Nossos sonhos vêm sem as dores

Eu me interesso em observar como as pessoas descrevem seus sonhos, seus desejos para a vida e como elas acabam falhando nas suas tentativas para alcançar seus objetivos. Esse tipo de comportamento me desperta grande interesse porque acredito que esteja bastante relacionado as sensações de felicidade que experimentamos ao longo de nossas vidas.

É natural da nossa espécie buscar justificativas para tudo que acontece em nossas vidas. Temos uma enorme necessidade em encontrar motivos para tudo. Talvez a grande pergunta que nos fazemos e que ficamos buscando resposta por toda a vida é: por que estamos aqui? Ou melhor: qual o meu propósito neste mundo?

Muitas das vezes respondemos a estas perguntas com nossos sonhos, nossos desejos e objetivos. Talvez até mesmo de forma inconsciente, corremos atrás dos nossos sonhos como uma maneira de justificar as nossas vidas. O efeito colateral desse movimento é que estamos sempre buscando algo novo, sempre correndo atrás de saciar um desejo que nunca termina.

Mas essa busca toda pela realização de nossos sonhos vem com um problema. Nossos sonhos não acompanham as suas dores. Ao sonhar, ao querer algo, não temos a noção clara do que significa correr atrás deste objetivo. Sentimos a dor da realização desse sonho apenas quando partimos para a execução do que é preciso para chegar ao nosso ponto final.

É no momento em que sentimos a dor do sonho que paramos para refletir se isso é realmente o que queremos. Começamos a misturar o sonho com sofrimento e, muitas vezes, abandonamos o sonho. O abandono vem normalmente com mais uma justificativa e as frustrações vão se acumulando em nossas vidas de maneira a construir um muro que vai evitando cada vez mais realizar algo novo.

Note que as frustrações se acumulam dos dois lados: queremos alcançar coisas melhores para a gente porque estamos frustrados com o que temos, mas, ao mesmo tempo, nos frustramos quando sonhamos com algo que não “conseguimos” alcançar. Quero destacar as muitas aspas nesse conseguimos da frase anterior. Não conseguimos, muitas vezes, porque desistimos.

Porque desistimos me deixa curioso. Por que não buscamos alcançar o nosso potencial máximo, e, ao invés, desistimos no meio do caminho? Certamente a resposta para essa pergunta é muito complexa e vai depender do contexto de cada pessoa, mas acredito que a forma como o nosso mundo está se moldando vem piorando a nossa relação com os desafios. Nossa vida, de certa forma, ficou fácil e quebrar o conforto para buscar algo melhor nos faz pensar: por que sair deste sofá confortável?

Para as novas gerações eu acredito que este problema vai ser ainda mais difícil de ser resolvido. Em uma determinada proporção, a dor da realização de um sonho para eles vai ser maior que para gerações passadas. Todos nós ficamos muito acostumados as recompensas rápidas que nossos dispositivos eletrônicos nos dão diariamente. A Inteligência Artificial, ao contrário do que muitos pensam, já é pervasiva em nossas vidas nos ajudando com diversas tarefas que geram certo fardo para a gente. Isso vai escalar cada vez mais…

Esse conforto do sofá, que podem ser as nossas relações interpessoais, a segurança do trabalho atual, etc., nos faz ficar presos a situações que eventualmente nos criam muitas frustrações. Acaba que a nossa escolha final é: fico sofrendo minhas frustrações no conforto do sofá, ou vou sofrer as dificuldades e desafios de correr atrás dos meus sonhos? Eu escolho sempre o segundo, prefiro sofrer de pé tentando que sentado no conforto. E você?

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Autor: André Ferreira

Diretor de Vendas LATAM na LivePerson, Doutor em Ciências, Mestre em Engenharia e MBA em Gestão de Operações pela POLI USP. Estudante de Psicologia.

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