Distrações como fuga para o sofrimento…

Interessante observar a quantidade de textos em revistas e mídia social que aborda a questão do sofrimento, principalmente quando voltado para o contexto psicológico das pessoas. A busca da felicidade ou as discussões sobre segurança psicológica no trabalho estão relacionadas a questão do sofrimento psicológico.

Uma parte da teoria Freudiana também se apoia na questão do sofrimento psicológico. Para Freud, muito do que projetamos em nosso inconsciente vem de um certo sofrimento que vivemos em nossas vidas. Desde que passamos a ser, de certa forma, obrigados a cumprir com padrões sociais impostos pelas culturas Européias, desenvolvemos essa sensação de sofrimento.

Nos dias atuais o sofrimento psicológico pode assumir diversas formas e ter como gatilho conjuntos de fatores internos em nós mesmos e externos que estão associados ao ambiente em que vivemos. Existe uma hipótese de que desenvolvemos mecanismos de defesa para esse sofrimento. Uma ação de fuga que cria uma espécie de proteção, inconsciente, sobre o sofrimento que nos cerca.

No livro Indistraível o autor Neil Eyal defende a idéia de que nos sujeitamos as mais distintas distrações como mecanismo de fuga do sofrimento psicológico. Ele apresenta vários exemplos que vão desde as distrações que nos tiram de reuniões chatas (quem aí já participou de uma reunião em que nenhuma pessoa esteve ao celular ou computador respondendo mensagens?) ou trabalhos que não queremos executar, até encontros pessoais onde as pessoas não engajam entre si e ficam em seus celulares (pense na idéia de que as pessoas preferem ficar ao celular do que conversando com você).

Mas, de todos os exemplos que o autor colocou o que mais me incomodou foi o das crianças. Se as distrações por uso de dispositivos eletrônicos são uma fuga de sofrimento experimentado por crianças, então significa que elas estão preferindo ficar ao celular por uma razão. Esta razão está, possivelmente, relacionada a falta de atenção (e alguns outros fatores) que você deixa de prover como pai/mãe. A criança, para não sofrer com essa falta de atenção, recorre ao celular ou outro dispositivo eletrônico.

Eu tinha na cabeça que o uso exacerbado de dispositivos eletrônicos passava por uma espécie de vicio, como uma droga. Até então, eu não conseguia ter uma idéia do que serviria de origem para esse vício. Se o Neil estiver realmente certo sobre a distração colocada pelo uso dos dispositivos estar associada a uma fuga de uma eventual sensação de sofrimento, isso abre o caminho para uma outra forma de enxergar o problema. Estamos de frente com mais uma pílula vermelha!