O que você tem a perder?

A resposta a esta pergunta, segundo o que muitos de nós pensamos na maioria das vezes é: TUDO! Achar que temos muito ou tudo a perder quando tomamos uma decisão é algo comum e isso está relacionado a alguns mecanismos nossos sob os quais vamos falar nessa conversa.

Mas por que pensamos assim? O que nos faz pensar e agir de forma que achemos que nossa vida se limita a coisas que já fazemos ou temos? Dentre vários aspectos que podem influenciar essa maneira de pensar e agir, quero falar especialmente de duas: nosso apego ao que temos e o sentimento de arrependimento.

Vamos fazer um pequeno experimento: abra o seu armário, veja todas as roupas que você tem. Agora separe em três grupos: 1) as que você usa com frequência; 2) as que você usa pouco e; 3) as que você não usa. Depois que você separar, vai provavelmente notar que no grupo 1 tem pouca roupa, no grupo 2 tem um pouco mais e no 3 tem um bocado de roupa. Ora, se você não usa a maioria das roupas que tem, por que ainda guardar?

Esse apego que descobrimos no experimento é uma das razões pela qual achamos que temos muito a perder quando nos deparamos com uma decisão. Nos apegamos a rotina de vida que levamos, ao trabalho/profissão que desempenhamos, aos relacionamentos que nos cercam, mesmo quando estas coisas não nos fazem bem. Uma parte desse apego está relacionada ao fato de que nos fechamos para o mundo ao nosso redor. Lembram do mito da caverna de Platão que falamos em um dos primeiros artigos aqui? Poisé… Estudando um pouco do mecanismo de funcionamento do nosso cérebro descobri que ao nos fecharmos para coisas novas, nós, de certa forma, encurtamos o nosso cérebro, fazemos ele diminuir de capacidade.

O sentimento de arrependimento é uma outra face desse pensamento de perda quando nos deparamos com uma decisão. Existem experimentos super interessantes que demonstram a influência do sentimento de arrependimento em uma decisão, mas o que mais me chama atenção é a lógica de fazer frente ao não fazer. Explico… eu sempre achei que se arrepender por algo que fiz é melhor do que por algo que deixei de fazer. Poisé, acontece que na cabeça da maioria das pessoas, é o contrário. As pessoas se sentem mais confortáveis em se arrepender por algo que deixaram de fazer do que por algo que fizeram. Elas preferem pensar “ainda bem que não tomei tal decisão” do que “não deveria ter tomado essa decisão”.

O que acontece aqui com esse mecanismo de “proteção” é que ele nos impede de crescer, de nos construir pessoas melhores e mais preparadas para a adversidade. A decisão de ir para algo novo ajuda no que os neurocientistas chamam de neuroplasticidade, capacidade que o nosso cérebro tem de criar novas conexões ou reforçar as existentes. Cada vez que saímos da zona de conforto e nos jogamos e uma experiência nova, ajudamos nosso cérebro e ficar mais forte. Ao invés de nos arrependermos de uma decisão, deveríamos olhar para ela de dizer: o que aprendi com esse movimento? Deveríamos contemplar o aprendizado e não remoer o que deu errado. Sempre tem algo positivo na mudança.

Eu acredito muito na ideia de que a nossa construção pela educação e experiência é quem molda a forma como vemos o mundo. Se estamos achando que temos sempre muito a perder com as decisões que tomamos, estamos na verdade perdendo uma grande oportunidade de construção. Não, não temos nada a perder com a mudança, sempre ganhamos. Não devemos jogar tudo o que construímos para o ar, mas precisamos estar abertos a considerar as possibilidades de mudança e aprender com elas. Experimente começar indo para o trabalho pegando um caminho diferente ou simplesmente abra mão das roupas que não usa em seu armário…