A vitória não ensina muito…

O que as nossas vitórias na vida nos ensinaram? Se pararmos um pouco para refletir sobre isso provavelmente vamos chegar à conclusão de que as nossas vitórias nos ensinaram muito pouco, se é que ensinaram alguma coisa.

Voltamos às famosas abstrações criadas por nós para dar significado as nossas vidas. A vitoria é mais uma dessas abstrações. Nós somos criados e educados para ter vitórias na vida. Muito gira ao redor disso, pois precisamos “vencer na vida”. Esse é um dos nossos lemas principais, certo?

O problema são as implicações disso, pois corremos o risco de achar que vencer a qualquer custo seja o meio justo para alcançar o objetivo final. Nos tornamos discípulos de Maquiavel: os fins justificam os meios.

Li um artigo super interessante chamado “O imaginário da derrota no esporte contemporâneo” da Katia Rúbio da USP. La ela revisa a história de atletas olímpicos e como funciona o pensamento deles sobre ganhar medalhas que não as de ouro. Se não for ouro, não interessa para muitos. Esse tipo de pensamento está associado a um dos fatores que levam ao doping, por exemplo.

Nesse fim de semana no torneio Infantil e Pré Cadete de Esgrima em Porto Alegre vi alguns comportamentos de crianças que vão, de certa forma, nessa direção. Não que as crianças não possam ficar aborrecidas com suas derrotas, mas deixar de cumprimentar adversários, usar de artimanhas para atrasar o jogo, são exemplos de atitudes que passam a impressão de que elas precisam ganhar a qualquer custo.

Por outro lado, vi crianças fazendo totalmente diferente, crianças que perderam de cabeça erguida, foram lá resignadas e deram um abraço fraterno no vencedor, no técnico e provavelmente reconheceram que, na quela oportunidade, seu oponente foi melhor.

Mas por que vencer a qualquer custo? Será que aprendemos algo com essas vitórias? Provavelmente vencer a qualquer custo está ligado a nossa construção, como falei anteriormente, ou a expectativas que criamos em nossas crianças, que nós mesmos criamos na gente e muitas outras explicações. Mas o mais grave é que a vitória não ensina nada, não nos faz melhores, não nos muda.

A derrota, por outro lado, sim nos faz melhores. Através da frustração da derrota, pelo sentimento de inferioridade na situação, encontramos o que o Psicólogo Alfred Adler chama de Força Criativa. Essa força criativa é que nos dá o que precisamos para o salto evolutivo. É na derrota, com as frustrações da vida, que encontramos forças para nos tornamos melhores.

No final do primeiro torneio de Sabre do Pedro eu sentei do lado dele e perguntei: você sabe o que significa frustração? Sei, papai, ele disse. Então falei: você está frustrado com o resultado? Ele diss: sim, estou. Então falei: pois fique, entenda o porque da sua frustração e tente melhorar se não quiser se sentir assim de novo.

Hoje a Psicologia como ciência mostra que uma forma poderosa de mudança de comportamento ocorre com a auto-observação. Não adianta dizer: você perdeu por causa disso e daquilo. Funciona mais quando a seguinte reflexão ocorre: você consegue me dizer por que acha que perdeu? O aprendizado é melhor e a resposta mais eficiente.

Ganhar é OK. As vitórias precisam ser celebradas. Mas perder é igualmente importante. Perder com a consciência da derrota, reconhecendo e encontrando as forças para melhorar. Não há tabu na derrota, vamos perder na vida e não há nada que possamos fazer se não aprender e melhorar com isso. Por que não falar abertamente disso? Aprendemos de verdade com as derrotas. Depois, com tempo, maturidade e consciência, as vitórias são naturais… não só no esporte, na vida toda!

Este fim de semana o Pedro me mostrou que Alfred Adler estava certo!

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Autor: André Ferreira

Diretor de Vendas LATAM na LivePerson, Doutor em Ciências, Mestre em Engenharia e MBA em Gestão de Operações pela POLI USP. Estudante de Psicologia.

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