Criamos nossos próprios monstros!

Depois que comecei a estudar Psicologia passei a notar como nossa mente é terreno fértil para imaginar coisas que não acontecem de verdade. Cheguei a essa conclusão após algum estudo mas, principalmente, depois de observar o comportamento de algumas pessoas, incluindo o meu próprio comportamento, o meu próprio pensamento.

A Terapia Cognitivo Comportamental (TCC), uma das primeiras áreas da Psicologia na qual tive contato, dá especial ênfase na influência do pensamento distorcido e da avaliação cognitiva irrealista de eventos sobre os sentimentos e comportamentos do indivíduo. A partir do estudo da TCC, comecei a aplicar em mim mesmo alguns testes e passei a notar que me deparava de forma frequente com o comportamento de imaginar coisas que quase nunca se tornavam realidade.

Por exemplo, em meu penúltimo emprego eu costumava pensar muito, especialmente antes de dormir, em situações nas quais eu seria demitido ou passaria por frustrações grandes. Esses pensamentos normalmente se apresentavam no dia anterior a uma chamada importante com o chefe ou um cliente. Era recorrente e me gerava muita ansiedade. Depois de estudar a TCC eu passei a anotar esses pensamentos de forma a confrontá-los com a realidade. Foi interessante descobrir que 99,99% das vezes tudo de mal que eu pensava que ocorreria, não ocorreu. Sofri sem necessidade…

Depois de ter passado por esta experiência pessoal, passei a observar o comportamento das outras pessoas, tentando entender, comigo mesmo, o que estava passando na cabeça delas. Costumava fazer algumas perguntas para entender o pensamento delas e, posteriormente, concluir se o que elas haviam pensado ocorreu de verdade ou foi mero fruto de sua imaginação. De certa forma, não foi surpresa descobrir que o que ocorreu com elas foi muito parecido com o que aconteceu comigo. Assim como eu, estas pessoas sofreram sem necessidade…

Criamos nossos próprios monstros! Monstros que vivem apenas em nossa rica imaginação. Monstros que nos fazem sofrer por alguns dias, semanas ou meses. Monstros que afetam negativamente nossas relações com as pessoas, nossa produtividade em nossos estudos e trabalhos. Monstros que de feio só têm o nome porque não podem nos fazer mal na vida real.

Existem várias explicações para este tipo de comportamento. Talvez cada área da Psicologia tenha sua própria maneira de explicar por que insistimos em ficar criando em nossas cabeças situações que normalmente não são verdadeiras e que, possivelmente, nunca vão ocorrer. Aqui, para o contexto do Pílula Vermelha, talvez mais importante que entender a razão pela qual fazemos isso é aceitar que fazemos e que, na grande e esmagadora maioria das vezes, isso só nos gera um sofrimento desnecessário.