Qual seu maior medo?

É interessante quando paramos para analisar os desafios que a vida nos coloca. Sempre que nos é colocado algo novo ficamos com aquela sensação de frio na barriga, de ansiedade, de dúvida sobre o que vai acontecer. Estas sensações estão provavelmente associadas ao que conhecemos com o medo. O medo é um construto que nós humanos criamos. Ele ajuda a dar sentido às nossas vidas, mas ao mesmo tempo é tão abstrato que muitas vezes não sabemos por que sentimos medo.

Refletindo um pouco sobre isso, na tentativa de reduzir a abstração desse sentimento, cheguei à conclusão de que existem três tipos de medo: o de fracassar; o de que outros vão pensar e; o medo da perda. Vamos falar de cada um deles e entender um pouco como eles nos afetam, movimentam as nossas vidas ou, de certa forma, nos dão propósito.

Medo de fracassar: quantas vezes você já quis fazer uma coisa na sua vida, mas congelou e se disse “deixa pra lá, não vou conseguir”? A sensação de fracasso é muito pesada para várias pessoas, tão pesada que faz com o que deixemos de seguir em frente com parte de nossos sonhos e desejos. A origem desse sentimento está no fato de que normalmente quando fracassamos, fracassamos para alguém. Exemplo: tentei um emprego novo mas não deu certo, fracassei com o meu filho, vou ter que tirar ele da escola agora.

Medo de o que os outros vão pensar: essa forma de medo vem das nossas criações de origem Europeia. Quando lá atrás a sociedade começou a impor costumes, normas sociais, etc. ficamos presos a determinadas maneiras de agir e nos comportarmos. Este formato de comportamento social está mais preocupado com o outro do que conosco e a consequência disso é que passamos a fazer muito em função do que os outros vão pensar da gente. Exemplo: estou com algo me incomodando no nariz, mas não vou meter meu dedo porque vão pensar que não tenho educação.

Medo da perda: esse talvez seja o pai de todos os medos, a perda. Existem muitos estudos na área da Psicologia que mostram que uma vez que temos algo, nos apegamos a essa coisa, não queremos perder. Não queremos perder o que conquistamos na vida, principalmente as pessoas que apareceram e nos são mais próximas. Quem nunca chorou com medo de perder um dos pais, um namorado ou um amigo. O medo da perda é muito forte, especialmente a da perda de uma pessoa. O bacana é que com esse medo, temos o incentivo que precisamos para aproveitar a passagem dessas pessoas nas nossas vidas o máximo possível.

Mas, por que entender os medos que sentimos? Não devemos nos sentir paralisados pelo medo. Normalmente, travamos quando sentimos medo, buscamos algum mecanismo contra ele para nos proteger das sensações desconfortáveis que ele gera. E se olharmos para o medo de uma forma diferente, como algo bom? E se pensarmos que o medo pode nos ajudar a melhorar, a buscar o aperfeiçoamento para evitar o fracasso, a conversar e entender as outras pessoas ao invés de imaginar o que passa na cabeça delas sobre a gente, a curtir tudo e as pessoas ao nosso redor entendendo que tudo é passageiro mas que aproveitamos sempre ao máximo os que estiveram ao nosso redor?

O medo pode nos tornar melhores. Se nos aproveitamos do medo para melhorar, podemos olhar pra trás e dizer: eu fiz tudo que podia, aproveitei o quanto podia. Quando eu sinto medo eu simplesmente faço o que precisa ser feito, não há outra alternativa. Desistir não faz o medo ir embora. Ao invés de desistir, se agarrar ao medo e perguntar o que ele quer de você pode ser sua melhor escolha.

OK, vamos jogar… Mas vai ser nos meus termos!

Tenho refletido muito sobre isso ultimamente. Embora tenha lido muito sobre isso em diversos livros de Vendas e Negociação, acho que esse estalo disparou mesmo depois que comecei a jogar Sabre, na Esgrima. No Sabre, toda a movimentação do jogo se dá por conta da prioridade. Quem ganha a prioridade pode atacar e marcar o ponto. E quem se defende está buscando uma forma de retornar a prioridade para poder marcar o ponto. Essa busca de prioridade é, em última instância, a definição dos termos. Eu jogo, mas vamos jogar nos meus termos, ou seja, comigo definindo quem vai ter a prioridade.

Embora a esse processo de ganho de prioridade no Sabre seja difícil, na vida real a complexidade é muito maior. Definir como você vai jogar o jogo da vida, se vai ser feito dentro dos seus termos, é mais demorado e, na grande maioria das vezes, não o fazemos de forma intencional. Não definir os termos do jogo na vida real de forma deliberada talvez seja um dos nossos grandes erros quando tocamos nossas atividades. Isso significa que estamos sempre agindo de maneira reativa, instintiva, não estamos pensando nas condições de contorno e não favorecemos as nossas possibilidades de vitória.

Vamos analisar juntos o exemplo de um arquiteto. Um cliente chega até ele e pede um projeto para reformar a casa dele. Normalmente um arquiteto procura entender o que o cliente gostaria de ter dentro do projeto, ou seja, procura entender os requisitos necessários para que ele possa fazer o trabalho dele que é o projeto. Entender estes requisitos é super necessário, mas falta algo. Para trazer essa conversa para os seus termos é preciso entender o PORQUÊ da reforma. O que está por trás do desejo do cliente: o cliente quer reformar para vender; quer reformar para receber amigos nos fins de semana; etc. Ao entender o PORQUÊ, você começa a trazer para os seus termos e toda a conversa vai girar ao redor disso. Algo do tipo: essa parte da sala fica assim porque você vai ter mais conforto e possibilitar conversas mais agradáveis quando receber seus amigos.

Um outro exemplo que acho super legal aconteceu com a minha esposa. Na retomada pós pandemia os aeroportos ficaram um caos, tudo muito difícil de conseguir. No nosso voo, eu, ela e nosso filho estávamos em locais totalmente separados. Ela precisava colocar todo mundo junto, era o objetivo dela. Os funcionários da empresa estavam loucos com tanta gente reclamando. Se ela fosse até eles da mesma maneira que as outras pessoas, seria mais uma reclamando de forma estúpida. Ao invés disso ela trouxe a conversa para os termos dela. Primeiro ela olhou o nome da pessoa no crachá dela e disse: “fulana, sinto muito por essa confusão toda, imagino pelo que você esteja passando e não gostaria de estar trazendo mais um problema para você”. A funcionária parou, olhou para a minha esposa e disse: “puxa, como posso lhe ajudar?”. 

Todos nós ficamos particularmente atraídos por algo quando entramos em um terreno em que temos um envolvimento sentimental. Passamos a jogar no terreno do adversário quando abrimos esses sentimentos para eles. Da mesma forma, atraímos para o nosso terreno quando entendemos o que tem valor sentimental para o outro. Eu sempre digo para time de vendas com que trabalho o seguinte: procure saber qual o interesse pessoal das pessoas envolvidas na decisão. É mais forte que qualquer outro motivo.

Ganhar a prioridade na vida, jogar dentro dos seus termos, passa então por se interessar legitimamente pelo que importa para as pessoas. O legal disso é que você não está somente maximizando suas chances de sucesso, você está contribuindo para as pessoas da forma mais valiosa possível. Jogar nos seus termos não precisa ser algo ruim para as outras pessoas, pelo contrário. Eu arrisco a dizer que isso se aplica a quase tudo na vida, principalmente se considerarmos que estamos sempre envolvidos em relações pessoais quando buscamos algo para a gente.

Você pode estar se perguntando, na Esgrima sempre ganhamos prioridade. Não, muitas vezes não ganhamos prioridade. Mas toda a vez que o arbitro fala: “em guarda, prontos, combate”, na minha cabeça tem um movimento para tentar ganhar essa prioridade, trazer o jogo para os meus termos. Essa é a lógica para a vida. Se eu quero algo, preciso ser intencional em trazer o jogo para os meus termos.

O que você tem a perder?

A resposta a esta pergunta, segundo o que muitos de nós pensamos na maioria das vezes é: TUDO! Achar que temos muito ou tudo a perder quando tomamos uma decisão é algo comum e isso está relacionado a alguns mecanismos nossos sob os quais vamos falar nessa conversa.

Mas por que pensamos assim? O que nos faz pensar e agir de forma que achemos que nossa vida se limita a coisas que já fazemos ou temos? Dentre vários aspectos que podem influenciar essa maneira de pensar e agir, quero falar especialmente de duas: nosso apego ao que temos e o sentimento de arrependimento.

Vamos fazer um pequeno experimento: abra o seu armário, veja todas as roupas que você tem. Agora separe em três grupos: 1) as que você usa com frequência; 2) as que você usa pouco e; 3) as que você não usa. Depois que você separar, vai provavelmente notar que no grupo 1 tem pouca roupa, no grupo 2 tem um pouco mais e no 3 tem um bocado de roupa. Ora, se você não usa a maioria das roupas que tem, por que ainda guardar?

Esse apego que descobrimos no experimento é uma das razões pela qual achamos que temos muito a perder quando nos deparamos com uma decisão. Nos apegamos a rotina de vida que levamos, ao trabalho/profissão que desempenhamos, aos relacionamentos que nos cercam, mesmo quando estas coisas não nos fazem bem. Uma parte desse apego está relacionada ao fato de que nos fechamos para o mundo ao nosso redor. Lembram do mito da caverna de Platão que falamos em um dos primeiros artigos aqui? Poisé… Estudando um pouco do mecanismo de funcionamento do nosso cérebro descobri que ao nos fecharmos para coisas novas, nós, de certa forma, encurtamos o nosso cérebro, fazemos ele diminuir de capacidade.

O sentimento de arrependimento é uma outra face desse pensamento de perda quando nos deparamos com uma decisão. Existem experimentos super interessantes que demonstram a influência do sentimento de arrependimento em uma decisão, mas o que mais me chama atenção é a lógica de fazer frente ao não fazer. Explico… eu sempre achei que se arrepender por algo que fiz é melhor do que por algo que deixei de fazer. Poisé, acontece que na cabeça da maioria das pessoas, é o contrário. As pessoas se sentem mais confortáveis em se arrepender por algo que deixaram de fazer do que por algo que fizeram. Elas preferem pensar “ainda bem que não tomei tal decisão” do que “não deveria ter tomado essa decisão”.

O que acontece aqui com esse mecanismo de “proteção” é que ele nos impede de crescer, de nos construir pessoas melhores e mais preparadas para a adversidade. A decisão de ir para algo novo ajuda no que os neurocientistas chamam de neuroplasticidade, capacidade que o nosso cérebro tem de criar novas conexões ou reforçar as existentes. Cada vez que saímos da zona de conforto e nos jogamos e uma experiência nova, ajudamos nosso cérebro e ficar mais forte. Ao invés de nos arrependermos de uma decisão, deveríamos olhar para ela de dizer: o que aprendi com esse movimento? Deveríamos contemplar o aprendizado e não remoer o que deu errado. Sempre tem algo positivo na mudança.

Eu acredito muito na ideia de que a nossa construção pela educação e experiência é quem molda a forma como vemos o mundo. Se estamos achando que temos sempre muito a perder com as decisões que tomamos, estamos na verdade perdendo uma grande oportunidade de construção. Não, não temos nada a perder com a mudança, sempre ganhamos. Não devemos jogar tudo o que construímos para o ar, mas precisamos estar abertos a considerar as possibilidades de mudança e aprender com elas. Experimente começar indo para o trabalho pegando um caminho diferente ou simplesmente abra mão das roupas que não usa em seu armário…

Sua cabeça não é confiável!

Uma das coisas que mais me amarro em aprender sobre o nosso comportamento é a sua relação com a fisiologia do nosso corpo. Muitas vezes nos comportamos de certa maneira em função da produção de uma determinada substância que manda sinais para que o nosso encéfalo execute certas ações.

Você já ouviu falar da Leptina? Então, a leptina regula apetite e o comportamento alimentar, gerencia o gasto energético e coordena a capacidade reprodutiva. Alguns estudos científicos mostram que a secreção de leptina está relacionada a produção de insulina no nosso corpo, e vice-versa, além de diversos outros fatores como a presença ou ausência de glucose no organismo. Onde eu quero chegar aqui? É provável que, algumas vezes, o comportamento de comer que você tem seja causado por uma falsa sensação de fome criada pela resistência ou deficiência/ausência de leptina em seu corpo. Então, se a sensação de fome na nossa cabeça é coordenada pela leptina, melhor nem sempre confiar no que ela manda você fazer.

 Como falei, estudos científicos mostram que a secreção de leptina no nosso organismo depende de vários fatores. Um dos mecanismos funciona da seguinte forma. Vamos supor que você esteja sentindo fome e resolva comer um chocolate. Você mete uma bomba de açúcar para dentro e o seu corpo passa a produzir insulina desesperadamente para tentar metabolizar o açúcar que entra. Acontece que essa insulina toda produzida aumenta a secreção da leptina. Enquanto estamos saudáveis esse processo funciona bem. O lance é que quando esse processo se repete muito criamos resistência a insulina e a leptina. A falta de sensibilidade a leptina reduz a velocidade do seu metabolismo e manda um sinal para o seu hipotálamo de sensação de fome. Nessa situação, quando come, você não se sente saciado, passando a comer mais sem estar realmente com fome.

Estamos cansados de saber que o funcionamento do nosso corpo, como organismo, depende em grande parte do nosso comportamento. Sabemos que manter hábitos saudáveis nos ajuda evitar diversos problemas de saúde e acabamos de ver um exemplo de como nossa cabeça pode passar a pensar errado em função de um comportamento inapropriado. Veja, a ideia desse artigo não é lhe ajudar a emagrecer. A pílula vermelha aqui é mostrar que a nossa cabeça não reage da forma que esperamos em todas as situações. Algumas vezes ela reage de forma instintiva, onde esse instinto pode vir de uma reação fisiológica do corpo. Salvo engano, foi o filósofo René Descartes quem disse que não devemos confiar em nossos sentidos. Parece que ele estava certo…

Louco, né? Agora imagine quantos outros comportamentos eventualmente temos que são causados por essas substâncias que giram em nosso corpo?