de forma inconsciente. Vou começar esse texto falando da experiencia esportiva desse fim de semana e concluir com um paralelo para outras áreas da vida.
Nesse fim de semana eu levei o Pedro para mais um torneio Nacional de esgrima. Depois que passei a estudar Psicologia, comecei a notar comportamentos que antes pareciam normais. Me refiro a perceber como os pais cobram os filhos por resultados. Muitos pais estão tão focados nos resultados que não conseguem observar tudo que seus filhos estão realizando ao participar de algo tão importante e difícil como uma competição nacional.
Mais interessante ainda é observar que, ao se focarem nos resultados, esses pais passam a culpar terceiros pelas “derrotas” dos filhos no torneio. As pressões sobre os árbitros são pesadas em função disso. Árbitros que são nossos amigos no dia a dia e que estão fazendo seu melhor no torneio. Essas pessoas NUNCA prejudicariam as crianças que estão competindo. Mas a cegueira dos pais é tanta que não veem que o filho perdeu por outros tantos motivos que não a arbitragem. Ao culpar quem não tem culpa, os pais perdem a maior chance de todas de construir seus filhos como pessoas melhores.
Na Psicologia Esportiva pode se dizer que existem dois tipos de motivação para os atletas: a motivação por resultado e a motivação para a realização. Não há modelo certo ou errado, cada tipo tem sua importância dependendo do estágio do atleta. Entretanto, para crianças, a motivação para a realização ou construção é normalmente a que funciona melhor.
Depois que comecei a estudar Psicologia Esportiva passei a fazer um trabalho diferente com o Pedro. Este trabalho está voltado para a realização e não para o resultado. Combinei com ele que o resultado não interessa, que vamos começar a nos preocupar com o crescimento e aperfeiçoamento do nosso jogo. A cada torneio paramos e refletimos: minhas ações nesse torneio foram melhores que no torneio passado? Estamos nos concentrando na construção.
O torneio desse fim de semana foi o segundo com essa lógica. O Pedro tem ido competir mais solto, relaxado (embora tenha tido alguns comportamentos que reprovo muito). Na chegada aqui em São Paulo estava mais claro para ele o que precisa ser feito para dar o próximo passo. Ele está começando a enxergar que é um processo, uma construção. Que ele vai se tornar melhor olhando para dentro, para o seu jogo, sem se preocupar com fatores externos.
Acho que vale a pena também fazer um paralelo disso tudo com o que ocorrem em nossas vidas. Desde cedo somos educados para fazer as coisas em função do resultado, e não pela satisfação da realização, do crescimento. Quem nunca escutou: vai estudar para a prova! Essa frase deveria ser: vai estudar para aprender! O resultado da prova vai ser consequência do aprendizado. Quando deixo o Pedro na escola eu sempre digo: aproveite os estudos!
No trabalho a lógica é também a mesma. Faz algumas semanas lembro que vi um post de alguém criticando a forma de medir o desempenho dos funcionários no LinkedIn. Nossas medições são sempre voltadas para os resultados. Essas métricas não se preocupam com as pessoas, mas sim com os resultados das empresas. Novamente, não estamos trabalhando a construção da pessoa profissional. Novamente temos a influência pesada da cultura, da regras sociais.
A Psicologia Esportiva descreve muitos impactos psicológicos sobre a escolha do foco motivacional para um atleta. Tais impactos afetam diretamente o desempenho, a força e determinação diária nos treinos e, automaticamente, os resultados finais. O paralelo com outras áreas da vida é muito forte. Ao nos preocuparmos com a construção dos profissionais os resultados virão.
Tenho a impressão de que há muito que aprender em relação a motivação para a realização e como ela influencia outras áreas de nossas vidas. Assim que descobrir mais eu conto aqui…