Vencer, estar no pódio em uma competição é bom, muito bom, mas não é o melhor. Melhor que estar no pódio é tudo que aconteceu ao longo do caminho. A forma com que fomos e somos criados nos faz colocar toda a ênfase do nosso esforço na vitória, no objetivo final. Com isso, esquecemos por completo de aproveitar tudo que ocorre no caminho até o objetivo. Sofremos com esse processo. O verdadeiro significado da vitória está no seu caminho.
Faz algumas semanas eu conversei muito com um grande amigo sobre o que sentimos após uma competição de esgrima. Até a chegada da competição passamos por um turbilhão de sensações. O maior pico dessas sensações está na hora da festa, da realização da competição, onde estamos com todos os hormônios e neurotransmissores circulando a todo vapor dentro dos nossos organismos. Mas uma vez que a competição termina e chegamos no nosso objetivo, vem um grande vazio. Nos sentimos como uma grande caixa vazia, oca, sem mais nada dentro.
Por que isso acontece? Acho que uma das razões está no fato de que estamos sempre olhando para o objetivo final. Estamos tão preocupados em chegar lá que não percebemos o que ocorre durante a jornada que estamos percorrendo. A melhor analogia para mim é a de uma pessoa andando numa bicicleta dentro de um túnel escuro, olhando só a luz da saída do túnel. Ao seu redor só tem escuridão, ela não consegue ver nada, só vê a luz do fim do túnel.
Veja o que acontece. Talvez a primeira vez em que somos ensinados a olhar os objetivos é na escola. E o que nos “forçam” a fazer na escola? Tirar notas altas o suficiente para passar. É o objetivo… Será que não deveriam nos ensinar algo diferente? Será que não deveriam nos ensinar a construir amizades, cultivar uma relação com pessoas? Será que não deveriam nos ensinar a nos organizarmos a manter um ambiente sempre limpo e preparado para o coletivo? Não deveriam nos ensinar a aplicar os conceitos ou a entender e criticar aquilo que nos é ensinado?
Esse ciclo que nos é ensinado nas escolas vai se repetindo em cada uma das fases das nossas vidas até chegarmos à vida adulta, quando começamos a trabalhar. Nos trabalhos, mais objetivos… Mas, e o que acontece ao longo do caminho do trabalho? Nada, é um túnel escuro, só vemos a luz do objetivo que estamos buscando no fim. Na Psicologia esse tipo de motivação é chamada de Extrínseca, ou seja, dirigida por algo externo ao indivíduo. Por exemplo, um salário, uma comissão, etc.
Essa semana participei de uma competição veterana de esgrima super legal, o Esgrimaster. Consegui jogar bem e cheguei ao pódio. Fiquei feliz, mas aproveitei a oportunidade para fazer uma reflexão frente a conversas que tive com pessoas que conheci lá no torneio. Nessa reflexão, cheguei à conclusão de que o que acontece comigo é a chamada Motivação Intrínseca. Essa motivação é aquela que está dentro do indivíduo, que é feita por simples prazer, na busca de experimentar boas sensações.
Ao rever essas sensações que ia experimentando na jornada, lembrei dos pequenos passos que foram me fazendo seguir em frente. Passos como: as alegrias que tive com o grupo da Baldin Esgrima, os exercícios funcionais e malucos que fiz com o Daniel Puglisi, os pesos levantados e conversas sobre futebol com a galera da academia do CMSP, todas as pessoas com suas histórias maravilhosas que conheci ao longo da caminhada e que agora ficam como grandes amigos, as risadas, choros, medos e alívios que senti com a Thásia e o Pedro, etc. Eu fui aproveitando cada uma dessas etapas. Eu não estava olhando a vitória em um torneio, estava brincando, conhecendo, observando, sentindo. A cada dia eu estava me sentindo vivo!
Estar no pódio é como fazer uma venda importante no trabalho, como conseguir um diploma no estudo, entre diversos outros exemplos de conquistas. Mas melhor que cada uma dessas coisas é curtir o caminho! A analogia aqui é como estar andando de bicicleta em um campo aberto, com uma natureza incrível. Olhando, sentindo os aromas, a temperatura, sem uma luz no fim. Não tem fim, não precisa ter fim, porque o legal está no que é experimentado diariamente.
Curtir a caminhada, observar os arredores, sentir, VIVER… o destino é simplesmente a consequência de tudo que passamos!