Nada é para sempre…

Descobri que nada é para sempre de uma forma dolorosa. Quando temos um filho, ficamos com a ideia de que ele vai ficar junto conosco o resto da nossa vida. Vivi na pele a verdade de que nada é para sempre. A partir daquele momento o mundo começou a mudar para mim. Tudo aquilo que eu acreditava que era fixo e imutável se tornou fluido, frágil.

Neste processo de mudança, comecei a perceber que me prendia a ideias que nos são ensinadas desde cedo e que não são necessariamente certas, ou não mais. Nasci em Belém do Pará, em uma família tradicional religiosa devota de Nossa Senhora de Nazaré. Estudei quase que a vida toda em uma escola Católica. Esse contexto em que fui criado, vocês podem imaginar, formou em mim uma série de valores, crenças e ideias. Cada pessoa cresce seguindo uma lógica parecida, recendo influência e sendo construída com base no que sua família, sua escola, as pessoas ao seu redor lhe ensinam.

Mais recentemente tive a oportunidade de entender como alguns filósofos como Michel Foucault pensavam sobre a moral: “conjunto de valores e regras de ação propostas aos indivíduos e aos grupos por intermédio de aparelhos prescritivos diversos, como podem ser a família, as instituições educativas, as Igrejas, etc.”. O pulo do gato em relação a esse pensamento é entender que, à medida que estes “aparelhos prescritivos” mudam, nossos valores e regras de ação também mudam. Logo, aquela ideia de que acreditávamos ser verdade num momento da vida, pode não ser em outro momento.

Onde eu quero chegar com isso? Sim, no título deste texto: nada é para sempre. Participo de alguns ciclos de amizade onde conversamos bastante sobre o hábito das pessoas na sociedade. É normal vermos amigos criticando novos hábitos e preferências de pessoas que nos cercam, de pessoas que frequentam os mesmos locais que frequentamos. O que normalmente não entendemos é que, como disse Foucault, os novos hábitos são formados por novos “aparelhos prescritivos”. Não podemos criticar novos valores, hábitos ou preferências. Precisamos respeitar e entender. Nós mesmos como famílias somos um dos pilares que ajudaram a construir os novos valores.

Não nos prendemos somente a questões culturais, hábitos, etc. Muitas vezes nos prendemos a ideias que nós mesmos criamos para a gente. Uma vez trabalhei em uma empresa onde fui ameaçado de demissão por baixa performance em vendas. Minha primeira reação com a ameaça gerou uma sensação ruim porque estava preso à ideia de que seria muito difícil iniciar algo novo fora daquele local. Depois de refletir muito, revendo tudo pelo qual já havia passado, conversar com amigos e minha família, cheguei à conclusão de que o melhor era sair. Como resultado, voltei para a empresa e pedi para que eles não ameaçassem e sim executassem a minha demissão. Foi libertador!

A leitura, o estudo, a convivência com novos ciclos de amizade me ensinaram muito. A minha experiência de vida e todos os perrengues pelo qual passei e passo sempre me ensinam. Hoje me prendo a pouquíssimas ideias fixas, e sei, que mesmo estas poucas ideias fixas podem cair aos poucos. Vivo melhor aceitando a fluidez das construções sobre as quais nossas ideias são criadas. Isso me ensinou a entender e respeitar a construção de cada pessoa com a qual eu convivo.

Não é ruim saber que nada é para sempre. Na verdade, é bom porque estamos sempre aprendendo, evoluindo e experimentando boas sensações. Essa talvez seja uma das pílulas vermelhas mais interessantes para se tomar.