Resultados imediatos

Não estava pensando em falar sobre isso hoje, na real, aconteceram algumas coisas no final de semana que me fizeram mudar a agenda de texto e priorizar esse assunto. No livro Creativity Inc. os autores Ed Catmull e Amy Wallace falam sobre uma frase dita por George Lucas que também é citada em um dos filmes do Star Wars: The journey is often more importante than the destination. Em tradução livre seria algo como: A viagem é normalmente mais importante que o destino. Conversando sobre as situações do fim de semana, o Rodrigo Baldin me lembrou também da música do Aerosmith, Amazing: Life’s a journey, not a destination (A vida é uma jornada, não um destino).

Se pararmos para observar bem as nossas vidas vamos achar uma série de indícios de que estamos muito mais preocupados com o destino do que com a jornada. A nossa educação e os estímulos que recebemos em nosso dia a dia se focam exclusivamente na parada final. Deixamos de nos concentrar no presente e em curtir o que estamos fazendo no momento. Lembram do filme Sociedade dos Poetas Mortos: Carpe diem. Seize the day, boys. Make your lives extraordinary (Seize the day — Aproveitem o dia). O que está rolando com as nossas vidas?

Bom, como falei, somos educados e condicionados a olhar mais para o futuro do que para o presente. Desde cedo, se olharmos para a educação religiosa Cristã tradicional, por exemplo, vemos uma ênfase ao que vai acontecer com a gente quando morrer. Se analisarmos o sistema educacional em si, notamos o foco nas notas de cada ciclo como praticamente única forma de avaliação do aprendizado do aluno. Ao entrar no ambiente de trabalho nos deparamos com as métricas malucas impostas pelo resultado trimestral a qualquer custo e de curto prazo. Sempre o foco no destino, quase nunca no caminho, na jornada.

Faz algum tempo que os Psicólogos procuram trabalhar e mudar o nosso foco para o presente. O Psicólogo Alemão Frederick Perls, por exemplo, põe ênfase no agora e define ansiedade como a lacuna, a tensão entre o “agora” e o “depois”. Para ele, as pessoas que não conseguem viver o agora possuem uma certa neurose. O Psicólogo Americano B.F. Skinner aborda uma outra perspectiva colocando a questão do reforçamento positivo através de estímulos prazeirosos e de curto prazo. No texto O que está de errado com a vida cotidiana no mundo ocidental? Ele mostra como as coisas ficaram mais “fáceis” para nós nos últimos anos gerando estes estímulos de curto prazo. Um exemplo interessante é o do controle remoto. Vocês já repararam que muitas vezes ficamos mais tempo no controle mudando de canal do que assistindo um conteúdo? A simples mudança do canal gera estímulos imediatos. Um mecanismo semelhante a preferência das séries com episódios mais curtos à filmes no dia a dia. Ou a troca, nos estudos, de cursos de graduação de 4 ou 5 anos por cursos super curtos que “formam” uma habilidade específica.

O resultado disso, como Perls colocou, é a galera toda com crises de ansiedade. Mas no livro Flow o Psicólogo Húngaro Mihaly Csikszentmihalyi (já falei sobre ele antes) mostrou alguns caminhos para inverter essa lógica, ou seja, fazer com que trabalhemos e aproveitemos mais a jornada. Com a jornada sendo bem aproveitada e bem feita, o resultado final vem. Ele cita diversos exemplos de pessoas que entram em Flow (esse é o termo que ele usa) como Tenistas, Médicos Cirurgiões, etc. Para mim, a pílula vermelha sobre o imediatismo de resultados veio quando engrenei na musculação. Muita gente me pergunta: você faz 90 minutos de musculação todo dia, como aguenta, é chato, o resultado demora para acontecer? Poisé, parece que entrei em Flow na musculação. Curto cada aparelho, cada movimento, cada conversa com o pessoal da academia. Estar lá me coloca em um estado de constante aproveitamento. O mesmo acontece quando corro e mais recentemente quando treino funcional ou Esgrima.

Isso que aprendi nos exercícios se abriu em outras partes da minha vida. No meu trabalho, quando curto cada atividade que estou fazendo, cada conversa com pares, clientes e parceiros. Nos estudos, em cada aula, livro ou conversas com a turma. Com minhas relações interpessoais, quando procuro olhar no olho das pessoas e prestar atenção a cada palavra que elas dizem, principalmente minha mulher e filho. O que vai acontecer no futuro como consequência de tudo isso me interessa muito menos do que o que estou aproveitando a cada momento fazendo estas coisas todas. Carpe diem.

Avatar de Desconhecido

Autor: André Ferreira

Diretor de Vendas LATAM na LivePerson, Doutor em Ciências, Mestre em Engenharia e MBA em Gestão de Operações pela POLI USP. Estudante de Psicologia.

Deixe um comentário