
Uma das coisas que tenho percebido nas pessoas é como elas são relapsas com elas mesmo, como elas não têm cuidado com sua saúde física e mental. E eu não sou o único a perceber isso. Tenho visto algumas propagandas de governos de países mais desenvolvidos destacando a importância do cuidado consigo mesmo. Claramente estes governos o fazem com a intenção de diminuir os gastos com a saúde de pessoas quando elas chegam a idades avançadas.
Acho que hoje em dia é senso comum a idéia de que se começamos a nos cuidar cedo, podemos viver uma vida mais feliz, saudável e longeva. Especialmente, quando chegarmos a uma idade mais avançada, poderemos aproveitar melhor a vida, sem depender de outras pessoas. Não é justo com nenhum ser humano ter que passar por uma vida dura de esforço, preocupação, estresse e trabalho e depois viver em cima de uma cama ou com pouca locomoção porque não conseguiu cuidar do seu corpo quando era o momento para isso.
Fico então me perguntando por que as pessoas não se cuidam? O que leva a maioria das pessoas a não tirar uma parte do seu tempo para se cuidar? Por que as pessoas não podem tirar uma parte do seu dia para fazer algo prazeiroso? Por que as pessoas não cuidam de sua própria saúde? Minha hipótese é que as pessoas sofrem de dois problemas: estão muito ocupadas com o que não é prioritário e estão muito cansadas e sem energia para começar algo novo.
Esse fim de semana eu comecei a praticar uma técnica da Psicologia Esportiva com o meu filho e com alguns alunos da Baldin Esgrima, a técnica se chama Plano de (Re) Focalização. A técnica consiste em se preparar para uma competição de Esgrima planejando as ações de jogo antes do torneio. Ela passa por uma série de passos incluindo mentalização das ações, entre outras coisas, mas o ponto crítico da técnica é ensinar, ou construir o hábito, de se focar no que realmente importa para o atleta, suas ações de jogo.
Ontem conversei com o Pedro sobre a técnica e perguntei para ele o que realmente importava na técnica. Ele me disse: me ajuda a ter foco! Para um adolescente da idade dele a resposta me surpreendeu. Esses adolescentes não conseguem fazer uma única coisa, estão sempre fazendo duas ou três coisas ao mesmo tempo. Então quando ele chegou a essa conclusão sozinho, comecei a ver uma luz no fim do túnel. Temos um longo caminho pela frente, mas se repetirmos esse processo várias vezes, ele pode conseguir incorporar o conceito e aplicar para várias áreas de sua vida.
Bom, com adultos a lógica de estar muito ocupado não é diferente. A demanda de trabalho está sempre muito latente. As pessoas começam a trabalhar cedo e chegam em casa tarde para assumir outras tarefas domésticas. Isso quando não tem mais de um emprego ou ainda estão estudando junto com o trabalho. Não bastasse isso tudo, acabamos por nos atirar por horas nos nossos dispositivos eletrônicos, mídias sociais e canais de streaming. Agora, olhando esse monte de coisas a pergunta que fica é, na lógica do plano de (re) focalização, o que disso tudo é realmente importante? Algo do que faço é mais importante que minha saúde?
Daí vem então o segundo ponto, mesmo que o nosso Cortex Pré Frontal nos mostre o que logicamente é mais importante, cadê a energia para mudar? Com o tanto de atividades que são feitas, normalmente chegamos em casa cansados e queremos nos atirar no sofá e ficar rolando o dedo no feed do Instagram. Eu lembro de quando cheguei em São Paulo faz mais de 20 anos atrás. Chegava em casa sempre depois das 19:00 e a primeira coisa que fazia era me atirar no sofá para assistir o jornal. Acabava cochilando de tão cansado para ir jantar depois das 22:00. Não preciso dizer que foi o pior momento da minha vida onde cheguei a pesar quase 100 quilos.
O lance desse cansaço, por incrível que pareça, não é a quantidade de coisas que fazemos, mas o estilo de vida que vivemos. Poucas horas de sono de qualidade no dia e uma alimentação ruim nos drenam para o nosso pior. A medida que engordamos e reduzimos nossa massa muscular, reduzimos também nossa taxa de consumo calórico basal. O resultado é um corpo mais lento e preguiçoso. Isso vira uma bola de neve e depois dos 50, se nada for feito, é ladeira abaixo tendo como consequência principal a redução significativa de massa muscular, obesidade, diabetes, etc. As propagandas dos governos mencionadas acima não são à toa!
Tenho conversado com pessoas mais velhas que estão tentando correr atrás do prejuízo e recuperar seu corpo. O que elas sempre me dizem é: deveria ter começado a me exercitar mais cedo! Muitas dessas pessoas esperaram se aposentar para começar a cuidar de si mesma, mas acho que esse é o tipo de coisa que não dá para esperar. Cuidar de si próprio deveria ser uma prioridade de todos. Por causa do que eu vivi na vida eu me cuido pensando no seguinte: não quero que o meu filho tenha que se preocupar em cuidar da minha saúde.


