Ser grato por tudo, será mesmo?

Ultimamente eu tenho visto muita postagem de textos e vídeos curtos com essa ideia da gratidão, de ser sempre grato pelas coisas boas que acontecem em nossas vidas. As pessoas que colocam isso defendem que a gratidão nos traz mais felicidade. Eu não estou convencido disso e talvez você que está lendo esse artigo também não esteja. Vamos conversar um pouco sobre isso…

Nós temos um mecanismo em nosso cérebro que chamamos de percepção. Sendo muito objetivo em relação à percepção, basicamente notamos as coisas que estamos focando a nossa atenção. Existem vários estudos sobre isso e se trata de algo consolidado na Psicologia. Vocês podem conhecer mais sobre isso procurando sobre o experimento do Gorila Invisível. Esse experimento demonstra bem essa simplificação que acabei de colocar.

Bom, acontece que quando estamos focados em agradecer por tudo, deixamos de perceber as outras coisas ao nosso redor. É por esse mecanismo que a gratidão vai gerar boas sensações na gente, sensações estas que chamamos de felicidade. Mas ao impor esse foco na gratidão das coisas boas, deixamos de olhar para coisas igualmente importantes que nos fazem crescer. São situações duras da vida que despertam sensações ruins associadas à infelicidade, mas que nos servem de motor para melhorar. Ao focar na gratidão, de forma constante, criamos um movimento de “cegueira”, que me parece perigoso a longo prazo, porque não trabalha a causa raiz do problema.

Um parêntese, essa lógica da gratidão é a mesma usada por diversas religiões. A gratidão faz parte das ideias centrais de religiões como o Cristianismo. O interessante disso tudo é que provavelmente parte das pessoas que defendem a gratidão como forma de chegar à felicidade não são religiosas e até mesmo criticam de forma dura as religiões que usam da mesma argumentação.

OK, mas se não devo ser grato por tudo, o que devo fazer? Qual a causa raiz das minhas angústias? Infelizmente não há resposta simples para isso. Ser grato é o jeito simples e o que vai lhe deixar cedo no longo prazo. Entender a causa raiz dos problemas que geram sensações ruins passa por várias coisas. Uma destas coisas, e que acho bem interessante, é o que alguns Psicólogos chamam de Satisfaction Treadmill (Esteira da Satisfação). A analogia aqui é a seguinte: você vai na academia se exercitar na esteira. Começa caminhando e vai acelerando até estar correndo. Não importa a velocidade, você nunca sai do lugar.

Veja, estamos sempre na busca da satisfação com algo que vemos na frente, mas sempre que chegamos a esse ponto rapidamente ficamos insatisfeitos e buscamos mais. Se estamos sempre nessa busca ficar agradecendo resolve? Claro que não, o problema é a busca desenfreada por algo novo, sempre. A gente realmente precisa ficar nessa busca por algo novo, temos sempre que estar na esteira da satisfação? Olhe para si próprio e responda a essa pergunta. Não temos que agradecer, temos que estar em paz com o que conseguimos. Aproveitar as sensações boas do que já “tocamos”.  Especialmente das pessoas que nos cercam e momentos que vivemos. Carpe Diem!