Sobre a Páscoa…

Uma das coisas mais interessantes que aprendi quando estudei sobre Teologia foi que o Novo Testamento é uma espécie de re-leitura do Antigo Testamento. Nesse contexto, vale lembrar que o Antigo Testamento é, na verdade, um recorte da Torá, livro sagrado do Judaísmo ou Bíblia Hebráica.

Bom, a Páscoa tem um significado muito importante no Antigo Testamento da Bíblia, onde é celebrada como uma das principais festas religiosas judaicas. A palavra “Páscoa” vem da palavra hebraica “Pesach”, que significa “passagem”. No Antigo Testamento, a Páscoa era uma celebração que comemorava a libertação do povo de Israel da escravidão no Egito. Deus enviou Moisés para liderar os israelitas em sua fuga do Egito, e a Páscoa era o momento em que Deus libertou seu povo da opressão egípcia.

No Novo Testamento a Páscoa é o ápice do Ano Litúrgico, representa a consolidação da salvação do povo Cristão iniciado pela Paixão de Cristo, quando Ele deu sua vida na Cruz. A Ressurreição de Cristo pode ter diversas leituras diante desse contexto. Na visão mais tradicional a Páscoa representa a salvação das nossas almas. Quando morremos, fazemos a passagem para o lado de Cristo. Ressuscitamos em uma “nova” vida ao lado de Deus no céu. Nessa leitura a nossa passagem pela terra é uma preparação para o que vem depois com a nossa morte e ressurreição. Tudo o que fazemos aqui serve de referência para o que acontecerá depois.

Nessa visão mais tradicional, dura e punitiva a Igreja, ou a religião, usa a ressurreição como uma forma de controle. Algo do tipo: “cuide do que você faz aqui, caso contrário você não vai para o lado do Pai quando ressuscitar”. Por muito tempo essa abordagem punitiva foi utilizada de forma ampla pela Igreja Católica. Isso de certa forma se reflete em nossos comportamentos e na forma como criamos nossos filhos. Quem nunca disse ou ouviu: “Papai do Céu está vendo a tolice que está fazendo”. Toda essa visão e enfoque punitivo tem origem na Páscoa, porque enfoca nossas vidas no pós morte. Fazemos e nos comportamos agora para o que vem depois.

Mas essa visão mais dura da Religião Católica Cristã vem mudando faz algum tempo. Diversas releituras da Bíblia vêm mostrando uma visão mais focada no agora, em aproveitar a vida neste momento. A verdade é que não sabemos o que vem depois, precisamos mesmo é nos concentrar em viver uma vida plena agora. Cuidar de si mesmo, amar o próximo e viver intensamente é a maior consideração de gratidão que podemos dar pela maior dádiva que recebemos de Deus, nossas vidas!

Em minhas aulas de Teologia aprendi sobre uma releitura muito interessante da passagem da Serpente e da Maçã. Nessa releitura a Serpente era Deus e a Maça o conhecimento. Quando Deus ofereceu a Eva a possibilidade de conhecer tudo ao seu redor estava perguntado algo como: “aqui está o mundo ao seu redor, se você o conhecer pode aproveitar e viver intensamente a vida que lhe dei, quer experimentar?”. A Páscoa pode também ser relida de uma forma diferente. Algo do tipo: “talvez muita coisa que você tenha feito até agora não tenha dado certo, mas que tal começar tudo de novo, que tal seguir tentando?”. A Páscoa é mais uma tentativa para você aproveitar sua vida ao máximo, aproveite!

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Autor: André Ferreira

Diretor de Vendas LATAM na LivePerson, Doutor em Ciências, Mestre em Engenharia e MBA em Gestão de Operações pela POLI USP. Estudante de Psicologia.

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